Terapia ocupacional para autistas: entenda a importância


Postado por Autismo em Dia em 10/mar/2022 - 28 Comentários

Você já se perguntou o porquê de a terapia ocupacional ter tanta importância para as crianças autistas? Não é à toa que essa terapia é indicada por quase todos os neuropediatras quando existe a suspeita ou o diagnóstico de autismo. Afinal, as crianças autistas tendem a apresentar padrões de processamento sensorial significativamente diferentes das crianças que não estão no espectro.

Estima-se que 60% a 70% das crianças autistas apresentam distúrbios de modulação/processamento sensorial. Estudos mostraram ainda que autistas podem perceber as entradas provenientes de seus sentidos de forma mais lenta. Isso torna a velocidade de processamento mais lenta por consequência. O fato pode ainda explicar de alguma forma por que as crianças autistas costumam estar sujeitas a “colapsos” (crises de meltdown).

As crianças autistas com alterações sensoriais não têm os “filtros” apropriados para processar informações irrelevantes. Isso pode causar colapso à medida que cada entrada é construída e reconstruída sem ser filtrada adequadamente. Eles podem ainda estar processando, por exemplo, o ruído anterior no corredor ao mesmo tempo em que tentam lidar com novos estímulos como a entrada do professor e colegas na sala de aula. A sobrecarga sensorial pode se apresentar de várias maneiras, como comportamento desafiador, de evitação e desligamento completo (crise shutdown). 

Há, no entanto, uma série de estratégias simples que podem ser usadas em casa ou na sala de aula para adicionar efetivamente os filtros sensoriais que essas crianças geralmente precisam. Os terapeutas ocupacionais são fundamentais para esta intervenção. Adicionar os filtros e fazer intervenções corretas para atingir cada sistema sensorial, ajuda o sistema nervoso da criança a se tornar mais organizado/regulado e, portanto, auxilia a criança com atenção e desempenho de atividades. 

Índice

O que é terapia ocupacional (TO)?

Fonte: Envato – Foto de Bia Lasiewicz

Os terapeutas ocupacionais trabalham para promover, manter e desenvolver as habilidades necessárias para que os pacientes sejam funcionais no ambiente escolar e também em seu dia a dia. O objetivo do tratamento é promover: 

  • mais autonomia;
  • maior autoestima;
  • elevação da autoconfiança; 
  • autorregulação;
  • maior interação social. 

Os terapeutas ocupacionais levam em conta as habilidades e necessidades físicas, sociais, emocionais, sensoriais e cognitivas dos seus pacientes.

No caso do autismo, um terapeuta ocupacional trabalha para desenvolver habilidades de caligrafia, habilidades motoras finas e habilidades diárias da rotina. É claro que esse tipo de habilidade muitas vezes contempla mais os autistas de nível I e II. No entanto, ela também é fundamental para aqueles que estão no nível III do espectro. Isso porque auxilia também no desenvolvimento de habilidades mais básicas. Um exemplo disso é alimentar-se e ir ao banheiro sozinho, o que promove mais autonomia.

Além disso, pode-se dizer que o papel fundamental desse tipo de terapia é avaliar e direcionar os déficits de processamento sensorial da criança. Isso é benéfico para remover as barreiras que levam ao aprendizado e ajudar os autistas a se tornarem mais calmos e focados.

Os TOs que trabalham com crianças que têm um distúrbio de processamento sensorial, geralmente têm treinamento de pós-graduação em integração sensorial.

A terapia de integração sensorial baseia-se na suposição de que a criança é “super estimulada” ou “sub estimulada” pelo ambiente. Portanto, o objetivo da terapia de integração sensorial é melhorar a capacidade do cérebro de processar informações sensoriais. Dessa forma, é possível que a criança funcione melhor em suas atividades diárias.

Os pais dessas crianças costumam receber orientações do terapeuta ocupacional sobre a importância de o autista seguir uma dieta/estilo de vida que beneficie o processamento sensorial.

O que é uma dieta/estilo de vida que beneficia o processamento sensorial?

A maioria de nós aprende inconscientemente a combinar nossos sentidos (visão, audição, olfato, tato, paladar, equilíbrio, corpo no espaço), a fim de dar sentido ao nosso ambiente. Cada criança terá um conjunto único de necessidades sensoriais e essas serão alteradas dependendo do humor, do ambiente e da intervenção terapêutica. 

Uma dieta/estilo de vida sensorial é um plano de atividades diárias especialmente projetado para as necessidades em particular daquela criança. Ele visa incluir atividades sensoriais ao longo do dia, a fim de melhorar o foco, a atenção e promover a regulação sensorial da criança. Assim como o corpo precisa de uma alimentação correta e dividida em diferentes refeições, o corpo precisa de atividades específicas para manter seu nível de estimulação ideal.

Uma dieta/estilo de vida sensorial ajuda o sistema nervoso a se organizar melhor e, portanto, auxilia a atenção e o desempenho da criança. Apenas o terapeuta ocupacional qualificado pode usar suas habilidades avançadas de treinamento e avaliação para desenvolver uma dieta sensorial eficaz para o paciente implementar no dia a dia. 

Que questões uma dieta/estilo de vida sensorial visa melhorar?

Alguns dos efeitos de uma dieta sensorial podem ser imediatos, enquanto outros requerem mais tempo para surgir. Veja o que esses hábitos visam promover:

  • Auxiliam a reestruturar o sistema nervoso do autista ao longo do tempo para ajudar a tolerar sensações e situações que ele considera desafiadoras/distrativas.
  • Ajudam a criança a regular seu estado de alerta e aumentar a capacidade de atenção.
  • Eles limitam a busca sensorial e os comportamentos de evitação sensorial para que o autista possa lidar com as transições sensoriais com menos estresse.

Isso permite que a criança se concentre na tarefa que precisa realizar, em vez de, por exemplo, se distrair com estímulos como a etiqueta da camisa esfregando no pescoço ou o cheiro do creme para as mãos, um barulho do lado de fora ou esbarrar no corredor.

Uma pessoa com transtorno de processamento sensorial tem dificuldade em processar e agir de acordo com as informações recebidas pelos sentidos. Isso resulta em desafios na realização das tarefas cotidianas. Pode, ainda, levar a dificuldades de coordenação motora, problemas comportamentais, ansiedade, depressão, baixo desempenho escolar, etc. Apesar disso tudo, é sempre bom ressaltar que o tratamento adequado pode evitar essas consequências indesejadas.

Como isso funciona na prática?

Fonte: Envato – Foto de Bia Lasiewicz

Os terapeutas ocupacionais muitas vezes recomendam começar o dia com um circuito sensorial: um programa de atividades que ajudam as crianças a alcançar um estado “pronto para aprender”. Os circuitos sensoriais são uma série de atividades projetadas especificamente para despertar todos os sentidos. Eles são uma ótima maneira de energizar ou acalmar as crianças no dia a dia. É claro que isso depende das necessidades de cada um, no entanto, vamos dar alguns exemplos que podem ser indicados: 

  • Atividades de alerta, como girar, pular em uma bola de ginástica, pular sozinho com os pés, para estimular o sistema nervoso central do corpo em preparação para o aprendizado.
  • Organizar atividades que exijam que o cérebro e o corpo trabalhem juntos, como, por exemplo, equilibrar-se em uma prancha oscilante, rolar troncos, malabarismo etc.
  • Atividades calmantes (trabalho muscular pesado e pressão profunda, por exemplo, empurrões na parede, flexões, uso de pesos) para dar uma consciência de seu corpo no espaço e aumentar a capacidade de autorregulação da entrada sensorial.

Está comprovado que a intervenção da terapia ocupacional tem impacto na melhoria da comunicação, habilidades de interação e habilidades motoras. Isso vale até mesmo para os autistas de nível II e III, casos geralmente considerados mais complexos.

10 dicas simples para auxiliar na regulação sensorial na escola

  1. Para a criança que está sobrecarregada pelo barulho excessivo, tente oferecer protetores auriculares ou permita que ela use fones de ouvido enquanto se concentra em atividades específicas.
  2. Quando a criança fica agitada pelo toque, peça aos professores para que permitam que ela fique na frente ou no final da fila para evitar ser esbarrada. Peça também para que os professores permitam que ela faça a troca de sala, quando necessário, alguns minutos antes dos outros alunos, para evitar colisões no corredor.
  3. Para a criança que não fica muito tempo parada, inclua intervalos regulares nas atividades para que ela possa se movimentar. Além disso, não repreenda as estereotipias, como, por exemplo, o agitar das mãos e pernas, pois essa é uma estratégia de autorregulação.
  4. Quando a criança se incomoda com as costuras e etiquetas das roupas, é válido experimentar roupas de lycra e outros tecidos mais leves, disponíveis principalmente nas lojas de esportes. Além disso, remover as etiquetas pode ajudar.
  5. Quanto a criança tem sensibilidade à luz, você pode solicitar permissão para que ela use óculos de sol na sala de aula. Outra coisa importante é adquirir cadernos de papel reciclável. Isso porque o branco reflete muito a luz, e o papel mais escuro é menos estressante para os olhos.
  6. Se a criança fica sobrecarregada pelos cheiros, uma forma de mascarar isso é usar uma faixa ou pingar uma gota de óleo essencial, xampu, loção pós-barba ou qualquer outro aroma suave e que ela goste na própria camisa. Isso pode mascarar o cheiro que eles acham desconfortável, se tornando uma boa saída.
  7. A brincadeira com a comida deve ser incentivada para as crianças com dieta limitada. Não deve haver pressão sobre a criança, muito menos na hora das refeições. 
  8. O uso de uma sala/espaço calmo e tranquilo dentro das salas de aula e em casa é essencial para a autorregulação. Isso pode ser ainda mais efetivo se nesse espaço a criança tiver acesso a alguns brinquedos sensoriais.
  9. Para as crianças que tendem a mastigar objetos, ofereça alternativas como mastigadores próprios para esse fim, sempre supervisionando a higiene desses objetos e das mãos da criança. 
  10. Por fim, para as crianças que não gostam de escovar os dentes, experimente creme dental sem sabor ou de sabor mais suave possível.

As crianças ganham muito no quesito regulação, após a intervenção da terapia ocupacional, que, em conjunto com outras terapias de apoio, reduz a ansiedade e aumenta as oportunidades dessas crianças se desenvolverem no âmbito escolar e pessoal.

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Obrigado pela leitura, e até logo!


O texto que você acabou de ler foi inspirado e adaptado do artigo “Why is occupational therapy important for autistic children?” publicado no portal “National Autistic Society“, escrito por Corinna Laurie, especialista em consultoria de terapia ocupacional na NAS Helen Allison School e diretora da Evolve Children’s Therapy Services.


 

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28 respostas para “Terapia ocupacional para autistas: entenda a importância”

  1. AMA-Barreiras disse:

    Olá, gostaria de entrar em contato com os administradores deste site para incluir nas referencias de terapias da Bahia, a AMA-Barreiras, que fica localizada no oeste da Bahia. Aqui nós oferecemos acompanhamento com profissionais de psicopedagogia, nutrição, fisioterapia, assistência social e psicologia.

  2. Nonata Carvalho disse:

    Bom dia!
    Gosto muito dessas publicações eclarecedoras! . Sou avó de autista , ele tem 13 anos e atualmente não quer mais frequentar terapia, não aceita o mediador na sala de aula, diz que não precisa porque não é autista. també se recusa a comparecer às consultas com psicologo, psiquiatra! Sou profa. aposentada, mas fiz Especialização de Educação Especial, on line, para conhecer o assunto e ajudar meu neto.
    Ja tentei convence-lo a retornar às terapias, entretanto não consegui.
    A diretora da escola disse que nunca houve caso de auluno autista que passa a negar sua condição de autista. Se puder me orientar, agradeço!

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Nonata!
      O melhor a se fazer nesses casos é conversar com os terapeutas sobre o que está acontecendo, para que vocês possam juntos encontrar uma forma de mantê-lo em tratamento. A adolescência é uma fase desafiadora para todos, não é diferente para os autista, mas os desafios podem ser diferentes. Tentem negociar com ele o acompanhamento de alguma forma, talvez ele se sinta constrangido com o acompanhamento na escola por conta dos demais alunos, mas os terapeutas podem encontrar outras formas de ajudá-lo.
      Esperamos que encontrem uma boa solução.
      Um abraço.

  3. Ricardo Vaz Bentes disse:

    Olá! sou um pai com o filho diagnosticado recente. vivo em busca de resposta pra ter um melhor desempenho na vida diária de meu filho. Obrigado pelo apoio.

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Ricardo! Obrigado por seu comentário.
      Ficamos felizes em saber que você tem ajudado o seu filho buscando respostas. Isso é muito valioso.
      Um abraço carinhoso do Autismo em Dia para vocês.

  4. FRANCIONILDE FERRAZ disse:

    Boa tarde gostei do texto

  5. Cicera Naudiana Cordeiro Diniz Moreno disse:

    Amei essa página. Muito bom para quem está com um diagnóstico recente ajuda bastante.

  6. Osvaldo Pascoal disse:

    Parabéns! conteúdo muito rico, estou bastante impressionado pela maneira sabia com que tudo faz reamente sentido. é ciência compartilhada.
    Obrigado

  7. Wilza Maria Amaral disse:

    gostei muito dessa matéria..sou Terapeuta Ocupacional TB . obrigada

  8. Marcia Sousa disse:

    Muita boa essa matéria. Gostei! Também sou Terapeuta Ocupacional. Obrigada!

  9. Neide disse:

    Que material esplêndido! Eu sou mãe de autista 7 anos, estou finalizando minha segunda graduação em Pedagogia e Pós em psicopedagogia, Educação Especial e Autismo. Já inicio a Graduação de TO pra ajudar meu filho e as famílias Autistas do CIA – centro de integração dos Autistas de Ipatinga MG.
    Foi muito esclarecedor a importância da Terapia ocupacional para os autistas.

  10. RAIMUNDA FARIAS DE SOUZA disse:

    excelente texto, meu filho foi diagnosticando com TEA e TDAH. Estou em busca de conhecer melhor as terapias que vai precisar fazer para se desenvolver melhor.
    Obrigada por esse conhecimento.

  11. Raquel Alves disse:

    boa noite
    gostaria muito de todas essas informações
    Estou fazendo pós graduação em Autismo e ABA analise comportamento

  12. Adriana ferreira disse:

    Olá meu filho é um Jovem autista de 17 anos , ele não sabe amarrar um cadarço , fechar um pacote de bisnaguinha por ex : tem uma certa dificuldade de cortar de garfo e faca , dobrar uma roupa ou um cobertor , qual a terapia mais indicada , e se ainda tem jeito pra aprender , ele é inteligentíssimo , está no último ano do ensino médio e do curso técnico de Ti , fala inglês fluente , fáz curso de mangá , desenha muito bem , mais não consegue fazer coisas básicas como as que eu citei ..socorro preciso ajudá lo

    • Autismo em Dia disse:

      Olá! A terapia mais indicada para ajudar a realizar tarefas do dia a dia é a terapia ocupacional. Mas é sempre bom combinar o tratamento com a terapia cognitivo comportamental, análise do comportamento ou ABA. Indicamos procurar uma clinica de tratamentos multidisplinares e dar preferência a profissionais especilizados em autismo.

  13. Joselita Maria dos Santos disse:

    gostei muito da matéria meu neto tem 18 anos e sempre tivemos dificuldade para que ele tenha um tratamento para se de devolver melhor. eu moro em Pernambuco Jaboatão dos quararapes . e não termos condições de ir atrás desses lugares teria que ter a carteirinha dele anda no ônibus gratuito a mãe dele não trabalha ,eu ajudava mais não estou trabalhando há mais de 4 anos estou com problema de saúde não tenho nenhum benefício Nei meu neto também. vocês pode nós ajudar em relação ao meu neto Pedro.

  14. Joselita Maria dos Santos disse:

    ele tem crise desde de pequeno aos 3 anos que descobrimos esse problema dele . ele estuda mais não gosta de muita conversa Nei de barulho tem dificuldade em comer os alimentos que descer bom para ele. ele está terminando o ensino fundamental este ano e queremos que ele fizesse um curso para poder entra no mercado de trabalho com às condições dele. ele gosta de desenha e gostaria de fazer um curso de desane. Será que é possível ajudar a ele?

  15. Graça rufino disse:

    tenho uma sobrinha com autismo ela tem 26 anos de idade com idade mental de 8 anos ,ela n consegue absorver conhecimentos na escola um mediador acompanha ela na sala de aula , gostaria de ensinar a fazer cálculos matematicos ,vcs sugerem algum material ou dicas de como ajudar nesse assunto,a terapeuta ocupacional poderia ajudar ? aguardo respostas.

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Graça. É possível solicitar apoio aos terapeutas, caso ela faça algum tipo de terapia. Indicamos conversar com os responsáveis para fazer esse intermédio.

  16. Lilian Rodrigues b taveira disse:

    legal ♥️♥️♥️♥️

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