Qual é o papel da regulação emocional no TEA?


Postado por Autismo em Dia em 26/jan/2024 - 2 Comentários

A regulação emocional é um assunto que vem sendo bastante estudado nos últimos anos. E relacionar esse tema com autismo é fundamental, já que pessoas no espectro costumam ter dificuldades ligadas a respostas emocionais que envolvem um déficit na forma de perceber o entorno e de interagir com o outro.

Uma das definições de regulação emocional é a habilidade de aprendermos a lidar com as emoções, levando em conta sua intensidade e a resposta que vamos ter quando for ativada uma determinada emoção.

E essa habilidade de lidar com cada uma é o que vai fazer que a gente consiga interagir de forma saudável com as pessoas e o meio, com reflexos na forma que iremos nos sentir nessa interação.

Porém, cada pessoa tem o seu processo de regulação emocional. No geral, conseguimos avaliar bem o contexto para alinhar como vamos expressar nossas emoções. No entanto, pessoas autistas apresentam um prejuízo na maneira de regular suas emoções. 

Ao longo do texto, iremos entender quais intervenções podem ajudar no processo de amadurecimento emocional.

Regulação emocional e autismo

Fonte: Envato/ LightFieldStudios

Índice

Regulação emocional e autismo

Os mecanismos mais comuns que podem contribuir para a baixa resposta emocional no TEA podem estar presentes em outras condições clínicas. Por exemplo: excitação fisiológica, grau de afeto negativo e positivo, alterações na amígdala e no córtex pré-frontal.

Já outros mecanismos podem ser próprios do autismo, tal como as diferenças na forma de perceber e processar informações, questões cognitivas (rigidez, por exemplo), menos comportamentos direcionados a objetos e mais emoções desorganizadas.¹

Quanto maior for a desregulação emocional, maior será a emissão de comportamentos repetitivos. Isso porque esses comportamentos têm a função de regular as emoções.

Portanto, os comportamentos repetitivos são importantes aliados, mas é necessário que se desenvolvam outras habilidades para aumentar o repertório de comportamentos que irão auxiliar no processo de aprendizado para melhorar a regulação emocional.

Terapias e intervenções

As terapias mais recomendadas para desenvolver essas habilidades são: a terapia comportamental com ABA para crianças, já para jovens e adultos, recomenda-se a terapia cognitivo-comportamental. Também recomenda-se terapia ocupacional para alguns casos.

  • Terapia ABA: auxilia no desenvolvimento de comportamentos para melhorar a comunicação e consequentemente ajuda no processo de interação com as pessoas;
  • Terapia cognitivo-comportamental: através da relação terapeuta – paciente e utilizando técnicas da TCC, jovens e adultos podem aprender sobre como funcionam as suas emoções e pensamentos, de fato, a fim de desenvolver uma forma mais adequada de comunicar o que precisa, que seja mais funcional;
  • Terapia ocupacional: essa modalidade de terapia tem um papel importante no desenvolvimento da regulação emocional, já que utiliza técnicas para trabalhar aspectos relacionados às atividades da vida diária, atividades da vida escolar e vai ensinar brincadeiras importantes para ajudar a criança no dia a dia com situações básicas do cotidiano.

Fonte: Envato/Powerofphotos

A Atividade Física como recurso

Outra alternativa que vem ganhando cada vez mais foco é atividade física. Os exercícios regulares podem ajudar a melhorar alguns aspectos motores e emocionais de pessoas autistas. ²

Para muitos autistas, certas atividades podem ser incômodas do ponto de vista social, principalmente quando elas são praticadas em grupo. Nesses casos, é possível encontrar alternativas que possam ser praticadas em uma única pessoa.

No entanto, há um desafio igualmente limitante que é quando a criança tem alguma comorbidade relacionada às questões motoras, como déficits no equilíbrio ou na coordenação de movimentos. Imagine o quão complicado deve ser o dia a dia de uma criança que não consegue realizar uma atividade básica como: segurar uma colher, amarrar os cadarços ou andar de bicicleta e ainda não conseguir verbalizar sua necessidade.

No entanto, devemos enxergar a insistência na atividade física como uma busca por soluções. A prática dessas atividades contribui, sem dúvida, para o desenvolvimento motor. Logo, irá tornar a rotina da criança mais fácil em alguns aspectos, deixando ela menos suscetível a uma crise de desregulação emocional.

Em 2020, foi publicada uma pesquisa com 27 crianças de 8 a 12 anos direcionada para um grupo de intervenção com exercícios (15 crianças) ou um grupo de controle (12 crianças), no Journal of Autism and Developmental Disorders. O grupo de intervenção recebeu aula de corrida por 12 semanas. Os pais das crianças preencheram a lista de verificação de regulação emocional e a lista de verificação de comportamento infantil pré e pós – intervenção. O grupo da intervenção demonstrou melhora significativa na regulação emocional e redução de problemas comportamentais

Fonte: Envato/NomadSoul1

Por que desenvolver a regulação emocional?

O fato é que, quanto maior for a dificuldade com as emoções, maiores serão os prejuízos.

Uma pessoa desregulada emocionalmente vai ter dificuldade em melhorar aspectos relacionados à atenção, comunicação, resolução de problemas e nas habilidades sociais

Indo ainda mais fundo no problema, a regulação emocional está por trás de problemas emocionais mais graves. Uma pessoa que não trata esse aspecto pode ter prejuízos para si que também impactam as pessoas mais próximas. Estamos falando, na prática, de quadros graves de agressividade, ansiedade, depressão e até ideação suicida.

Portanto, as terapias para autismo exercem uma importância que vai além do que está sendo diretamente trabalhado. Por isso, não deixe de procurar ajuda profissional em qualquer sinal de alerta no desenvolvimento do seu filho. Quanto antes iniciarem investigações e as intervenções, melhores serão os resultados para a vida da pessoa.

Como trabalhar em casa a habilidade de regulação emocional?

Falamos da importância de investir em terapias direcionadas para desenvolver a capacidade de um indivíduo regular suas próprias emoções. Mas o que mais pode ser feito em casa, no dia a dia, que vai ser efetivo e pode beneficiar toda a família?

Existem atividades muito simples que trabalham atenção, foco, interação e melhoram questões sensoriais, são elas:

  • Atividades com tinta: o contato com as cores e a possibilidade de criar desenhos e formas, ajuda a aliviar tensão;
  • Garrafas e brinquedos sensoriais: o uso de materiais com textura, cores ou formas pode ajudar a desenvolver os sentidos, melhorando dificuldades sensoriais. Criar brinquedos com objetos que você tenha em casa, como garrafas com pedrinhas e corante, é simples, lúdico e benéfico.
  • Brincadeiras funcionais: utilizar brincadeiras que auxiliam em dificuldades motoras, de concentração ou de interação ajuda na aquisição de repertório que vai se estender para outros ambientes, evitando possível crises de desregulação emocional.

***

Todos estamos propensos às questões emocionais, mas muitos autistas não desenvolvem os mecanismos de defesa da mesma maneira que pessoas neurotípicas. Os cuidados acima dependem de atenção, alerta, empatia e ajuda profissional. Por isso, este artigo precisa chegar em mais pessoas. Compartilhe os aprendizados com seus amigos e familiares e, depois, continue navegando em nosso Blog. Aproveite para acessar nossos materiais gratuitos para download e siga o Autismo em Dia nas redes sociais.

Referências

1- Science Direct – Acesso em 12/07/2023

2- Springer – Acesso em 12/07/2023

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

2 respostas para “Qual é o papel da regulação emocional no TEA?”

  1. Franklin disse:

    Excelente artigo! Tenho o autismo nível 1 como uma das partes de quem sou. Tenho minhas lutas emocionais. O que me ajuda a regular as emoções são:

    * Leitura da Bíblia e oração
    * Interagir com amigos, irmãos e irmãs da Igreja
    * Exercícios físicos
    *Artes (desenhos, pinturas, esculturas, escrita, etc.)
    *Técnicas aprendidas da Terapia Cognitivo comportamental como questionamento socrático
    * Conversar com pessoas amadas

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Franklin… que bom que gostou do nosso texto. Continue fazendo o que te ajuda a regular as emoções, esse é o caminho 💙

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