Autismo e bullying: como ajudar a criança a lidar?


autismo e bullying

Postado por Autismo em Dia em 16/ago/2021 - 3 Comentários

Ofender, humilhar, agredir, xingar, menosprezar, ridicularizar… tudo isso pode entrar na definição do que é fazer bullying. Infelizmente, autismo e bullying são duas coisas que andam juntas. E com uma frequência maior do que a gente gostaria de relatar. Crianças e adolescentes que estão no espectro têm, na maioria dos casos, algum tipo de comportamento que não está alinhado ao que praticam os neurotípicos. E isso, de fato, chama atenção de pessoas: das boas às mal intencionadas. ¹

A reação e a interpretação da criança autista sobre determinada agressão – seja ela física ou verbal – depende muito, também, da idade e de qual o grau do autismo. Algumas crianças podem demorar a perceber que o ataque não é engraçado como, em geral, o agressor tenta fazer parecer. Em diversas entrevistas que nós já fizemos com pais e mães de autistas, quase sempre existe uma história de bullying no meio da conversa. E a dor, muitas vezes, passa da criança para os próprios pais.

Hoje, nós vamos te dar dicas de como preparar a criança e o adolescente autista a lidar com o bullying. O ideal é que a gente pudesse transformar a sociedade e deixá-la livre de tudo isso. Porém, enquanto isso não acontece, temos que dar suporte a quem está no espectro para que as consequências do bullying não virem um fardo.

bullying e autismo

Fonte: Envato – seventyfourimages

Índice

1 – Converse com a criança

Como nós dissemos, a criança ou adolescente autista pode interpretar a ação do agressor de uma forma amigável. Mas, independente se o seu filho entende ou não, o fato é que você, como responsável, entende e sabe que aquilo não está certo. Portanto, existe um lugar de onde você pode começar: a conversa.

Cabe aos pais, avós, professores e quem mais lide com autistas falarem, numa linguagem que seja compreensível, quem é e o que faz um “bullie”. A criança pode até não saber se comunicar, mas ela pode ser capaz de entender, de fato, qual comportamento é adequado e qual não é. Até para que ela mesma não replique o que ela vê por aí.

Além disso, as crianças e adolescentes precisam sentir que, em você, existe um espaço seguro para contar o que está acontecendo na escola. Incentive-os a expressar coisas boas e ruins que venham ocorrendo. ²

2 – Crie a cultura da tolerância nas crianças ao redor

Seja você pai, mãe ou professor, sempre há contato com outras crianças. Então é, de certa forma, responsabilidade de todos falar com outras crianças sobre tolerância. Pode ser um primo, um irmão, um vizinho… Todos precisam saber que nenhuma forma de intimidação é aceitável. É totalmente possível criar um ambiente onde as regras sejam favoráveis a todos. As demais pessoas precisam entender quais são as consequências físicas e emocionais de certas atitudes.

Nem sempre uma fala ruim vai ser dita na tentativa de ser agressiva. Às vezes é uma coisa que está enraizada na cultura do outro que ele diz sem perceber. Ainda assim, essa fala aparentemente inocente atinge alguém.

Se você for professor ou professora, coloque a tolerância como uma pauta importante em suas aulas. Abasteça as crianças de bons exemplos com palestras, atividades inclusivas e o que mais for atrativo para a turma. ²

pai conversando com o filho

Fonte: Envato – nexusplexus

3 – Aumente a conscientização também entre os adultos

Reeducar adultos pode ser desafiador, afinal, são pessoas com ideias muito bem formadas sobre as coisas. E, muitas vezes, a agressão começa com pessoas mais velhas. Em geral, o bullying entre um adulto e um autista é mais sutil. Está num olhar torto, numa fala capacitista, naquele ato de separar uma criança neurotípica de uma neurodiversa…

Na maioria dos casos, isto acontece por pura falta de conhecimento. Como parente de autista, você pode ajudar a educar essas pessoas e mostrar a elas o que fazer e o que não fazer na sua presença.

Se por um lado muitos pais nos relataram histórias tristes, por outro, muitos também já relataram como suas atitudes ajudaram a mudar a visão de outras pessoas sobre o autismo. Isso precisa acontecer na sua rua, no seu prédio, no seu trabalho, na sua comunidade religiosa, no comércio e em todo lugar onde você e sua família frequentam. ²

4 – Incentive a criança a se defender através da autorepresentação

Autismo e bullying também pode ter solução na autodefesa. Mas autodefesa é algo diferente de ter uma resposta agressiva. Você nunca vai poder estar 100% do tempo com a criança. Por isso, ela precisa ter um plano de ação baseada nas suas melhores habilidades. A criança ofendida, depois de reconhecer a ofensa, precisa, assim, praticar a autorepresentação.

Autorepresentação é um termo para quando alguém aprende a falar por si mesmo, a tomar as próprias decisões levando em conta: ³

  • Quais são, de fato, seus interesses? O ponto levantado pelo agressor como motivo da agressão, faz parte de quem aquela criança é ou gosta de ser?
  • Quem faz parte da sua rede de apoio, assim como melhores amigos, família etc.
  • Quais são os direitos e os deveres. Por exemplo, se alguém faz algo com seu filho na escola, ele tem direito de sinalizar ao adulto mais próximo, mas tem o dever de não revidar com violência.

Ensinar seu filho ou filha a ignorar a situação nem sempre é a melhor saída. Os agressores normalmente são pessoas com quem a criança precisa conviver. É muito difícil ignorar, por exemplo, se o agressor senta na cadeira ao lado. Além disso, os bullies sabem que a atitude de ignorar também é uma forma de resistência, ou seja, eles sabem que estão incomodando e, por isso, vão incomodar mais.

escolha autismo bullying

Fonte: Envato – KostiantynVoitenko

5 – Proteja-se através das Leis

No Brasil, existem duas Leis Federais de combate ao bullying. Uma delas é a Lei 13.185, de 2015. Essa norma criou o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, que acabou ficando conhecida como a “Lei do Bullying”. Na prática, esse programa obriga os estados a publicarem, a cada dois meses, relatórios de ocorrências de bullying nas escolas estaduais e municipais. 4,5

Posteriormente, em 2018, saiu a Lei 13.663, que veio para ajudar as estatísticas criadas a diminuírem. Assim, essa segunda lei exige que todas as escolas criem formas de conscientização do bullying. 4,6

Ou seja, se a escola do seu filho até se posiciona contra as atitudes ruins, mas ainda não está promovendo amplamente isso, você pode conversar com a direção sobre o assunto.

6 – Denuncie o bullying

Muitas pessoas veem as agressões, mas preferem não se envolver. Provavelmente porque isso envolveria falar com as famílias e/ou com a direção da escola. Ou então por ser o próprio pai ou mãe da criança que está praticando o bullying contra o autista. ¹

Mas o bullying é, em suma, uma violação dos direitos dos indivíduos. Todos nós precisamos falar para os responsáveis sobre o que está acontecendo. Relate com seriedade o que você viu para que ninguém pense que você é só um pai ou uma mãe “brigando” apenas pelo filho. Além disso, em algumas esferas só um adulto pode agir pela defesa do autista ou de qualquer outra criança. ¹

mãe conversando coma filha

Fonte: Envato – Pressmaster

Bullying e autismo – como os pais devem falar com os filhos

Uma das características mais marcantes de quem sofre bullying é pensar que, mesmo se contar a um adulto, nada vai mudar. Por isso, a criança precisa sentir que se comunicar com você é algo efetivo e seguro. Mas, ao mesmo tempo, você, como responsável, precisa saber como agir para saber o que, de fato, está acontecendo e como a criança ou adolescente se sente.

Ao abordar o assunto: 7

  • Comece com perguntas amplas e abertas sobre o ambiente da criança. Experimente, por exemplo, “como foi hoje no ônibus que te levou para a escola?” ou “Como foi a aula de educação física hoje?”.
  • Antes de falar sobre a própria criança, aborde o assunto da maldade. Pergunte, então, se ela por acaso viu alguém sendo mau com outra criança na corrida de ônibus ou na educação física.
  • Em seguida, se a criança já entender o conceito de bondade e maldade, pergunte se alguém já foi mau com ela em algum momento.
  • Se você sentir que a criança está se abrindo, tente chegar a respostas sobre, por exemplo, o que ela sentiu em relação à maldade e qual era o perfil do agressor. Em geral, agressores desse tipo buscam exercer algum tipo de superioridade que pode ser mais força, mais beleza, mais inteligência, mais influência ou, no caso do autista, mais “normal”.

O bullying está fora do nosso controle e ele pode ser ainda pior quando a gente inclui o autismo. E ele acontece em todos os lugares, em todas as escolas. Inclusive, existe um movimento que tenta normalizar isso com a defesa de que no passado todo mundo sofria e todo mundo ficou bem. O que não é verdade. As consequências, na maioria, são silenciosas e causam traumas muito difíceis de serem curados.

Cabe a todos nós lutar contra isso.

Autismo em Dia – contra o bullying, a favor do autista

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Até a próxima!

Referências Bibliográficas e a data de acesso:

1. Significados – 12/07/2021

2. Autism Speaks – 12/07/2021

3. Parent Center Hub – 12/07/2021

4. Portal Administradores – 12/07/2021

5. Planalto – 12/07/2021

6. Planalto – 12/07/2021

7. Bully Free World – 12/07/2021

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3 respostas para “Autismo e bullying: como ajudar a criança a lidar?”

  1. Márcia Pereira de Carvalho disse:

    Olá estou passando por isso com meu filho adolescente a escola não apoia ele direção nem supervisora simplesmente fala que tem conviver com isso que ele que está com mania de perseguição meu filho já sofreu tudo tipo de bullying na escola vou atraz eles não toma providências não chamam os pais dos demais alunos pra conversar absurdo

  2. victoria disse:

    isso e bom
    ❤❤❤

    ❤❤❤

    ❤❤❤

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