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Postado por Autismo em Dia em 16/jun/2022 - Sem Comentários
Se você já acompanha o Autismo em Dia, provavelmente já sabe como o nosso conteúdo é feito com carinho e seriedade. Logo, a gente recebe todos os dias histórias sobre como nossos materiais tem ajudado famílias por todo o Brasil. O que a gente não esperava, era que, enquanto a gente se dedicava para levar informação até você, tinha uma mãe de autista tão próxima sendo impactada pelo nosso trabalho.
A farmacêutica Graciléia Cantanhêde é uma das colaboradoras da Supera RX, empresa que idealizou este blog. Ela é mãe do Heitor, um autista de 6 anos diagnosticado com um grau leve de TEA. A moradora de Pouso Alegre, município de Minas Gerais, viveu uma trajetória emocionante desde que seu filho recebeu o laudo. Porém, o Autismo em Dia, a sociedade e muitos outros fatores tiveram papéis importantes nessa história.
Quer saber como foi isso? Então, continue a leitura com a gente!
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Não faz muito tempo, Graciléia recebeu uma proposta do trabalho de mudar de Aparecida de Goiânia, onde ela residia com o esposo e o filho, para Pouso Alegre. E eles encararam o desafio. Porém, na época, Heitor ainda era muito pequeno e sequer tinha começado a frequentar a escola. E foi, portanto, na nova cidade que a mãe o matriculou.
Durante vários meses, Graciléia era chamada com frequência pela escola para falar do comportamento do filho. Heitor apresentava problemas de socialização, não gostava de brincar durante o intervalo, entre outras coisas. No final do primeiro ano letivo, ela o esposo foram convidados para uma reunião mais séria e individual. A equipe da escola orientou que o casal buscasse ajuda profissional, já que consideravam o comportamento dele bem diferente das outras crianças, tanto socialmente quanto intelectualmente.
“Foi um desespero, inicialmente. Nós não sabíamos lidar, porque a gente achou que era só por conta da mudança de cidade. Mas, na verdade, era o sinal que a gente estava precisando. Porque, como mãe, eu já sentia que tinha algo diferente por conhecer ele e conviver com outras crianças na família. Mas a gente esperou esse momento de ele ir para a escola para ter certeza”.
Graciléia conta, ainda, que ela sentiu que a casa tinha caído, mas que ela sabia que tinha que agir. Depois de passarem por uma série de profissionais, Heitor finalmente teve seu diagnóstico, aos 4 anos.
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Em relação ao luto do autismo, Graciléia revisita esse momento em sua memória como um período angustiante. As mudanças fora radicais na vida da família e incluíram modificações na rotina de trabalho e a frequência em terapias diversas como intervenção no autismo.
“A minha vida, de fato, mudou. Até antes do diagnóstico, a gente tinha uma visão dele. Quando ele foi diagnosticado, tudo mudou. Até o nosso olhar sobre ele. E parece que todas as crises, todas as estereotipias e questões sociais floresceram naquele momento, parece que veio tudo de uma vez. Mas a gente foi à luta. E, nesse momento, não demorou muito para a gente ver a evolução dele.
Mas quando eu levava ele nas primeiras terapias, foi muito difícil. Eu chegava naqueles locais e me deparava com outros autistas bem severos. Autistas que caíam no chão e a mãe tinha que cair também para poder acalmar. Então, eu me perguntava o que estava acontecendo com a minha vida. Tanto que eu não dei conta de somente eu levar ele. Eu dividia com meu esposo. Porque toda vez que eu ia, me sentia muito mal.
Eu ficava muito abalada, psicologicamente. Eu chegava lá por volta de 5 horas da tarde, e saía às 7 ou 8 horas da noite. Então eu via de tudo. E aquilo me deixava muito apavorada. Quando eles me devolviam meu filho e o psicólogo vinha falar comigo sobre o que estava acontecendo, eu não queria ouvir. Eu só queria pegar ele e sair correndo de lá. Era essa a sensação. O momento de luto foi radical e mexeu muito com meu psicológico. E foi, então, quando eu percebi que eu também precisava de ajuda”, conta.
Ao perceber que os pais estavam tendo dificuldade em passar por esse momento de luto, o neuropsicólogo recomendou ao casal que assistisse filmes e lesse livros de apoio. No meio disso, Graciléia recebeu, também, a dica de uma amiga, o filme “Como Estrelas na Terra”, um dos que, inclusive, já recomendamos por aqui. O filme conta a história de um professor de artes que ajuda um aluno de 8 anos com distúrbio de aprendizagem a entender seu potencial.
Na casa da família, o longa marcou um momento ímpar que deixou Grailéia mais forte.
“Eu e meu esposo assistimos esse filme e foi transformador. Nós choramos bastante. Nos colocamos no lugar dos pais do filme. E aí naquela noite nós fomos dormir grudadinhos com o Heitor, passando aquela sensação de ‘eu estou aqui’. Mas eu não consegui dormir. Fiquei muito conturbada.
Fui na lavanderia com muita vontade de chorar. Inclusive, coloquei uma toalha na boca para não me ouvirem. De repente, eu, de costas, ouvi passinhos dele. O Heitor levantou sozinho e veio até mim. Acho que Deus usou ele naquele momento porque eu não aguentava mais. Naquele momento, ele falou ‘mamãe, eu te amo tanto, não fica triste’. E até ele começou a chorar. Então eu enxuguei as lágrimas e disse que a mamãe ia ficar bem.
Desse dia em diante, fiz um compromisso comigo mesma de que eu ia buscar ajuda e iria vencer. Eu passei a não me cobrar mais porque meu filho já estava indo muito bem nas terapias e eu estava vendo resultado. Comecei a chegar nas terapias, olhar para outras mães que, mesmo depois de tantos anos, ainda olhavam com tanto carinho para os seus filhos. E eu vi que eu precisava ser uma mãe assim, porque o Heitor é a minha estrela na Terra”.
Graciléia conta que, uma das formas de buscar a sua cura interior foi buscando conhecimento. E, bem antes de ela saber que o seu filho era autista, Graciléia ouviu falar do Autismo em Dia em uma palestra do trabalho. Na época, este blog era apenas um projeto.
“Quando o gerente que deu a palestra falava de algumas situações, eu acabava pensando ‘isso parece com algo que o meu filho faz’. Aquele ano passou e, mais tarde, quando meu filho teve o diagnóstico, entrei em contato com esse gerente e disse que eu precisava de ajuda. Expliquei que eu precisava conhecer mais sobre o assunto. E ele me mandou o link do site e eu fui me envolvendo muito com o conteúdo do Autismo em Dia”.
De leitora, Graciléia virou uma fã.
“Hoje, eu divulgo o site nas clínicas, nas escolas, reposto nas minhas redes sociais matérias sobre assuntos com os quais me identifico. E eu sei que vocês falam bastante, também, sobre a família do autista, e não só de autistas. E minha história com o Autismo em Dia foi além, parece que faço parte da equipe. Eu me comprometia a ler as matérias nos finais de semana para conhecer sobre assuntos específicos, via indicações de livros, filmes, etc. Sou a fã número 1.
O Autismo em Dia me ajudou mesmo, foi meu direcionamento. Uma coisa que eu achei muito bacana, também, foi uma pulseirinha que vocês confeccionaram que tem o nome do site. E eu vejo a galera do trabalho usando também e eu me sinto tão feliz. É como se fosse um acolhimento e sabendo que eles fazem isso em respeito à minha história e a de outras crianças. E o Heitor adora a pulseirinha e até usa nas terapias”, completa.
O que Graciléia tem estado disposta a fazer é ser parte de uma corrente muito importante. Afinal, ela como mãe de autista, entende a diferença que pequenas ações no dia a dia fazem.
“Eu lembro muito bem de uma viagem que fizemos. Eu estava muito preocupada. Queria colocar um cartaz dizendo que ele é autista. Mas, apesar de muitas histórias por aí de companhias aéreas que não estão preparadas, naquela viagem eu senti um acolhimento muito grande. Eles sempre perguntavam se estava tudo bem. Viajando com ele sozinha, percebi a importância do acolhimento. Ele ficou tão à vontade que fez até amizades com as comissárias.
Outra coisa que eu sempre faço muita questão é ir aos gerentes dos lugares que exibem o símbolo da prioridade do autismo e elogiar. Explico a eles que meu filho é leve, mas tem algumas crianças que têm mais dificuldade de ficar numa fila. Eu sei que é lei, mas agradeço por eles terem se preocupado.
E isso me traz alegria no coração. Porque eu vejo que a sementinha está sendo plantada todos os dias. Quando eu vejo um supermercado de bairro, pequeno, fazendo isso, me faz pensar que estou no caminho certo. Eu tenho que fazer com que mais mães, mais pais, mais professores e mais gente na sociedade conheça o autismo. Eu sempre falo positivamente do meu filho. As pessoas próximas de mim já me disseram que elas nunca conheceram tanto sobre o autismo quanto elas aprendem através de mim e do Heitor.
E esse é o legado que cada filho autista trás. De não pensarmos só na gente, pensar como sociedade“, finaliza Graciléia.
Agora, Graciléia se preparara para ser mãe pela segunda vez. Desejamos saúde e muitos momentos felizes no crescimento da família!
Como é bom ver que o nosso trabalho está ganhando o coração e a vida dos nossos leitores. E a gente quer continuar, nos próximos anos, conhecendo mais histórias. Nas nossas redes sociais, Facebook, Instagram e YouTube, além de conteúdos feitos pensando em você, também estamos abertos através de mensagens. Se você tem alguma história com o autismo, entre e contato. Quem sabe você não é o próximo ProTEAgonista?
Obrigado pela leitura e até a próxima! 🤗
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