O aluno autista está preparado para voltar à escola?


Aluno autista volta ao presencial

Postado por Autismo em Dia em 03/fev/2022 - 4 Comentários

O aluno autista é, sem dúvida, um dos mais prejudicados no período da volta às aulas. Uma nova turma, uma nova escola, novos horários na rotina… há sempre uma ansiedade adicional. Ainda mais agora que a maioria das escolas no Brasil devem voltar ao modelo presencial de ensino. No entanto, a escola que a criança conhecia estará muito diferente diante dos ainda presentes protocolos sanitários.

Nos últimos dois anos, entre 2020 e 2021, muitos pais e mães relataram ao nosso blog que seus filhos autistas foram muito prejudicados no vai e vem entre o on-line, o presencial e o híbrido. Quando as crianças finalmente começavam a se acostumar com um dos modelos, logo tudo se transformava. E isso afetou tanto a escola quanto as terapias. Muitas, inclusive, foram descontinuadas.

Mas quais são as perspectivas para 2022 no ensino de alunos autistas? Existe, enfim, algum método para suavizar as experiências dessas crianças no retorno à sala de aula? É o que veremos, então, a seguir.

criança autista na escola

Fonte: Pexels – Foto de RODNAE Productions

Índice

Como fazer a transição para o novo momento do aluno autista?

Essa transição para a a rotina escola afeta pais e familiares, assim como professores e profissionais envolvidos. Logo, todos se perguntam como ajudar o aluno autista nesse momento. Confira algumas dicas que podem te ajudar. ¹

1 – Ajude a ficar confortável no espaço físico da escola

O primeiro passo é, sem dúvida, fazer com que os alunos autistas se sintam confortáveis no prédio e no terreno da escola. E essa dica serve para aqueles que vão fazer o primeiro ano ou aqueles que estão retornando. Se possível, visite a escola alguns dias antes de as aulas começarem junto da criança.

Aproveite para utilizar métodos alternativos de contar histórias, à maneira da criança, para que ele entenda as etapas de um dia normal. Use isso para narrar desde o momento da entrada até a hora em que alguém vai buscá-la. Explique, também, sobre o que está por trás de coisas como carteiras mais afastadas, não compartilhamento de objetos e tudo mais.

2 – Ensine sobre o uso da máscara

Em casa, o ambiente é controlado e mais seguro contra infecções. Por isso, é provável que esse aluno não esteja acostumado a utilizar a máscara durante períodos longos. Algumas sequer conseguiram se adaptar à máscara para outras ocasiões.

É muito importante estabelecer isso como regra e se assegurar de que a criança vai conseguir manter o comportamento. Em alguns casos, pode ser que a escola faça uma exceção apenas para alunos com deficiências, mas casos assim devem ser devidamente conversados com a equipe multidisciplinar.

máscara criança autista

Fonte: Pexels – Foto de August de Richelieu

3 – Restabeleça as tornas noturnas e matinais

Para seguir com a rotina escolar, qualquer aluno precisa estar em dia com seus horários de dormir e acordar, assim como tudo que faz parte desses momentos. A partir do momento em que as aulas começam, a criança precisa ter bem claro que esses passos devem ser prioridade para um bom rendimento no aprendizado.

LEIA TAMBÉM: Rotina e autismo – como ajudá-los na mudança de casa

4 – Converse sobre expectativas

A vida escolar acontece no meio de um turbilhão de sentimentos. Afinal, é um local com certa pressão para socialização e para o rendimento intelectual. O aluno autista precisa, de fato, sentir que a escola é um lugar de segurança, proteção e acolhimento.

Esses alunos precisam se sentir à vontade para entrar de cabeça na proposta metodológica da escola. Isso certamente vai fazer com que eles estejam sempre prontos para aprender, fazer amizades, expressarem seus conhecimentos (ainda que eles estejam errados).

Assim, neste ambiente amigável, professores terão muito mais facilidade em reconhecer pontos fortes e interesses do aluno autista.

5 – Tenha paciência com o aluno autista

Essa dica vai para pais e professores. Muitos autistas têm questões problemáticas com mudança de rotina. Por isso, eles precisam de um período folgado de aclimatação. Ou seja, os primeiros dias devem ser calmos, sem sobrecarga de qualquer tipo.

Forçar a barra neste momento pode tirar todo potencial de estímulo que o aluno poderia ter.

aluno com autismo

Fonte: Pexels – Foto de Alexandr Podvalny

6 – Trabalhe um equilíbrio entre a rotina e os interesses

Muitas escolas estão abertas a criarem grades adaptadas para crianças com necessidades especiais. Principalmente aquelas escolas que são, normalmente, de ensino regular, mas que também matriculam crianças autistas.

Algumas adaptações podem ser viáveis, tal como horários reduzidos, aplicação diferenciada de provas e trabalhos, acompanhamento extra, permissões exclusivas para momentos de crise, entre outras. Além disso, se a criança manifesta mais interesse em algum tema, a escola pode colocar mais tempo de exposição ao que chama atenção da criança.

A ideia, aqui, é fazer com que a criança esteja sempre disponível para aprender quando, de fato, for a hora de estudar.

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7 – Mantenha as expectativas razoáveis

Mesmo fazendo tudo isso dito até aqui, é muito importante que as expectativas dos pais e dos professores sejam razoáveis. Nem baixa demais, nem alta em demasia. Isto porque a criança pode exigir instruções mais intensivas e totalmente individualizadas. Pode ser, então, que certas habilidades nem mesmo a escola por si só consiga desenvolver. Crianças que aprendem desde cedo que o fracasso e a demora são parte da realidade, tendem a ter uma relação mais saudável com as coisas ao redor.

Neste retorno ao presencial, muitas crianças autistas talvez tenham regredido em algo no qual já vinha sendo trabalhado. Talvez este seja um ano de muito mais de recuperação do que de transformação.

8 – Entenda o que funciona e o que não funciona

A mente de cada criança autista é um mundo à parte. Muitas coisas vão funcionar nesse processo de retorno, enquanto muitas coisas vão falhar. E o que funciona para um pode performar totalmente diferente para outro aluno autista.

Muito tem sido discutido, por exemplo, sobre qual formato é melhor, o presencial ou on-line. Enquanto muitas famílias experimentaram uma diminuição da ansiedade social com seus filhos aprendendo em casa, outras viram uma regressão por conta da falta das interações ao vivo.

Se ainda é o primeiro ano de escola da criança, aproveite todas as oportunidades de testar diferentes versões de aprendizado. Inclusive, sempre que possível experimente métodos não tradicionais.

Retorno do aluno autista à escola: experiências reais

Raísa Spohr, empreendedora do Rio Grande do Sul, é mãe do Henrique, que tem, atualmente, 3 anos e é autista não-verbal. Para Henrique, 2022 será o segundo ano de escola. Raísa conta que 2021 foi um ano difícil, mas que gerou bons resultados desde que o filho começou a frequentar a creche. Porém, ela entende que o retorno vai ser difícil e exige atenção.

“Tudo era muito novo para o Henrique. Ele só tinha entrado, por exemplo, em supermercado, um mês antes de ir para a creche. Quando ele estava começando a se acostumar com isso, a creche fechou para as férias de final de ano. Nos meses de adaptação, tudo foi muito difícil, ele chorava bastante.

Agora a gente tá esperando para ver como vai ser o ano que vem, se ele vai conseguir novamente a professora de apoio, porque a coordenação motora dele não está bem desenvolvida. Vai ser uma readaptação, porque ele vai se lembrar do lugar, mas ele não vai querer ficar. E é bem difícil porque eu não sei quanto tempo vai levar isso”.

O desafio do controle do comportamento

Vinícius, de Petrópolis, no Rio de Janeiro, tem 8 anos, é autista não-verbal e estuda, atualmente, em um colégio regular. A funcionária pública Débora Barcellos, mãe do menino, conta que a experiência on-line durante a pandemia não funcionou para o filho.

“Quando ele entrou na escola ele teve o horário reduzido e depois migrou para o horário normal, como todas as outras crianças. Na pandemia ele ficou só fazendo aula on-line, mas a gente viu que não estava funcionando ele ficar assistindo aula na frente do celular. Ele não gosta. Aí a gente voltou com ele no horário reduzido, mas sendo presencial. 

Eu não queria que o Vinícius voltasse porque ele não tem noção de perigo. Então ele coloca toda hora a mão na boca, se ele for contrariado ele vai lamber o chão ou a parede. Ele também tem muita mania de cuspir, então eu ficava preocupada com as outras crianças. No esquema normal já era complicado. Agora, com o vírus circulando, como é que a gente faz? É mais complicado ainda”, explica Débora.

A história da Débora e do Vinícius já foi pauta aqui no blog e você pode conferir clicando aqui.

Um ano desafiador

As experiências dessas mães volta a colocar em evidência a necessidade de todo o sistema educacional, tanto o particular quanto o público, estar preparado para absorver alunos autistas. E não apenas permitir a presença em sala de aula, mas ter suporte em todos os níveis.

Esta falta é histórica e não se restringe apenas ao período da pandemia. No entanto, a situação atípica dos dois últimos anos impôs uma carga de dificuldades a mais. E estas, sem dúvida, serão um grande desafio em 2022

Vamos torcer para que tudo dê certo e, daqui para frente, as escolas possam voltar a avançar no alcance ao autista.

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Até a próxima!

Referência bibliográfica e a data de acesso:

UC Davis Health – 14/01/2021

 

 

 

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4 respostas para “O aluno autista está preparado para voltar à escola?”

  1. TEREZINHA DE CASSIA ALVES FERREIRA RODRIGUES disse:

    É maravilhoso navegar autismoemdia.
    Muita informação valiosa.
    Só tenho á agradecer.
    Muito obrigado.
    Gratidão

  2. Vanessa Pereira disse:

    boa tarde! estou com um aluno TEA .Ele e maravilhoso, gosto muito de ensinar pra ele,e carinhoso e feliz.

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