Como as redes sociais mudaram a vida de autistas adultos e adolescentes


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Postado por Autismo em Dia em 10/set/2021 - Sem Comentários

Se tem algo que quase todo mundo talvez concorde é que as redes sociais, de fato, mudaram o jeito de se comunicar. A facilidade que elas entregam de fazer conexões interpessoais é algo sem dúvida impressionante. Só que quando o assunto é comunicação, expressão e amizades, é importante também falar da perspectiva de autistas adultos e adolescentes.

De tão relevante que é, este assunto já virou até tema de pesquisa científica. Afinal, as redes sociais melhoraram a vida dos autistas? O que muda na sociedade diante desta novíssima forma de comunicar, de reunir, de criar…? É o que vamos analisar sob diferentes pontos de vista a seguir.

Índice

Autistas adultos e adolescentes nas redes sociais

Se você caiu de paraquedas neste artigo, eis o que você precisa, então, saber: uma grande parte dos autistas tem de conviver com uma falta de traquejo social. Nesse sentido, existem vários fatores que podem gerar isso, tanto físicos como mentais. Recomendamos a leitura de outros artigos do nosso site para saber mais sobre os princípios do autismo.

Se, por um lado, os pais conseguem ter alguma influência sobre os hábitos de comunicação do autista durante a infância, em seguida, na adolescência e na fase adulta as coisas não são mais as mesmas. A princípio, com o amadurecimento e a independência vêm as descobertas da vida, a vontade de expressar, de criar laços mais duradouros. Isto serve, então, para pessoas neurotípicas e atípicas. Os pais, na maioria dos casos, já não têm mais o poder de falar no lugar de seus filhos.

Como hoje a internet está quase onipresente, ela se transforma num lugar de expressão e conforto. Mas também pode ser uma arma na mão de pessoas cheias de preconceito e incapazes de medir as consequências de suas palavras. O autista adulto ou adolescente que, por acaso, já tenha crescido rodeado de pessoas tóxicas, sabe bem como isso funciona. E sabe que faz muito mal.

Mas a internet e as redes sociais também são tudo aquilo que qualquer pessoa introvertida poderia querer. Um espaço moldável, capaz de fazer pessoas se unirem em torno dos mesmos objetivos. Por mais diferentes e de nicho que esses interesses sejam. Se você não tem uma comunidade na vida real, provavelmente ela já existe na internet.

A internet permite ser abraçado por uma comunidade

Um artigo de junho de 2021 do site Autism Speaks, que é referência internacional, buscou ir além da teoria. Nele, a escritora, blogueira e advogada norte-americana Lydia Wayman perguntou a vários autistas nas redes sociais como a ferramenta mudou a vida deles. ¹

E foi isso que eles disseram:

“As redes sociais me dão a oportunidade de falar com os meus amigos e ser social de uma forma que é mais fácil para mim”, disse Chloe R. Apesar da vontade de socializar de muitos autistas, os ambientes sociais não são favoráveis. Na vida real, tudo é mais confuso, opressor e não tão amigável aos sentidos de um autista. Eliminando a parte física da comunicação, as redes sociais fazem com que pessoas introspectivas possam focar apenas em transmitir sua mensagem e serem autênticas.

“Eu uso as redes sociais para me conectar com pessoas que têm o mesmo interesse”, diz Chloe E. Falando em interesses, alguns autistas podem ser extremamente focados em interesses específicos. Eles podem ser interesses restritos (caracterizado por padrões de comportamento) ou hiperfoco (interesse exclusivo no universo de um único assunto).

“As redes sociais me abriram várias portas de emprego”, disse Brigid R. A entrada no mercado de trabalho ainda é um assunto um tanto quanto distante da comunidade autista. Estima-se que apenas 15% de todos os autistas adultos com alguma profissão estão empregados. E muitas dessas vagas preenchidas são na área de tecnologia. As redes sociais podem ser uma ótima vitrine para quem não sabe bem como fazer o tal do ‘networking’. Independente do ramo.

“Nós usamos a nossa palavra, a nossa voz”, destacou Conner C. Isso também é uma coisa muito importante. Até pouco tempo, o autismo sequer era um assunto aberto na sociedade em geral. Agora, não só há mais informação como é possível ouvir as experiências de quem de fato as viveu. E autistas estão, de fato, por toda parte na internet. Pintores, blogueiros, apresentadores de podcast, escritores, médicos, políticos e por aí vai.

homem TEA no celular

Fonte: Envato – sofiiashunkina

Autistas adultos e adolescentes nas redes sociais vira tema de pesquisa

A realidade do impacto da internet na vida de autistas adultos e de autistas adolescentes, como já dissemos, virou tema de interesse da ciência. Alguns estudos descobriram que pessoas no espectro podem ter benefícios com o modelo digital de interação.

Um estudo publicado em 2018 na revista Cyberpsychology, Behavior and Social Networking chegou à seguinte conclusão: adultos com transtorno do espectro do autismo que utilizam redes sociais como Facebook e Instagram tendem a ser mais felizes do que aqueles que não estão em nenhuma rede social. ²

Do mesmo modo, um ano antes o departamento de psiquiatria da Universidade de Yale, nos Estados Unidos demonstrou que adolescentes com TEA costumam ter amizades de alta qualidade nas redes sociais. ²

Autistas nas redes sociais: o guia básico

Já a pesquisa da University College of London, na Inglaterra, gerou o “Guia básico de mídias sociais para adolescentes com autismo”. Além disso, o guia é acompanhado de uma versão para pais de autistas. ³

A ideia do guia é mostrar que as redes sociais oferecem boas oportunidades de fazer amizades, aprender habilidades, compartilhar opiniões e informações e formar comunidades. Entretanto, o guia também dá conselhos de como interagir com estranhos no ambiente on-line, evitando os riscos. ³

Entre as lições do material estão coisas como: ³

  • Não compartilhar senhas
  • Não marcar reuniões ou encontros sem o consentimento de um adulto
  • Bloquear pessoas e comentários ofensivos
  • Ter pausas para pensar antes de responder comentários desconfortáveis ou confusos

Similarmente, a versão para os pais ajuda os responsáveis a reconhecer as oportunidades de o adolescente aprender a navegar por situações sociais; a estimular o filho ou filha a ouvir a experiência de outros autistas; a combinar com o adolescente o que pode ser compartilhado por conta própria e o que deve passar por uma conversa de pais e filhos antes; assim como falar com os filhos sobre piadas, sarcasmo, mentiras e ironias e golpes que estão espalhados por toda a internet. ³

redes sociais e TEA

Fonte: Envato – valeriygoncharukphoto

Suporte aos autistas adultos e adolescentes de grau severo

Seja na adolescência ou na vida adulta, muitos autistas poderão administrar suas presenças digitais sozinhos, assim como suas vidas. Porém, ainda existirão aqueles com maior necessidade de suporte. Muitos não têm habilidades manuais de lidar com um celular, tablet ou computador. O que não significa, necessariamente, que eles não possam utilizar os meios eletrônicos. ¹

Cabe a um adulto dar o suporte necessário caso esse autista precise ou queira encontrar uma forma de estar na internet. É muito importante, por exemplo, ter total ciência do que é publicado. Além disso, o adulto responsável pode ajudar a transcrever mensagens e, igualmente, minimizar os riscos. ¹

No que ter atenção?

Falando em riscos, aqui vai, então, uma lista de coisas para ter atenção se você for responsável por autista que esteja utilizando a internet: ¹

  • Configurações de privacidade
  • Proteção de dados pessoais como senhas, endereços e números de cartão de crédito
  • Tentativas de golpes
  • Sites que possam instalar vírus
  • Adequação de comportamento ao se expor
  • Agressões verbais (bullying)
  • Abordagens feitas por desconhecidos

O código de conduta da internet

Ainda que a internet facilite a comunicação, ela segue sendo um espaço social onde imperam regras, ainda que elas não sejam explícitas. O autista precisa estar ciente, por exemplo, de que certos comportamentos podem gerar episódios embaraçosos ou até mesmo criminosos. A repercussão na internet é praticamente incontrolável. ¹

Por não estarem escritas em lugar nenhum, mas serem reconhecidas por usuários, as regras de um espaço digital não vão ser claras para os autistas logo de cara. É preciso cuidado e muita prática para que essas normas se estabeleçam. ¹

Converse com um autista de forma clara sobre: ¹

  • Enviar mensagens em excesso para alguém
  • Digitar demais em letras maiúsculas
  • Ignorar os “trolls”, ou seja, aquelas pessoas cujo único objetivo é enganar e ofender
  • Assuntos controversos
  • Compartilhamento que sejam pessoais demais como fotos íntimas, check-ins, problemas de família etc.
adultos autistas e adolescentes nas redes sociais

Fonte: Envato – peus80

Nem tudo que reluz é ouro

A expressão utilizada no título deste tópico é, na verdade, um sinal de alerta. A interpretação de alguns autistas sobre o que eles veem nas redes sociais pode ser igualmente opressor e capaz de gerar ansiedade e frustração. Isto porque a maioria dos usuários das plataformas digitais busca demonstrar o que tem de melhor. As melhores roupas, os melhores passeios, os amigos mais legais, as opiniões mais inteligentes… 

Muitos autistas não tem como habilidade esta capacidade de mascarar as coisas ou de entender, de fato, que o outro está transmitindo apenas o que quer mostrar. Isso considerando que o que está sendo mostrado não é uma mentira. Imagine como deve ser ter todas as dificuldades de interação e se deparar com pessoas para quem a vida inteira parece fácil e natural. 4

Portanto, converse com um autista sobre como andam as expectativas e tente analisar se esse mundo digital tem sido saudável para ele ou ela.

O Autismo em Dia está nas redes sociais

As redes sociais não são perfeitas. Mas pelo menos por ora elas tem sido um espaço fértil onde os autistas adultos e adolescentes estão se encontrando como nunca antes. A presença digital deve ser apoiada, afinal, ela é um caminho sem volta mesmo para os neurotípicos.

Nós do Autismo em Dia estamos nas redes sociais estimulando os debates, os encontros e o aprendizado. Por isso, siga-nos no Facebook, no Instagram e no Youtube para não perder nenhum conteúdo!

Até a próxima!

Referências Bibliográficas e a data de acesso:

1. Autism Speaks – 16/08/2021

2. Enabling Devices – 16/08/2021

3. Rough Guide to Social Media Use for Teens with Autism – 16/08/2021

4. Journal of Emerging Investigators – 16/08/2021

 

 

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