Universidade, autismo e mercado de trabalho: a história de Denilson


Postado por Autismo em Dia em 19/mar/2020 - 12 Comentários

A imagem que a sociedade comumente faz de uma pessoa jovem – principalmente nesta última década – é, quase sempre, ligada a fenômenos dos anos 2000, como tecnologias, redes sociais e uma capacidade de comunicação globalizada. Mas basta alguém soltar, numa conversa, o termo autista, que o mais provável que venha em mente é a imagem de uma pessoa isolada em seu quarto sem conexão com o mundo externo. Mas o Autismo em Dia, sempre dedicado a romper com uma visão limitadora, traz neste artigo a história do Denilson Marcondes, morador de Campo Largo, bem próximo a Curitiba, cuja história foi de dificuldades severas de saúde até o emprego pleno, tornando-se uma interessante história que une autismo e mercado de trabalho.

Autista no mercado de trabalho

Fonte: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Denilson Marcondes

Índice

Quem é Denilson?

Denilson, paranaense de 24 anos, é autista. Ele não foi diagnosticado tão cedo, já era o meio da adolescência quando, aos 15 anos, ele finalmente teve a resposta de que que fazia parte do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em grau leve. Na mesma época, ele passou por momentos difíceis, tendo que passar por uma cirurgia para eliminar um tumor no cérebro.

“Foi bem difícil lidar com os problemas na escola, eram muitas brincadeiras e piadas, um pouco ofensivas. Diziam que eu não ia conseguir me formar e nem ser alguém na vida.”, conta Denilson, mas sem se parecer com alguém que guarda rancor.

Aliás, é totalmente o contrário. Em suas redes sociais, o rapaz dá um show de pensamento positivo, sempre compartilhando frases motivadoras e contando suas experiências de superação. O mesmo se repete no vídeo de apresentação de seu canal no Youtube, onde pede que as pessoas sigam com suas vidas apesar disso, estudem e construam coisas para si, e não para os outros.

Hoje, Denilson colhe os frutos de sua dedicação. Formou-se na universidade, com o curso de Sistemas de Informação, e ocupa um cargo numa das maiores empresas fintechs (startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro) do Brasil, avaliada em mais de 1 bilhão de reais.

E fora do mundo corporativo, ele, que é filho único, participa de um clube de escoteiros, auxiliando voluntariamente na parte administrativa. Nas outras horas livres, Denilson adora ficar em casa, lendo livros e pesquisando as últimas novidades da tecnologia.

Autista: período na universidade

Fonte: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Denilson Marcondes

Autismo e mercado de trabalho: a fase da universidade

O curso escolhido por Denilson, Sistemas de Informação, o coloca dentro de uma estatística positiva, a de autistas com grande habilidade em sistemas de computadores e suas linguagens. Não à toa, as empresas de tecnologia, como a que ele trabalha, são as que mais contratam pessoas com TEA – muitas vezes além das cotas de pessoas com necessidades especiais.

“Escolhi esse curso porque sempre fui autodidata e, durante a adolescência, aprendi sozinho coisas de informática”, conta Denilson, orgulhoso de seu talento. E, assim, ele seguiu pro curso superior buscando os caminhos profissionais que lhe dariam maiores vantagens.

Mas, como não podia deixar de ser, o período na universidade trouxe grandes desafios para Denilson. Autista, tímido, com uma leve gagueira e portador do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ele sentiu na pele as complicações de se expressar em público, seja para fazer amizades ou para apresentar trabalhos.

“É difícil como toda faculdade. E tem muita matemática. E eu não sou bom em matemática. Sei apenas o básico. Pensei muitas vezes em desistir”.

Mesmo assim, Denilson foi em frente, concluiu o curso no tempo previsto e já ingressou numa pós-graduação de Gestão de Projetos.

Autismo: Denilson na EBanx

Fonte: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Denilson Marcondes

Autismo e mercado de trabalho: cruzando a linha de chegada

Na empresa, Denilson conta que não teve dificuldade durante o processo – mas ficou muito feliz ao conseguir a vaga de project assistant, que foi alcançada através de um programa de inclusão para PCD (pessoas com deficiência). No dia a dia, não houve adaptações nos escritórios para atender especificidades do autismo, e Denilson trabalha como todos os outros funcionários – nos escritórios compartilhados em grandes ambientes.

Acontece que a própria empresa já possui um ambiente onde todos são bem vindos no seu modo de ser, e tem no seu grupo de colaboradores uma feliz variedade de tipos que vão desde pessoas com deficiências visuais e auditivas até pessoas com definições diferentes de gênero.

“Todos os PCD’s que trabalham lá com quem conversei afirmaram se sentir muito à vontade e assistidos pela empresa, que desde o começo nos disse que estaria pronta para dar todo apoio que precisássemos durante o trabalho. Temos o privilégio de estar numa das poucas empresas que já se preocupa com autismo no mercado de trabalho”, afirma Denilson.

Rotina de trabalho: autismo não é empecilho

Colegas de trabalho de Denilson contam que, no dia a dia, ele busca, do seu jeito, se conectar às pessoas. Allan Pavani é uma dessas pessoas que Denilson faz questão de ir à mesa todos os dias. “Por algum motivo, ele gosta da minha companhia, mas não é com muita gente que isso acontece, então fico feliz que ele se sinta confortável em ser meu colega”.

O rapaz busca ser exemplar em suas tarefas. Ele conta que vai atrás das informações que precisa, lê e estuda sobre as coisas quando necessário. E lida bem com as cobranças e pressões. “É um local onde estou para trabalhar, mas, principalmente, para me desenvolver e criar uma carreira. Então as cobranças fazem parte”.

“Estou amando! Essa é a palavra certa. Amando”, Denilson afirma, muito feliz, sobre seu trabalho. Lá, ele auxilia gestores e equipe no desenvolvimento de novos projetos.

Youtube autismo

Fonte: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Denilson Marcondes

Um autista no Youtube

“Eu sou portador de Asperger”. Esse é o título, honesto e sem rodeios, do primeiro vídeo do canal que Denilson inaugurou no Youtube em 2019. Então, de dentro do seu quarto, ele não fala apenas para a câmera. Mas aparece no vídeo completamente consciente dos anseios e dúvidas que os autistas e não autistas têm sobre o transtorno.

Denilson aproveita o espaço para contar sua história e fazer disso um ponto de motivação às pessoas que nasceram com TEA e, muitas vezes se sentem desmotivados.

Num dos vídeos, ele conta que fez a diferença contar com o apoio da família e das pessoas ao redor. E convida as pessoas a se abrirem e confiarem naqueles que amam.

“Eu criei o canal depois de ver outras pessoas fazendo o mesmo, vencendo essa barreira através de vídeos na internet. Achei que, por ali, seria uma forma muito boa de ajudar outros autistas e mostrar às pessoas dá para viver positivamente. Apesar de todas as dificuldades”, conta Denilson, que também promete voltar a fazer vídeos em breve (ele não publica nada desde janeiro de 2020). Clique aqui para assistir os vídeos do canal.

E já que estamos falando de mercado de trabalho e autismo, o YouTube também pode acabar entrando na contagem, já que hoje, criar conteúdo nas redes sociais virou emprego para muita gente.

Desbravar esse espaço de tanta exposição e que sobrevive de pessoas que, de alguma forma, se comunicam, é um feito notável quando se trata de autistas. O site Metro, do Reino Unido, publicou em 2018 um artigo de uma advogada autista que conta como a era das redes sociais acabou sendo perfeita para pessoas como TEA. Nós resumimos esses argumentos na lista abaixo. Confira:

Redes sociais: ferramentas perfeitas para a comunicação dos autistas ¹

1 – As redes sociais dão oportunidade de interpretar melhor as pessoas

A dificuldade que um autista possui para entender o que as pessoas de fato estão dizendo e que emoções estão contidas em determinada fala, encontram um espaço mais fértil dentro desses sites. Segundo a advogada, quando ela, por exemplo, não entende um comentário de alguém, ela não precisa responder de imediato e ainda pode pesquisar todo o contexto em volta daquelas palavras até que, de fato, compreenda.

2 – As novas mídias permitem uma interação sem sair de casa

A autora do texto ressalta a importância da diminuição de distâncias via internet. Principalmente para acalentar as pessoas que sentem sozinhas. Quanto ao autismo, especificamente, ela diz que só precisa clicar na hashtag #actuallyautistic para saber o que as pessoas como ela estão fazendo e sentindo pelo mundo.

Portanto, só de não precisar lidar com a presença física, cara a cara, das pessoas, isso já pode diminuir a ansiedade sobre os relacionamentos de alguém com TEA.

3 – Essas redes também são facilmente “desligáveis”

Da mesma forma, se a pessoa está incomodada de tanta interação e informação ou entediada com a vida online, basta desligar, ficar offline. Nesse ambiente, não é mais necessário manter alguém falando apenas para não soar mal educado.

4 – As redes ajudam a criar comunidades de apoio ²

Segundo estudos, a formação de grupos de apoios para autistas e para os familiares que foram surgindo na internet ajudaram a diminuir os níveis de estresse pelos quais essas pessoas passam diariamente.

O que Denilson quer para o futuro

Denilson sabe que chegou bem longe e construiu, até com certo conforto, sua ponte entre mercado de trabalho e autismo. Mas, na sua maneira humilde de ser, ele conta que não pretende parar de estudar. “Agora pretendo fazer o que for preciso para tirar certificados internacionais na minha profissão e continuar produzindo conteúdos para a internet sobre autismo, no Youtube e num site novo que entra no ar em breve”.

A história do Denilson é inspiradora, não é mesmo?  Por isso, se você gostou desse exemplo e também tem algo a contar, fale para nós. A sua história também pode vir parar aqui no Autismo em Dia.

Referências bibliográficas e a data de acesso:

1. Metro UK – 15/03/2020

2. Madison House Autism Foundation – 15/03/2020

 

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

12 respostas para “Universidade, autismo e mercado de trabalho: a história de Denilson”

  1. Denilson Rodrigues Marcondes disse:

    Quero agradecer o Autismo em dia por compartilhar minha história, sei que eu Denilson estarei ajudando muitas pessoas que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista) assim como eu. Muito obrigado por divulgar!!!

    • Autismo em Dia disse:

      Ficamos muito contentes que aceitou o convite! Temos certeza que sua história vai inspirar muitos outros autistas 🙂

  2. Adão Braz disse:

    Parabenizo esse guerreiro! Sua história tem um início muito triste, porém, com sua luta a felicidade chegou, e virá muito mais vitórias no caminho desse campeão.

  3. Daniel Rodrigues disse:

    Parabens Denilson, esse piá é um exemplo!

  4. Dr. Samir BArk Neurocirurgia disse:

    Perseverança e fê.
    Atributos inegáveis desta família maravilhosa .
    Denilson você é um abençoado!!!!!
    Sou muito feliz pelas suas realizações!!!

  5. cbd oil disse:

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  6. Vera Lúcia Rodrigues dos Santos Rodrigues dos Santos disse:

    Maravilhoso este meu filho. Muito disciplinado, comprometido responsável. Eu sempre acreditei na sua capacidade. Te AMO e sempre estarei aqui.

    • Autismo em Dia disse:

      Que bom ver as mamães por aqui também! Parabéns pelo filho incrível Vera Lúcia. A gente imagina que você precisa de um segundo coração só pra poder caber tanto orgulho!!! Um abraço de toda equipe do Autismo em Dia. Volte sempre =)

  7. Glaucineide disse:

    Faço terapia a 3 anos a psicóloga diz que sou autista grau leve
    Mas li um artigo que diz que psicólogo não pode dá diagnóstico são outros profissionais
    Isso me deixou confusa devo ou não aceitar o que minha psicóloga diz
    Isso me diz a angustiada e ansiosa até depressiva
    O que devo fazer pra ter certeza do diagnóstico
    Sou Glaucineide tenho 32 anos
    Pode me orientar por favor

    • Autismo em Dia disse:

      Oi Glaucineide, tudo bem? Bom, todos os profissionais de saúde mental podem dar o diagnóstico de autismo, o que geralmente acontece é que ele aconteça em conjunto com o psiquiatra. Mas se você se identifica com os sinais de autismo e confia na sua terapeuta, é muito provável que realmente seja. Na dúvida, vale a pena consultar outro profissional especialista em TEA. É importante que seja alguém que trabalhe com o transtorno diariamente, pois eles tem experiência na identificação do grupo de sintomas que caracteriza o transtorno.
      Esperamos tê-la apoiado.

      Um abraço, volte mais vezes.

  8. Walmir Zuchetto disse:

    Que linda história de vida e superação do Denilson, e bela matéria sobre o tema!

  9. Lokaeats disse:

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