Diagnóstico tardio de autismo em mulheres: uma história real


Postado por Juliana Canavese em 08/jan/2024 - 8 Comentários

Hoje vamos conhecer a história de Samanta Rodrigues, um relato real sobre o diagnóstico tardio de autismo em mulheres. Ela tem 48 anos e começou a desconfiar do diagnóstico de autismo há uns 3 anos, iniciou a investigação há 2 anos, e recebeu o laudo há apenas 6 meses. Ela é casada e vive com seu marido na cidade de São Paulo-SP.

Samanta comentou que gosta de morar em São Paulo pela facilidade de acesso, porém a agitação da cidade a incomoda um pouco, e assim que o seu marido conseguir se aposentar, pretendem ir morar no litoral, que é mais calmo para viver.

Samanta tem uma história interessante sobre a descoberta do autismo, porém o caso dela não é tão incomum entre casos de mulheres autistas, no Brasil e no mundo, é mais comum do que parece que mulheres sejam diagnosticadas mais tarde.

Foto: Arquivo pessoal – Cedida por Samanta

Índice

O motivo para mulheres terem mais diagnóstico tardiamente

Uma explicação é  que as mulheres aprendem desde cedo a serem mais introspectivas e são socialmente mais cobradas de serem discretas e menos expansivas do que os homens, sendo assim, elas conseguem mascarar mais facilmente algumas características do autismo e também conseguem se adaptar melhor a algumas delas. Confira o texto sobre a camuflagem do autismo, uma leitura muito importante sobre o assunto e que nos ajuda a entender o diagnóstico tardio do autismo em mulheres.

Segundo o CDC (Centro de controle e prevenção de doenças), que divulgou dados de pesquisa em 2020, para cada 4 meninos diagnosticados dentro do espectro, existe 1 menina diagnosticada. Segundo dados divulgados recentemente, em 2023, pela primeira vez a porcentagem de meninas de 8 anos identificadas com autismo foi superior a 1%, porém, uma realidade continuou, os meninos têm quatro vezes mais chances de serem diagnosticados com autismo do que meninas.¹

Ainda não existe uma única resposta do porquê isso acontece. Permanece a hipótese sobre a camuflagem das meninas, mas também existem estudos para entender se há alguma outra causa genética que explique essa diferença.2

Quando o autismo se confunde com alguma comorbidade

Frequentemente ouvimos relatos de que uma pessoa tenha, além do autismo, outras comorbidades associadas.

No caso de Samanta, primeiro iniciou-se a investigação de sinais de TDAH e depressão. Aliás, por anos ela tratou a depressão na psiquiatria. Também tratava bastante a sua falta de foco.

Isso é muito comum: até que se entendam os sinais e toda a repercussão do autismo na vida de uma pessoa, ela pode passar por episódios de ansiedade e depressão, sendo mais sintomas do que causa propriamente ditas. Por isso é tão importante a investigação correta, pois uma pessoa pode passar a vida inteira tratando algo superficialmente, mas se recebesse o diagnóstico correto e preciso, ela poderia ter os tratamentos mais adequados.

Como foi o diagnóstico tardio do autismo com Samanta

Foi observando outras crianças neurodivergentes no grupo que ela participa como chefe de escoteiros, que Samanta percebeu que existiam muitas características de autismo nela. Por exemplo, ela percebia uma sensibilidade maior a sons:

“Um dia eu conversei com uma amiga psicopedagoga, ela fez alguns testes comigo e me orientou em ir atrás para investigar… eu me identificava muito com as coisas  que eu lia pra poder aplicar nas crianças que eu trabalhava… conversei mais com a minha psiquiatra e aí que eu resolvi fazer os testes e pedi pra ela fazer o encaminhamento para ir a neuropsicóloga”

No primeiro momento, quando levou o laudo para a psicóloga foi confirmado o TDAH, mas depois o psiquiatra confirmou o autismo e fechou o laudo. Para ela foi um alívio o autismo ter se confirmado também, pois ela passou a entender melhor algumas coisas que aconteciam.

Os sinais mais evidentes em Samanta que confundiu TDAH e autismo

  • Distração;
  • Esquecimento;
  • Procrastinação;
  • Dificuldade em decidir as coisas;
  • Dificuldades escolares na infância;
  • Falta de memória;

Os sinais que confirmaram o autismo em Samanta

  • Não gostar de falar em chamadas de vídeo;
  • Tiques (estereotipias);
  • Fala pausada;
  • A sensibilidade ao barulho;
  • Não gostar de lugar com muita gente;
  • Não gostar de socializar;
  • Seletividade alimentar;
  • Hiperfoco em um único assunto;

A vida de Samanta após o diagnóstico

Hoje Samanta trabalha mais em casa, segundo relato dela:

“Eu não gosto muito de sair da minha rotina, as pessoas às vezes não entendem, porque eu esqueço as coisas, sou muito metódica. As coisas precisam estar sempre no mesmo lugar, se não eu me atrapalho. Tudo eu tenho que anotar. Então, acabei desistindo de procurar emprego fora. Eu faço minhas coisas em casa, faço biscoitos decorados. Às vezes eu trabalho com uma amiga minha, porque ela tem uma escola de inglês, aí trabalho com ela quando a secretária dela entra de férias, eu acabo fazendo coisas com ela porque ela me entende, daí fica mais fácil de trabalhar.”

Em casa eu consigo me entender melhor, quando fico muito tempo na rua fica mais complicado. Por isso, costumo usar o cordão de girassol para ficar mais visível para as pessoas que eu sou diferente.

Tem muita coisa que faço no meu tempo, no dia que estou melhor eu limpo a casa, quando consigo eu lavo roupa e passo. Porque também tem a depressão. Mas com o autismo eu me dou super bem, aprendi a reconhecer os sinais do meu corpo. O dia que meu corpo tá bem eu faço, no dia que não está eu respeito.”

Foto: Arquivo pessoal – Cedida por Samanta

Terapia e tratamento

Hoje a Samanta faz terapia para lidar mais com as questões do TDAH e com o psiquiatra ela fala mais sobre o autismo. Faz tratamento medicamentoso para o autismo, TDAH, ansiedade e depressão.

Samanta reforçou bastante a importância de ir atrás caso tenha suspeita de autismo, e para ela a descoberta foi um momento de felicidade e alívio para saber por onde ir.

O aprendizado sobre o diagnóstico tardio de autismo em mulheres

O caso de Samanta é mais um caso de uma mulher adulta que percebeu que precisava ir atrás de respostas sobre sua maneira de navegar pelo mundo. Esperamos que sirva de inspiração para outras mulheres que podem passar por situações parecidas ao estarem lidando com sintomas que não são só do autismo, mas que ao tratar corretamente, podem viver uma vida mais feliz e serem mais compreendidas.

Não deixe de buscar informação e ajuda especializada. Hoje, felizmente, existem muitos profissionais capacitados para lidarem com o autismo e ajudarem as pessoas a serem cada vez mais elas mesmas.

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Referências:

1- Autismo e realidade – acesso em 26/09/2023

2- O Globo – acesso em 26/09/2023

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8 respostas para “Diagnóstico tardio de autismo em mulheres: uma história real”

  1. Sheilla Maria disse:

    não tenho diagnóstico, mas sinto que tenho, minha filha de 19 anos falou que tenho sinais do autismo,eu disse ta louca , estou muita velha p isso,mas proucurei uma psicóloga,falei p ela,e estou indo ,para ver os próximos passos,mas tenho reservas e ao mesmo tempo uma sensação de em fim dar um nome a td que tenho,mas um medo enorme de ser sim,e um maior ainda de um não,se não for autismo oq será que eu tenho, só loucura,oq me adiantaria saber agora, crianças não,ela são tratados, terapias e td mais,mas eu con 35 anos ,oq me isso me adiantaria?!

    • Juliana Canavese disse:

      Olá, Sheila. Obrigada pelo seu comentário. O diagnóstico, mesmo que tardio, pode auxiliar na intervenção correta para o seu caso. Parece que não ajudaria, pois o ideal é ele ser o mais precoce possível, mas sempre ajuda sim. Claro, não é fácil lidar com o diagnóstico em nenhuma das fases da vida, porém, pelos relatos que ouvimos, receber o diagnóstico ou descartar o autismo direciona tratamento. Um forte abraço!

  2. Ana disse:

    Olá,

    lendo a matéria percebi que todas as características tanto tdah quando autismo relatadas eu possuo, mais fortemente os “tiques” que são muuuitos e hipersensibilidade ao barulho e claridade. Já tive crises em casa por causa do barulho dos vizinhos e não sabia o motivo. Meu medo é que agora a sociedade está dizendo que tá na moda dizer que é autista e tem tdah. Medo de acharem que quero chamar atenção 🙁
    Ana, 40 anos, rj

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Ana. Pensando para você, quanto ter o diagnóstico importaria nesse momento da sua vida? Pense nisso e estamos por aqui. Forte Abraço!

  3. Thábata Neves disse:

    Olá me chamo thábata, tenho 28 anos, e faz algum tempo que venho buscando por respostas, para minhas ações como controlar a raiva, me distraído facilmente e com isso me leva a dificuldade de concentração nos estudos e na medida dessa dificuldade por mais que eu estude não consigo resultado em concursos o sistema nervoso não deixa; Dificuldade em decidir as coisas; Dificuldades escolares na infância; A hipersensibilidade ao barulho era maior quando tinha 5 anos, Não gosto de lugar com muita gente; tiques como estralar os dedos quqndo fico estressada ou nervosa Hiperfoco em um único assunto como sou Nutricionista e tenho fascinação pela oncologia fico focada nesse assunto. e muitas vezes sou julgada por todos parentes, já fui chamada de desleixada, e muitas vezes que estou fazendo algo e vejo que tem coisas para fazer paro oq estou fazendo e começo outra isso é difícil!

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Thábata. Obrigada por comentar aqui. Seria importante buscar ajuda com um(a) psicólogo(a) comportamental para investigar. Pode ser até online, existem muitas opções disponíveis. Um forte abraço 💙

  4. Adriana disse:

    Pena que em pleno século 21 não se pode conseguir uma análise no sus , pra quem não tem condições é muito difícil sofro alguns anos por não poder ir atrás de um laudo mas é muito difícil , as pessoas te chamam de tudo mas não conseguem olha um segundo e ver que aquelas crise não é algo que você planeja 😓

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Adriana, também torcemos para que o SUS possa atender demandas de diagnóstico e intervenção de TEA. Torcendo para que você encontre um profissional mais acessível para avaliar seu caso. Um abraço 💙

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