Comorbidades do autismo: quais são as mais comuns?


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Postado por Autismo em Dia em 08/set/2021 - 1 Comentário

Uma preocupação frequente ao receber um diagnóstico é a possibilidade de ele vir acompanhado de outras condições. Pensar nisso é natural, e de fato, as comorbidades do autismo existem. É claro que quando falamos no Transtorno do Espectro Autista, existem diversas possibilidades, então, nenhuma das condições que citaremos aqui são partes inseparáveis do autismo. Na verdade, existem muitos autistas que não têm nenhuma delas, enquanto outros podem ter mais de uma.

Algumas condições são de fato mais comuns, outras mais raras. A quantidade de comorbidades e a intensidade de sintomas que podem estarem presentes interferem diretamente em diversas áreas da vida do autista, como no desenvolvimento, aprendizagem e comportamento, por exemplo. Estar atento aos sinais de que alguma comorbidade pode existir é importante para que o autista possa receber o tratamento adequado. Dessa forma, ele pode ter mais qualidade de vida e a possibilidade de ser menos afetado por sintomas que possam interferir no dia a dia. 1

Esse é um assunto que te interessa? Então continue a leitura e descubra quais são as principais comorbidades do autismo e seus sintomas e tratamentos.

Índice

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é certamente uma das comorbidades mais comuns do autismo. Trata-se de um transtorno que engloba sintomas de desatenção, hiperatividade e muitas vezes, impulsividade (ainda que o último nem sempre esteja presente). O problema pode afetar as pessoas de diferentes maneiras, e a sua manifestação costuma ser diferente entre adultos e crianças.

TDAH em crianças e adolescentes

A maioria dos diagnósticos de TDAH em crianças e adolescentes geralmente ocorrem entre os 6 e 12 anos de idade. Confira quais são os principais sintomas:

  • Hiperatividade: as crianças com TDAH podem ter dificuldade em permanecer sentadas por muito tempo. Comportamentos como ficar andando para lá e pra cá, manipular objetos e estar sempre movimentando os pés e as mãos são algumas das características comuns.
  • Desatenção: pode ser difícil manter a criança com TDAH focada em determinada atividade. Elas se distraem facilmente com os estímulos do ambiente e com seus próprios pensamentos. Certamente, isso pode interferir no desempenho escolar. Frequentemente, crianças e adolescentes com TDAH têm ótimo desempenho em disciplinas que despertam seu interesse, ao mesmo tempo que vão mal naquelas que lhes são desinteressantes.
  • Impulsividade: os comportamentos de impulsividade na criança e adolescente incluem a dificuldade em esperar a sua vez em filas, responder perguntas antes de terem sido concluídas, interromper a fala do outro e agir sem pensar.
  • Memória: outra característica comum é esquecer as coisas com frequência. Por exemplo: esquecer de levar um material solicitado para a escola, esquecer a matéria aprendida recentemente, esquecer de dar recados para os pais, etc.  2

TDAH no adulto

Assim como acontece no autismo, o TDAH é visto por muitos como um transtorno da infância. Entretanto, essa é uma visão errada sobre o transtorno. O TDAH, assim como o autismo, não é uma doença, portanto, não tem cura. Ocorre que, em muitos casos, os sintomas diminuem significativamente entre a adolescência e a vida adulta, o que cria essa imagem de que as pessoas se curam da condição. Ainda assim, estima-se que pelo menos 60% das pessoas com TDAH permaneçam com os intensos sintomas do TDAH, o que muitas vezes interfere significativamente em suas vidas, principalmente se somados às características do autismo.

Também é comum que o TDAH seja descoberto apenas na vida adulta, já que os dois transtornos compartilham de alguns mesmos sintomas, como o hiperfoco, por exemplo, que é o interesse intenso e muitas vezes restrito por determinados assuntos.

Sintomas de TDAH em adultos:

  • Dificuldades no gerenciamento do tempo e organização de tarefas, o que pode resultar em atrasos constantes aos compromissos e prazos, por exemplo.
  • Distrações constantes e dificuldades de manter o foco em atividades de longa duração.
  • Comportamento procrastinador somado a distorções cognitivas de auto engano, como deixar algo importante para mais tarde acreditando que vai dar tempo, mesmo que isso não seja verdade.
  • Agitação mental e/ou física, como não conseguir ficar parado por muito tempo ou desenvolver “tiques” como batucar ou balançar os pés e mãos.
  • Impulsividade, como dizer ou fazer coisas sem pensar e se arrepender depois, interromper outras pessoas e fazer comentários inapropriados sem se dar conta disso a tempo.
  • Hiperfoco, que nada mais é do que a concentração excessiva em determinadas atividades ou assuntos, o que pode prejudicar ainda mais a atenção nas atividades que são mais relevantes para o momento.

Tratamentos

O tratamento é indispensável para melhorar os sintomas inconvenientes do TDAH. O médico que realiza o diagnóstico é geralmente o neurologista, e a orientação costuma ser a administração de medicamentos específicos somados a psicoterapia comportamental. Isso vale tanto para crianças, quanto para os adultos.

Transtorno Opositivo Desafiador (TOD)

comorbidades do autismo

Fonte: twenty20photos

O TOD é um transtorno do comportamento em que a criança exibe um padrão de humor irritado ou mal-humorado somado a comportamentos desafiadores e desobedientes. Eles sentem dificuldade em acatar instruções e ordens de pessoas em posição de autoridade, como seus pais e professores, por exemplo. O comportamento da criança frequentemente atrapalha sua rotina diária, como durante as atividades dentro da família e na escola.

Estima-se que entre 16% a 28% dos autistas tenham também TOD. 7 Veja quais são os principais sintomas:

  • Ter acessos de raiva com frequência;
  • Discutir excessivamente com adultos, especialmente aqueles que exercem papel de autoridade;
  • Descumprir instruções e regras;
  • Provocar propositalmente irritação nos outros, ou ser facilmente irritado por eles;
  • Culpar os outros por seus erros;
  • Comportamento rancoroso e de vingança;
  • Xingar ou usar linguagem obscena;
  • Dizer coisas maldosas quando está chateado.

Tratamentos

Os tratamentos mais comuns para o TOD são a psicoterapia comportamental e terapia familiar. Embora não existam medicamentos específicos para esses casos, eles podem ser prescritos com o objetivo de controlar outras condições que podem estar presentes, como ansiedade e depressão, o que não é raro. Quando esses outros problemas estão sob controle, os sintomas do TOD também tendem a diminuir.

Ansiedade

A ansiedade é uma sensação de mal-estar, como preocupação ou medo, que pode ser leve ou grave. Certamente, todo mundo tem sentimentos de ansiedade em algum momento da vida. Você pode se sentir preocupado e experienciar sintomas de ansiedade antes de uma prova, exame médico ou uma entrevista de emprego, por exemplo. Em momentos como esses, sentir-se ansioso é de fato normal. Mas quando as pessoas se sentem ansiosas na maior parte do tempo e os sintomas são intensos demais e interferem na qualidade de vida e no dia a dia em geral, é importante buscar ajuda de um psicólogo, psiquiatra ou com o médico que já faz o acompanhamento do autista.

Saiba quais são os principais sintomas da ansiedade:

  • Suor excessivo;
  • Insônia;
  • Crises de pânico;
  • Sensação de falta de ar;
  • Pensamentos negativos, como de que algo ruim esteja para acontecer, por exemplo;
  • Sensação de aperto no peito;
  • Náuseas ou sensação de embrulho no estômago.

Estima-se que a ansiedade em suas diferentes formas esteja presente em cerca de 42% a 56% dos autistas. 7 De fato, existem muitas razões para os transtornos de ansiedade serem tão comuns entre as pessoas do espectro. Se você quer saber mais sobre a relação da ansiedade com o autismo, você pode acessar nosso artigo completo e detalhado sobre o tema clicando aqui.

Depressão

menina autista problemas

Fonte: Envato – wayhomestudioo

A depressão é uma condição que causa sentimentos persistentes de tristeza e/ou desesperança. Qualquer pessoa pode ser diagnosticada com depressão, e os sintomas são os mesmos para qualquer um, independentemente de ser autista ou não. Entretanto, pesquisas sugerem que pessoas autistas podem ter maior probabilidade de sofrer de depressão do que a população em geral. 8

Identificar os sinais de depressão é essencial, e o tratamento é de fato indispensável. Confira quais são os principais sintomas:

  • Pouca energia e motivação para realizar as atividades do dia a dia;
  • Perda de interesse em atividades que costumam ser interessantes;
  • Baixa autoestima;
  • Mudanças no apetite e/ou peso, podendo passar a comer mais ou menos que o normal;
  • Sentimentos de desesperança e incapacidade;
  • Diminuição da frequência das interações sociais;
  • Tristeza e melancolia profunda.

Não podemos deixar de citar que a depressão pode levar a consequências graves como o suicídio, então, nunca negligencie ou sinais ou a necessidade de tratamento e acompanhamento.

Novamente, se você quer saber mais detalhes sobre a relação entre a depressão e o autismo, acesse o nosso artigo completo sobre o tema clicando aqui.

Epilepsia

A epilepsia é mais comum em autistas do que em pessoas neurotípicas. Assim como ocorre com o autismo, é mais frequente que pessoas epiléticas herdem a condição geneticamente. Muitas vezes, ambas condições são passadas de geração para geração. 4
E se engana quem pensa que epilepsia é apenas sobre crises convulsivas. Os sintomas da epilepsia são diversos, visto que existem diversos tipos de crises. Alguns deles, inclusive, são tão sutis que podem até mesmo passar despercebidos, o que é um problema, pois a epilepsia precisa ser tratada para evitar complicações e acidentes.

Vamos conhecer e aprender a identificar os sintomas dos principais tipos de crise? Confira:

Crises focais

Conhecidas também como crises parciais, levam esses nomes por atingirem apenas um dos lados do cérebro. Elas se subdividem em dois tipos principais:

  1. Simples: Nesse tipo de crise, geralmente ocorrem alterações sensoriais nos cheiros, sabores ou sons. Também podem ocorrer tonturas e formigamento, além de movimentos corporais involuntários. Apesar disso, a pessoa não perde a consciência.
  2. Complexas: Podem surgir os mesmos sintomas de uma crise simples, mas nesse caso, há também alguma alteração ou até mesmo perda de consciência. Movimentos repetitivos como esfregar as mãos são comuns, assim como a pessoa não conseguir responder e interagir com o ambiente à sua volta. 5

Crises generalizadas

São aquelas que atingem os dois lados do cérebro. Aqui, novamente, existem subtipos. Confira quais são eles:

    1. Crises de ausência: A pessoa com esse tipo de crise fica “olhando para o nada”, sem interagir com o ambiente ao seu redor. Podem ocorrer movimentos sutis como piscar os olhos, mas em geral, a pessoa fica totalmente desconectada da realidade, ainda que aparente estar acordada. 5
    2. Crises mioclônicas: Durante esse tipo de crise, ocorrem movimentos repentinos e bruscos nos braços e/ou pernas. Esses espasmos podem facilmente serem confundidos com empurrões, por exemplo, já que a pessoa não perde a consciência. Elas podem atingir apenas um ou ainda os dois lados do corpo. 6
    3. Crises atônicas: Ainda que a pessoa mantenha a consciência, ela perde o controle muscular. É perigosa pois se ocorrer quando a pessoa está em pé, seja parada ou caminhando, podem ocorrer quedas, o que aumenta o risco de acidentes.
    4. Crises tônicas: Se manifesta através da rigidez muscular. Nesse caso, regiões como os braços, pernas e costas podem ficar tencionados, o que também pode levar a quedas.
    5. Crises clônicas: Esse tipo de crise geralmente atinge regiões como braços, pescoço e rosto, e se caracteriza por movimentos repetitivos/rítmicos nessas regiões.
    6. Crises tônico-clônicas: É um dos tipos de crise mais comuns e conhecidos, onde ocorrem convulsões. Durante a crise, a pessoa perde a consciência e o corpo se torna rígido e trêmulo. Muitas vezes, a pessoa acaba se debatendo. Além disso, existem casos em que há perda do controle da bexiga e da língua.

Atenção!

Existe o mito que a pessoa com esse último tipo de crise pode se engasgar com a própria língua, o que não é verdade. Não coloque a mão nem mesmo objetos dentro da boca da pessoa em crise com o intuito de “desenrolar a língua”,  pois ela não está no controle do próprio corpo e pode te machucar, além disso, isso pode contribuir para um afogamento com saliva ou vômito.

A abordagem correta nesses casos é deitar a pessoa de lado em um local seguro, com a cabeça protegida por travesseiros e onde não tenham objetos próximos que possam machucá-la. Você também pode afrouxar as roupas da pessoa caso sejam apertadas a fim de facilitar a respiração. As crises costumam passar em pouco tempo, no entanto, caso durem mais de 5 minutos, chame uma ambulância, pois crises prolongadas oferecem riscos. 5

Tratamento

A maioria das pessoas com epilepsia tomam medicamentos antiepilépticos. Eles controlam as atividades elétricas no cérebro que causam as crises. Muitas vezes essas medicações precisam ser tomadas para o resto da vida, no entanto, existem casos em que a retirada é feita com sucesso, ou seja: as crises não retornam. Somente o médico pode fazer a retirada da medicação, que deve ser gradual.

Para casos em que os tratamentos tradicionais não funcionam, também pode ser prescrito pelo médico o canabidiol, que é um óleo extraído da planta cannabis e é aprovado para o tratamento da epilepsia.

Vale lembrar que a maioria dos casos em que uma crise ocorre mesmo depois de estabelecida a medicação de forma adequada são resultados de esquecimentos ou interrupções dos medicamentos sem orientação médica, o que pode ser perigoso.

autismo e comorbidades

Fonte: Envato – mstandret

Esse foi o nosso artigo sobre as comorbidades mais comuns do autismo. Você gostou do conteúdo? Então, nos acompanhe nas redes sociais Instagram e Facebook para ficar por dentro de mais conteúdos informativos como o que você acabou de ler.

Obrigado pela leitura e até logo!


Referências e datas de acesso:

1- National Autistic Society – Acesso em 25/08/2021.

2- Associação Brasileira do Déficit de Atenção – Acesso em 25/08/2021.

3- Unimed Fortaleza – Acesso em 25/08/2021.

4- Autistica – Acesso em 25/08/2021.

5- Drauzio Varella – Acesso em 26/08/2021.

6- Manual MSD – Acesso em 26/08/2021.

7- Grupo Conduzir – Acesso em 26/08/2021.

8- National Autistic Society Acesso em 26/08/2021.

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Uma resposta para “Comorbidades do autismo: quais são as mais comuns?”

  1. Aparecida disse:

    Seletividade alimentar. Um.grande problema.

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