Autismo na família: mãe fala sobre os impactos do diagnóstico do filho


Postado por Autismo em Dia em 30/out/2020 - 8 Comentários

Quando uma mãe ou um pai recebe o diagnóstico de uma criança, é difícil uma história que não passe pelos impactos do autismo na família. Apesar de, muitas vezes, quando falamos de autismo, a figura da mãe ser a mais evidente, sempre existe algo mais profundo. Como é o caso da história que vamos contar hoje.

Nossos proTEAgonistas da vez  vem de Belford Roxo, município da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. A cabeleireira Carine Brasil, é mãe do Abraão, um rapazinho autista de 7 anos de grau leve. O nascimento do desejado filho trouxe à família alegrias e, igualmente, momentos de dificuldades. Em especial na vida do pai, Rafael, que travou uma luta consigo mesmo até que ele, de fato, olhasse o autismo com mais esperança.

Com 29 anos, Carine é uma das mães mais jovens que já entrevistamos. Mas, não se engane, ela é uma mulher de bagagem. Você ficou curioso(a)? Então acompanhe com com a gente essa história.

autismo na familia: Abraão fazendo um aceno

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Carine Brasil

Índice

A descoberta do autismo

Muitos autistas não gostam do toque e não têm tanta facilidade em demonstrar sentimentos. Porém, Abraão é muito afetivo. Tanto que essa é a primeira coisa que Carine nos contou sobre o filho. “A nossa família é bem amorosa e, graças a Deus, o Abraão gosta de abraçar, ele diz que ama. Ele tem evoluído muito. A gente mostra pra ele como é estrutura de uma família. Nós ensinamos que uma família abraça, ama, elogia”, conta. “E mostramos pra ele, também, que ele é muito amado”.

E, por falar em família, Carine conta que só descobriu o autismo em Abraão por causa do irmão mais novo, Davi.

Abrão já tinha 4 anos e ainda não falava mais do que ‘papa’ e ‘mama’. Carine vivia preocupada, pensando que o filho nunca falaria. E a pediatra que cuidava do menino entendia que era só um atraso de fala. Então Carine engravidou novamente e Abraão – que já era muito agitado – demonstrou um comportamento agressivo e chegou a parar de falar com própria mãe.

“Ele era sempre muito amoroso com os primos e se dava bem com as outras crianças. Mas quando eu engravidei ele começou a bater nos outros até que a psicopedagoga da escola me chamou e disse para eu levá-lo num psicólogo.”

Sendo desafiada como mãe

Depois de algumas semanas, a psicóloga que cuidou de Abraão disse para Carine que, no entendimento dela, esse era um caso de autismo. “Eu saí de lá aliviada, um pouco. Mesmo sem saber ainda, dentro de mim eu já imaginava que ele podia ter algo. Eu mesma já via alguns sinais. Ele era muito agitado, o sono era difícil, ele dormia muito tarde e acordava muito cedo. Foi uma época muito desgastante e, com a chegada do Davi, as coisas pioraram”, explica Carine.

Porém, a agressividade em Abraão, como Carine conta, não era direcionada ao irmão mais novo. Ele passou a me desprezar, mas tinha muito carinho pelo irmão. Só queria saber do irmão, do pai e da avó paterna”. 

Mesmo assim, Carine seguiu em frente. Como seu marido tinha que trabalhar, ela lidava diariamente, sozinha, com um recém-nascido e Abraão. “Eu agarrava nos dois e ia com eles para as os médicos, em busca de saber o que ele tinha.”

Abraão, menino autista

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Carine Brasil

Autismo: alívio e temor na família

Bem antes de sequer imaginar que um dia veria o autismo na família, Carine já sabia um pouco como era a vida de uma criança especial. Antes de ser mãe, ela trabalhou em escola e chegou a cuidar de uma criança com microcefalia. Além disso, fez vários cursos cedidos pela prefeitura de Belford Roxo.

“Quando aconteceu isso tudo com o Abraão, me veio à memória todas essas coisas. No primeiro momento eu me desesperei. Mas corri atrás e marquei cedo um neurologista. Como não existe um exame para diagnóstico, tudo que eu fiz foi mostrar a ele os comportamentos. Abraão gosta de colocar as coisas enfileiradas, ele é extremamente organizado. Não dorme em cama bagunçada e tem que ser sempre os mesmos lençóis. Quando ele cisma com uma roupa, tem que sempre aquela roupa”.

E, assim, Carine tinha o diagnóstico e, finalmente, sabia que caminho seguir no tratamento do filho.

Autismo na família e o sentimento de culpa

Quando parecia que as coisas finalmente tomariam um rumo adequado, o autismo na família começou a mostrar um de seus maiores impactos.

“Eu passei por momentos de luta, muitas vezes sozinha. Meu esposo, no começo, não aceitava a situação. Muitas vezes eu nem comentava nada do que acontecia nas terapias porque eu não sabia qual ia ser a reação dele. Ele começou a beber muito. E quando ele chegava bêbado, ele chorava. Ele falava que a culpa era dele de o Abraão ser autista. Ele me pedia perdão porque, no momento da gravidez, eu passei por momentos difíceis. Era uma época em que a gente estava meio separado. Ele ficou se sentindo culpado. Então eu comecei a pesquisar e estudar mais pra explicar pra ele. Estou sempre lendo e estudando e anotando o que acho mais importante.

Acredito que o Abraão seja um propósito de Deus na minha vida e o Davi a continuação do propósito. Se não fosse pelo Davi eu não saberia até hoje que o Abraão é autista.”, conclui.

Autismo na família: uma grande transformação

Hoje, a família tem muito o que comemorar. Tanto no que aconteceu com Abraão quanto no final da história com o pai.

Abraão, como conta Carine, tem algumas limitações, mas já começou a falar. Além disso, está sempre espalhando alegria pela casa. “Ele gosta de música e é muito alegre. Já acorda falando ‘bom dia, mamãe’, ‘bom dia, papai, eu te amo muito’. Claro, ele tem os momentos de crise nervosa, não gosta de ser contrariado. E tem dias que eu estou esgotada. Mas tento agradecer a Deus o tempo todo pela vida dele.”

Carine gosta de lembrar que o significado do nome Abraão é ‘pai da fé’. E, para ela, isso certamente vem se tornando realidade para a família. “Ele tem sido a minha fé e a do pai dele. Porque, automaticamente, o Rafael também mudou muito. E mudou para melhor. Hoje ele é um pai mais presente, mais amoroso, tem mais paciência“.

autismo na familia: Abraão em dois momentos, em casa e na escola, fazendo uma oração

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Carine Brasil

Uma reflexão sobre o autismo

Os momentos difíceis que Carine viveu por conta do autismo na família muitas vezes é, também, uma realidade fora de casa. A situação é igualmente difícil quando as famílias dos autistas estão em atividade na sociedade. Há casos de preconceito que chegam até a abalar o emocional das mães e dos pais, como várias das histórias que já contamos aqui.

Por isso, perguntamos a Carine o que, para ela, falta na sociedade para que isso tudo não seja mais um peso em meio a tantas outras dificuldades.

“Eu acredito que se tivesse mais informações, se abordassem mais o assunto na mídia, na TV, no Rádio e em outros lugares, o cenário seria outro. Mas as pessoas infelizmente preferem tirar suas próprias conclusões do que ir pesquisar pra falar a respeito. Eu comecei a estudar e comecei a passar pro meu esposo como as coisas funcionam. Ele foi abrindo um pouco a mente e encarando melhor a situação. Ele viu que o Abraão pode ‘ser alguém’, que ele vai poder crescer. E que isso vai depender muito do que a gente oferece como tratamento. Hoje ele sabe que existem médicos, professores e outros profissionais autistas. Se abordassem mais o assunto, nós, mães, não teríamos que passar por certas coisas”, conclui.

Abraão na pandemia

Como em muitas famílias de autistas, as dificuldades chegaram dobradas em 2020 para Carine, o marido e os filhos. A pandemia trouxe a ela desemprego e afetou a rotina do filho.

“No início foi bem complicado, ainda mais sem o suporte da psicóloga e as demais terapias que ele faz. A preocupação realmente tomou conta e, muitas vezes, tivemos que colocar o medo da covid-19 de lado e sair com o Abraão para ele se desestressar. Nem que fosse só uma volta no quarteirão, já que não dava nem pra visitar os primos com quem ele é muito apegado”,

Aliás, se você, leitor, está se perguntando como cuidar de uma criança autista em momentos como o da pandemia, recomendamos a leitura de um artigo bem legal. Clique aqui.

Ao abordarmos Carine, que gentilmente nos procurou para contar sua história, vemos que a família passa por mais um turbilhão, mas com a consciência e a gratidão de saber que já viveram dias piores. E Carine é assim, cheia de esperança. E sua mensagem final tem esse tom:

“A cada mãe ou pai que está lendo a minha história, quero que vocês tenham fé que os dias melhores virão. E que saibam que nossos filhos autistas ainda dependem muito da gente para crescer e evoluir. Então, desistir, jamais!”.

Gostou de conhecer a história da família da Carine? Como ela, existem milhares de histórias a serem descobertas. E teremos o maior prazer de contar a sua trajetória. É só nos procurar. Além do site, também estamos nas redes sociais. Se você preferir o Instagram, é nesse link. E se preferir o Facebook, é só clicar aqui.

E que tal também levar essa história emocionante para mais gente? É só compartilhar!

Até a próxima! =)

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8 respostas para “Autismo na família: mãe fala sobre os impactos do diagnóstico do filho”

  1. Elaine Ribeiro disse:

    Parabéns amiga, vc é uma lutadora e Abraão em presente para todos que o rodeiam. Conte sempre com a gente.

  2. Leandra disse:

    Muito guerreira, esforçada uma super mãe. Muito orgulhosa de vc minha amiga ♥️

  3. Carine disse:

    Quero agradecer as minhas amigas pelo carinho e ao Autismo em Dia,por ter me escutado e contado nossa história.
    Muito obrigada de ❤❤❤❤

  4. Vanessa costa disse:

    olha deus me de força assim como vc tem.Estou me sentindo totalmente sem chão.As crises so piorao.

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Vanessa. Sentimos muito por isso. Orientamos buscar ajuda com o neurologista e os terapeutas. Esperamos que passem por esa fse logo. Um abraço. 💙

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