Categorias
Posts Recentes
Postado por Autismo em Dia em 21/out/2022 - 6 Comentários
Quando se trata de autismo e sexualidade, duas coisas sã certas. A primeira é que pouco se fala disso. A segunda é que, apesar dos desafios, um autista pode ter uma vida sexual satisfatória. Os desafios aos quais estamos nos referindo aqui são sobre como o TEA influencia as habilidades de comunicação, interação, na forma de se comportamentar e, claro, os relacionamentos.
Hoje, vamos explicar como uma coisa afeta a outra, e quais os caminhos para que os autistas possam viver esses momentos íntimos sem prejuízos. E como autistas podem entender seus sentimentos relacionados ao prazer.
Fonte: westend61 – Envato
Índice
Uma pessoa autista precisa saber que não existe nada de errado em ter sentimentos sexuais. Por isso, é muito importante essa pessoa poder contar com um amigo ou uma pessoa da família para trocar ideias e conselhos.
É preciso entender que o sexo é natural e deve ser agradável e, principalmente, consentido entre os adultos envolvidos. Mas, sem dúvida, essa conversa pode começar já na adolescência, com o apoio dos pais, pois é nesse momento que os hormônios começam a influenciar os comportamentos futuros relacionados à sexualidade.
Abaixo, listamos algumas dicas de como discutir sentimentos sexuais com um autista:
Lembrete: a lista acima pode ser bastante útil para auxiliar em uma conversa com alguns autistas, principalmente os que não sabem administrar muito bem as regras sociais. No entanto, isso não é o caso de todos os autistas. Na maior parte dos casos, você estará conversando com uma pessoa adulta que não deve ter a própria inteligência subestimada.
Fonte: Stockphoty – Envato
O autismo não impede que uma pessoa se desenvolva sexualmente, nem que tenha desejos. Claro que, para os autistas de nível severo, a sexualidade é vivida, muitas vezes, de forma diferente no sentido de relacionamentos. Mas, não exclui cuidados e avisos sobre o que acontece com o corpo.
Um estudo recente, feito em 2021 pela Universidade de Quebec, no Canadá, trouxe uma resposta que pode parecer um tanto quanto óbvia, mas que serve de ponto de partida para alguns esclarecimentos. A conclusão desse estudo é de que a maioria dos adolescentes e jovens autistas têm, sim, interesse em sexo e em relacionamentos. ¹
A partir daí, o estudo observou que esses jovens e adolescentes no espectro do autismo tinham menos conhecimento sobre sexo ou sobre questões de privacidade. Significando, assim, que eles estão mais propensos a desenvolverem comportamentos sexuais que podem não ser muito adequados.
Para os pesquisadores que conduziram a pesquisa, estes são os fatores que poderiam explicar a falta desses conhecimentos:
Fonte: sofiiashunkina – Envato
Como já dissemos, há muitas coisas que os autistas podem aprender sobre sexualidade quando certas coisas não são tão óbvias. Principalmente no que diz respeito ao que é e o que não é socialmente aceitável.
Além disso, a educação sexual pode preparar os autistas para as mudanças que vão ocorrer no corpo na transição para a vida adulta a partir da puberdade.
A educação sexual deve levar em conta a puberdade, as questões reprodutivas, os riscos de gravidez e infecções, além de comportamentos no envolvimento com outra pessoa.
Pais, cuidadores e amigos, ao abordarem esses assuntos, podem se deparar com questões como: dificuldade no contato visual, inseguranças, dúvidas sobre menstruação e masturbação, paixões, obsessões, medos e muito mais.
A sexualidade, ainda que vivida na intimidade, pode ter origem na escola, na internet, com os amigos ou por influência de fatores externos que começam a habitar a imaginação de uma pessoa.
LEIA TAMBÉM: Autismo e puberdade: 6 dicas de como preparar a criança para esta fase
Fonte: josecarloscederno – Envato
Características do autismo podem, sem dúvida, afetar diretamente a prática sexual. E isso pode ser frustrante quando, na verdade o autista só busca a própria realização e a realização da outra pessoa.
O sexo envolve sons, sensações físicas e odores. Estas coisas podem, sem dúvida, deixar alguns autistas extremamente desconfortáveis. E isso deve ser compartilhado com o parceiro ou a parceira. Afinal, ninguém deve ser obrigado a fazer algo que não quer.
Muitos autistas passam por isso ainda que tenham relacionamentos de anos. E discutir isso pode facilitar a busca por soluções como um cabelo amarrado que não provoque cócegas, ou o uso de roupas leves que impeçam o contato direto na pele ou, ainda, o uso ou não uso de produtos que emitam fluidos e cheiros.
A comunicação é essencial no sexo. Ela serve para discutir necessidades, criar conexões e estabelecer os limites.
Muitos autistas, inclusive, sequer se sentem confortáveis para revelar o diagnóstico do autismo para seus parceiros, temendo que isso afunde qualquer possibilidade de relacionamento. Revelar ou não esse fato é uma escolha de cada um. No entanto, a longo prazo, isso pode ser importante.
Algo que também é essencial é que o autista e a outra pessoa saibam definir sinais de que o outro deve parar por completo o que está fazendo. Uma lista do SIM, do NÃO e do TALVEZ pode ser especialmente útil nesses casos.
Lembrando que sempre haverá o peso do que foi comunicado e também do que não foi dito. Parceiros e parceiras frequentemente terminam relacionamentos porque o outro:
Desconforto na comunicação pode deixar o autista mais ansioso. E ansiedade pode acabar com o prazer e a fluidez das práticas sexuais.
Na hora do sexo, um autista pode ter dificuldade de entender os sinais, sejam eles verbais ou não. A relação pode se beneficiar se o autista informa que todo sinal deve ser direto e objetivo. Do contrário, o autista pode não entender que seu parceiro ou parceira está sinalizando algum desconforto.
Fonte: YuriArcursPeopleimages – Envato
A sexualidade tem aspectos públicos e privados. Saber quais são as diferenças torna tudo mais seguro. Na lista abaixo, alguns exemplos de comportamentos que se relacionam direta ou indiretamente com a sexualidade e como elas se aplicam entre o privado e o público.
Ou seja, a sexualidade envolve diferentes níveis de vivência e todos eles ajudam a construir um relacionamento saudável com o tema.
Fonte: Prostock-studio – Envato
Os encontros e relacionamentos geralmente envolvem um potencial encontro sexual tanto quanto emocional. E isso vale para encontros no mundo real tanto quanto para relações de internet. E sempre haverá um código de conduta cujo objetivo é tornar tudo mais saudável e apropriado para ambos.
Tal como a ideia de limites, a reciprocidade também pode ser um conceito difícil de abordar com autistas. Enquanto alguns podem sempre achar que o outro jamais vai corresponder, outros podem entender que uma simples gentileza significa que a outra pessoa está totalmente afim.
O namoro também pode ser um conceito complexo para alguns autistas. No entanto, é preciso consolidar algumas verdades sobre como funciona um relacionamento nesta fase:
O autista precisa saber que é possível se apaixonar por mais de uma pessoa, mas que também é natural não estar apaixonado por ninguém. E haverá uma fase em que vai parecer que todas as pessoas ao redor estão vivendo ou em busca de viver uma paixão romântica.
O autista precisa saber que flertar pode ser divertido, mas que os limites do outro são tão importantes quanto os seus. Precisa saber que terminar relacionamentos pode ser difícil, mas extremamente necessário. Muitas vezes, praticar dizer mais vezes o SIM pode levá-lo a descobrir coisas novas e boas. E praticar mais vezes o NÃO, pode ajudar a esclarecer os próprios limites.
O autista também deve ter em mente que a internet pode ajudar no processo de relacionamento, já que não envolve o encontro direto. Mas que existem, também, perigos e armadilhas nem sempre tão claros. Além de, muitas vezes, promover uma comunicação sem as nuances do real.
LEIA TAMBÉM: Autismo e relacionamento amoroso – dicas para o encontro dar certo
Fonte: nd3000 – Envato
Ninguém deveria se envergonhar de seus sentimentos sexuais, quando eles não ferem a dignidade de outra pessoa, claro. E expressar isso pode ser saudável para um autista.
Uma pesquisa da Trusted Source, feita em 2020, concluiu que existe uma ligação entre a insatisfação sexual e os sintomas de depressão e a diminuição da saúde mental. Ou seja, diante de tantos gatilhos de estresse que atravessam os sinais de autismo, a prática da sexualidade pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade. E vale lembrar que os autistas podem ser bem mais suscetíveis a essas comorbidades. ²
Mesmo diante dos desafios, uma pessoa autista, como qualquer pessoa, deve ter uma relação de honestidade com seu foco de prazer, seja outra pessoa ou ele mesmo. A sexualidade pode ser um a forma de autoconhecimento em muitos níveis e um caminho para o desenvolvimento pessoal do autista.
***
Siga o Autismo em Dia nas Redes sociais. Fique por dentro de informação diversa e confiável através do nosso Instagram, Facebook e YouTube.
Até a próxima!
Este artigo foi livremente adaptado do original disponível em inglês no portal Medical News Today.
Referência bibliográfica e a data de acesso:
1. Frontiers – 19/09/2022
2. National Library of Medicine – 19/09/2022
“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”
louvavel , amei as explicacoes .
muito clara e objetiva.
💙
Me ajudou muito a entender os vários “eus” do autista.Gostar de um autista é muito complicado.Ainda mais que quem percebe é você e ele não sabe da própria condição.
Primeira vez que lí sobre as dificuldades na iniciação e vida sexual em caso de autismo como nesta matéria e esclareço que pesquiso há muito tempo , pois sou mãe de portador de TEA ! Parabéns ! Obrigada ! Gostaria de receber mais informações !
Obrigada por esclarecer tão precisamente ❤️