Autismo e sexualidade: como uma coisa afeta a outra?


autismo e sexualidade

Postado por Autismo em Dia em 21/out/2022 - 14 Comentários

Quando se trata de autismo e sexualidade, duas coisas sã certas. A primeira é que pouco se fala disso. A segunda é que, apesar dos desafios, um autista pode ter uma vida sexual satisfatória. Os desafios aos quais estamos nos referindo aqui são sobre como o TEA influencia as habilidades de comunicação, interação, na forma de se comportamentar e, claro, os relacionamentos.

Hoje, vamos explicar como uma coisa afeta a outra, e quais os caminhos para que os autistas possam viver esses momentos íntimos sem prejuízos. E como autistas podem entender seus sentimentos relacionados ao prazer.

sexualidade e autismo

Fonte: westend61 – Envato

Índice

Como ajudar uma pessoa a entender o impacto do autismo na sexualidade?

Uma pessoa autista precisa saber que não existe nada de errado em ter sentimentos sexuais. Por isso, é muito importante essa pessoa poder contar com um amigo ou uma pessoa da família para trocar ideias e conselhos.

É preciso entender que o sexo é natural e deve ser agradável e, principalmente, consentido entre os adultos envolvidos. Mas, sem dúvida, essa conversa pode começar já na adolescência, com o apoio dos pais, pois é nesse momento que os hormônios começam a influenciar os comportamentos futuros relacionados à sexualidade.

Dicas

Abaixo, listamos algumas dicas de como discutir sentimentos sexuais com um autista:

  • Deixe claro que, ao seu lado, essa pessoa está segura e pode, deste modo, fazer qualquer pergunta e expressar seus interesses.
  • Diante disso, seja uma pessoa aberta e sem julgamentos.
  • Ensine sobre como se comunicar com o parceiro ou parceira sobre coisas que gostam e, também, as que não gostam.
  • Explique sobre a existência de limites. Tanto os sociais quanto os individuais.
  • E, principalmente, fale sobre como eles merecem ser tratados com respeito por todo e qualquer parceiro em potencial.

Lembrete: a lista acima pode ser bastante útil para auxiliar em uma conversa com alguns autistas, principalmente os que não sabem administrar muito bem as regras sociais. No entanto, isso não é o caso de todos os autistas. Na maior parte dos casos, você estará conversando com uma pessoa adulta que não deve ter a própria inteligência subestimada.

TEA e relacionamentos

Fonte: Stockphoty – Envato

Como o autismo afeta o desenvolvimento da sexualidade

O autismo não impede que uma pessoa se desenvolva sexualmente, nem que tenha desejos. Claro que, para os autistas de nível severo, a sexualidade é vivida, muitas vezes, de forma diferente no sentido de relacionamentos. Mas, não exclui cuidados e avisos sobre o que acontece com o corpo.

Um estudo recente, feito em 2021 pela Universidade de Quebec, no Canadá, trouxe uma resposta que pode parecer um tanto quanto óbvia, mas que serve de ponto de partida para alguns esclarecimentos. A conclusão desse estudo é de que a maioria dos adolescentes e jovens autistas têm, sim, interesse em sexo e em relacionamentos. ¹

A partir daí, o estudo observou que esses jovens e adolescentes no espectro do autismo tinham menos conhecimento sobre sexo ou sobre questões de privacidade. Significando, assim, que eles estão mais propensos a desenvolverem comportamentos sexuais que podem não ser muito adequados.

O que explica o comportamento?

Para os pesquisadores que conduziram a pesquisa, estes são os fatores que poderiam explicar a falta desses conhecimentos:

  • Dificuldades de interação com outras pessoas
  • Educação sexual insuficiente
  • Capacitismo assumindo que o autista não tem sentimentos sexuais ou que é sempre inocente demais.
  • Exclusão dos círculos sociais
  • Estigmatização do autista
sexo e autismo

Fonte: sofiiashunkina – Envato

Por que educação sexual também é importante para um autista?

Como já dissemos, há muitas coisas que os autistas podem aprender sobre sexualidade quando certas coisas não são tão óbvias. Principalmente no que diz respeito ao que é e o que não é socialmente aceitável.

Além disso, a educação sexual pode preparar os autistas para as mudanças que vão ocorrer no corpo na transição para a vida adulta a partir da puberdade.

A educação sexual deve levar em conta a puberdade, as questões reprodutivas, os riscos de gravidez e infecções, além de comportamentos no envolvimento com outra pessoa.

Pais, cuidadores e amigos, ao abordarem esses assuntos, podem se deparar com questões como: dificuldade no contato visual, inseguranças, dúvidas sobre menstruação e masturbação, paixões, obsessões, medos e muito mais.

A sexualidade, ainda que vivida na intimidade, pode ter origem na escola, na internet, com os amigos ou por influência de fatores externos que começam a habitar a imaginação de uma pessoa.

LEIA TAMBÉM: Autismo e puberdade: 6 dicas de como preparar a criança para esta fase

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Fonte: josecarloscederno – Envato

Como o autismo afeta a prática sexual?

Características do autismo podem, sem dúvida, afetar diretamente a prática sexual. E isso pode ser frustrante quando, na verdade o autista só busca a própria realização e a realização da outra pessoa.

Questões sensoriais mais sensíveis

O sexo envolve sons, sensações físicas e odores. Estas coisas podem, sem dúvida, deixar alguns autistas extremamente desconfortáveis. E isso deve ser compartilhado com o parceiro ou a parceira. Afinal, ninguém deve ser obrigado a fazer algo que não quer.

Muitos autistas passam por isso ainda que tenham relacionamentos de anos. E discutir isso pode facilitar a busca por soluções como um cabelo amarrado que não provoque cócegas, ou o uso de roupas leves que impeçam o contato direto na pele ou, ainda, o uso ou não uso de produtos que emitam fluidos e cheiros.

Comunicação

A comunicação é essencial no sexo. Ela serve para discutir necessidades, criar conexões e estabelecer os limites.

Muitos autistas, inclusive, sequer se sentem confortáveis para revelar o diagnóstico do autismo para seus parceiros, temendo que isso afunde qualquer possibilidade de relacionamento. Revelar ou não esse fato é uma escolha de cada um. No entanto, a longo prazo, isso pode ser importante.

Algo que também é essencial é que o autista e a outra pessoa saibam definir sinais de que o outro deve parar por completo o que está fazendo. Uma lista do SIM, do NÃO e do TALVEZ pode ser especialmente útil nesses casos.

Lembrando que sempre haverá o peso do que foi comunicado e também do que não foi dito. Parceiros e parceiras frequentemente terminam relacionamentos porque o outro:

  • Ignorou suas tentativas de comunicação.
  • Não deu atenção às suas necessidades sensoriais.
  • Podem fazê-lo se sentir mal.
  • Não parecem corresponder à dinâmica da relação.

Desconforto na comunicação pode deixar o autista mais ansioso. E ansiedade pode acabar com o prazer e a fluidez das práticas sexuais.

Na hora do sexo, um autista pode ter dificuldade de entender os sinais, sejam eles verbais ou não. A relação pode se beneficiar se o autista informa que todo sinal deve ser direto e objetivo. Do contrário, o autista pode não entender que seu parceiro ou parceira está sinalizando algum desconforto.

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Fonte: YuriArcursPeopleimages – Envato

O autismo e os aspectos da sexualidade

A sexualidade tem aspectos públicos e privados. Saber quais são as diferenças torna tudo mais seguro. Na lista abaixo, alguns exemplos de comportamentos que se relacionam direta ou indiretamente com a sexualidade e como elas se aplicam entre o privado e o público.

  • PRIVADO: praticado em banheiros ou quartos privativos – geralmente envolve higiene pessoal, masturbação e o sexo com outra pessoa.
  • SEMI-PRIVADO: vestiários, provadores de roupa e consultórios médicos – geralmente envolve o uso de banheiros compartilhados a troca de roupa ou a necessidade de se despir diante de alguém.
  • SEMI-PÚBLICO: Locais de trabalho ou locais que tenham uma definição clara de códigos de conduta, como a internet – geralmente envolve colocar a sexualidade em pautas de conversas.
  • PÚBLICO: Locais públicos como cinemas, ruas, praças, lojas, entre outros – nesses locais, é aceitável que carícias sejam trocadas, como dar beijos, abraços e andar de mãos dadas.

Ou seja, a sexualidade envolve diferentes níveis de vivência e todos eles ajudam a construir um relacionamento saudável com o tema.

dicas para falar de sexo com autista

Fonte: Prostock-studio – Envato

O autista nos encontros e nos relacionamentos

Os encontros e relacionamentos geralmente envolvem um potencial encontro sexual tanto quanto emocional. E isso vale para encontros no mundo real tanto quanto para relações de internet. E sempre haverá um código de conduta cujo objetivo é tornar tudo mais saudável e apropriado para ambos.

Tal como a ideia de limites, a reciprocidade também pode ser um conceito difícil de abordar com autistas. Enquanto alguns podem sempre achar que o outro jamais vai corresponder, outros podem entender que uma simples gentileza significa que a outra pessoa está totalmente afim.

Relacionamentos saudáveis incluem:

  • Comunicação
  • Confiança
  • Respeito às emoções
  • Respeito ao físico
  • Honestidade
  • Igualdade de poder
  • Aceitação
  • Correspondência

A prática do namoro

O namoro também pode ser um conceito complexo para alguns autistas. No entanto, é preciso consolidar algumas verdades sobre como funciona um relacionamento nesta fase:

O autista precisa saber que é possível se apaixonar por mais de uma pessoa, mas que também é natural não estar apaixonado por ninguém. E haverá uma fase em que vai parecer que todas as pessoas ao redor estão vivendo ou em busca de viver uma paixão romântica.

O autista precisa saber que flertar pode ser divertido, mas que os limites do outro são tão importantes quanto os seus. Precisa saber que terminar relacionamentos pode ser difícil, mas extremamente necessário. Muitas vezes, praticar dizer mais vezes o SIM pode levá-lo a descobrir coisas novas e boas. E praticar mais vezes o NÃO, pode ajudar a esclarecer os próprios limites.

O autista também deve ter em mente que a internet pode ajudar no processo de relacionamento, já que não envolve o encontro direto. Mas que existem, também, perigos e armadilhas nem sempre tão claros. Além de, muitas vezes, promover uma comunicação sem as nuances do real.

LEIA TAMBÉM: Autismo e relacionamento amoroso – dicas para o encontro dar certo

autista pode expressar a sexualidade

Fonte: nd3000 – Envato

O autista pode expressar sua sexualidade

Ninguém deveria se envergonhar de seus sentimentos sexuais, quando eles não ferem a dignidade de outra pessoa, claro. E expressar isso pode ser saudável para um autista.

Uma pesquisa da Trusted Source, feita em 2020, concluiu que existe uma ligação entre a insatisfação sexual e os sintomas de depressão e a diminuição da saúde mental. Ou seja, diante de tantos gatilhos de estresse que atravessam os sinais de autismo, a prática da sexualidade pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade. E vale lembrar que os autistas podem ser bem mais suscetíveis a essas comorbidades. ²

Mesmo diante dos desafios, uma pessoa autista, como qualquer pessoa, deve ter uma relação de honestidade com seu foco de prazer, seja outra pessoa ou ele mesmo. A sexualidade pode ser um a forma de autoconhecimento em muitos níveis e um caminho para o desenvolvimento pessoal do autista.

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Até a próxima!

Este artigo foi livremente adaptado do original disponível em inglês no portal Medical News Today.

Referência bibliográfica e a data de acesso:

1. Frontiers – 19/09/2022

2. National Library of Medicine – 19/09/2022

 

 

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14 respostas para “Autismo e sexualidade: como uma coisa afeta a outra?”

  1. maria de fatima aristeu disse:

    louvavel , amei as explicacoes .

  2. Geni disse:

    muito clara e objetiva.

  3. MARCIA APARECIDA PEREIRA disse:

    Me ajudou muito a entender os vários “eus” do autista.Gostar de um autista é muito complicado.Ainda mais que quem percebe é você e ele não sabe da própria condição.

  4. Regina Machado disse:

    Primeira vez que lí sobre as dificuldades na iniciação e vida sexual em caso de autismo como nesta matéria e esclareço que pesquiso há muito tempo , pois sou mãe de portador de TEA ! Parabéns ! Obrigada ! Gostaria de receber mais informações !

  5. Eliane Maria Buccelli disse:

    Obrigada por esclarecer tão precisamente ❤️

  6. wmcl disse:

    eu venho me identificando cada dia mais com tudo isso depois que minha irma teve dois filhos autistas, e percebi que tenho muito em comum com eles, na questao do sexo tenho as vezes dificuldades com algumas parceiras e outras uma facilidade, tenho as vezes dificuldade de me concentrar na hora do ato principalmente quando mulher ja quer ir direto, creio que pra quem tem autismo as preliminares fazem todo sentido, ate pq o autista demora acimilar as coisas entao sexo nao e so um ato em si mas envolve muita coisa.

  7. Julyany disse:

    Meu esposo e autista mais eu que descobri o dele e vir nesse post totalmente ele ai no texto queria ficar por dentro conhecendo e entendendo mais sobre o autismo .

  8. Ivanildo Barbosa Mendes disse:

    bem explicativo, sempre aprendendo sobre autismo e suas nuances.

  9. Samuel disse:

    O conteúdo é ótimo parabéns.

    Eu descobri recentemente que tenho autismo depois dos 39 anos, sempre sofri rejeições e olhares de pessoas que me achava um estranho e nunca entendi isso, hoje já sabendo que sou autista agora começa a entender porque sempre me senti esquisito perante outras pessoas.

    A sexualidade nunca teve importância porque para pensar em sexo ou algo íntimo teria que haver uma conexão primeiro de carícias e preliminares para fazer sentido que dá pra evoluir para sexo.
    Infelizmente é muito difícil chegar do nada dizendo que quer sexo, porque isso não faz sentido para mim e nem ereção acontece, exige preliminares, carícias e toques.
    Discussão ou questionamento esfria o momento e desconecta por completo a nível de abandono da ideia de sexo por completo.

    muito bom poder deixar aqui o comentário.

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