Categorias
Posts Recentes
Postado por Autismo em Dia em 09/out/2023 - Sem Comentários
O brincar é importante para qualquer criança. Durante boa parte da primeira infância até os 10 anos, é através de atividades lúdicas que muitas coisas serão elaboradas e desenvolvidas, porém no universo do TEA, é necessário levar em consideração brincadeiras funcionais.
As brincadeiras ou brinquedos sensoriais, por exemplo, são ótimas opções para trabalhar questões de interação com o meio, podem estimular tanto a comunicação verbal quanto a não verbal, e ainda ajuda nas questões de rigidez. Existem várias opções que iremos citar a seguir, tanto para replicar quanto para adaptar ou inspirar a criar novas ideias com seu filho(a) ou aluno(a).
Em casa ou na escola, são os adultos que terão que analisar qual é a melhor escolha de brincadeira, pois a observação das características e particularidades de cada criança, devem ser levadas em conta.
Além disso, algumas habilidades terão que ser desenvolvidas pelos cuidadores para que a experiência do brincar seja sempre um momento mais próximo de prazer do que estresse para o autista. Desenvolver a paciência para que o autista interaja e brinque de fato, é essencial. Outra coisa muito importante é não misturar muitas opções no mesmo momento, sempre brincar de uma coisa por vez.
Com nossas dicas, você pode criar uma rotina semanal de brincadeiras que irão beneficiar muito o desenvolvimento da criança, sabendo que ela pode esperar aquele momento para interagir através do que é lúdico.
Através dessas ideias, outras novas surgirão. E o objetivo é, sem dúvida, que o brincar seja frequente para ajudar cada vez mais no desenvolvimento das habilidades necessárias. Logo, essas habilidades vão ajudar a criança a interagir melhor com o meio em que vive e, ainda, ter mais foco em aspectos relacionados às terapias.
Unir as duas coisas é, sem dúvida, um caminho importante e necessário.
Então vamos lá…
Fonte: Envato /YouraPechkin
Só o fato de estar na natureza já é, por si só, um convite para o autista entrar em contato com cores, texturas, cheiros, etc. Juntos, vocês podem escolher elementos como folhas, flores, galhos, pedrinhas e podem usar a imaginação para criar um momento de contato com as texturas, na medida do possível, e de concentração em mexer com os elementos que escolheram juntos. Não é preciso ir muito longe para fazer a vivência com a natureza acontecer. Pode ser em um passeio no caminho para a escola, uma ida ao parquinho que tenha flores, folhas e areia. Ou, que, sabe, você more perto de uma praia ou de um sítio.
Esta brincadeira é diferente do esconde-esconde tradicional, mas tão simples quanto. Assim, você vai precisar somente de alguns brinquedos e, juntos, estabelecerem regras como: espaço que podem esconder, quantos objetos serão e aí é só ir intercalando. Enquanto o adulto esconde, a criança fica de costas esperando para ir procurar.
Esta é uma das brincadeiras funcionais que promove a interação e ajuda a desenvolver a comunicação e a expressão. No entanto, a conexão que essa atividade proporciona entre o adulto e a criança, com certeza será a melhor experiência.
Sabe aquele dia em que falta ideia para inovar? Nesta brincadeira basta escolher um cesto de roupa ou um balde grande e jogarem a bola pra tentar acertar. Muito simples e não precisa de muito material. Aqui, a criança vai desenvolver a coordenação motora e o foco.
Mas aqui vai uma dica importante: não crie para a brincadeira um ambiente de competição, mas sim um espaço para desenvolver o que foi observado e que precisa de atenção.
Você já experimentou deitar no seu quintal ou em qualquer lugar a céu aberto que tenha segurança e ficar olhando para as nuvens.? Com a criança autista, este ato simples pode ajudar a promover um momento de relaxamento, apoiando muito em dias que ela precisa focar na regulação emocional. É, de fato, uma forma “ativa” de meditação com crianças.
Mas não esqueça de considerar as questões sensoriais ao deitar, pois pode ser que a criança não queira deitar na grama. Nada que uma adaptação básica como levar uma toalha nã ajude.
Fonte: Envato/Mint_Images
A argila pode ser um ótimo recurso para ter em casa e na escola. Um elemento simples e que ajuda muito no contato com uma textura diferente e na compreensão de que as coisas mudam, se transformam. Isso pode promover o aprendizado sobre flexibilidade e adaptabilidade, bem como auxiliar no foco e, dependendo de questões sensoriais, vai ajudar na regulação emocional. Mas nem toda criança autista gosta de mexer na argila e, antes de propor, avalie se faz sentido entre os interesses da criança ou se ela está disposta a algo novo.
Não, esta não é uma dica para estimular a traquinagem, mas sim em usar formas artísticas de promover a auto expressão.
No autismo fazer arte é uma forte aliada para ensinar a lidarem com o diferente, já que cada um se expressa do seu jeito. Incentivar e fortalecer a memória visual que é algo bem característico de crianças com autismo. Em casa ou na escola, utilizando tinta ou apenas desenhos, essa opção é uma das mais fáceis e fluidas, além de ser transformadora para quem participa. E mesmo que se repita toda semana, nunca vai ser igual, o que também ajuda a lidar com mudanças de forma lúdica e positiva.
Podemos fazer essa atividade desenhando carinhas de emoções básicas como a tristeza, felicidade, raiva, ansiedade. E a criança desenvolve um repertório maior para expressar o que sente, seja comunicando verbalmente ou não.
Esta, também, é uma das brincadeiras funcionais que ensina a criança sobre como regular as emoções, pode ser conversando como lidar com cada uma, e também pode usar o desenho para a criança expressar no papel o que ela entendeu ao ver cada carinha. Ajuda também os adultos a aprenderem a lidar com as suas próprias emoções. Ou seja, todo mundo asai ganhando!
Fonte: Envato /BGStock72
Esperamos que tenha gostado das nossas dicas para aumentar ideias sobre brincadeiras, e que aproveite o texto para brincar mais com sua criança ou seu aluno(a) no dia a dia. Faça em casa e depois comente como foi!
Aproveite que está por aqui e continue navegando pelo nosso blog.
E aproveitando o tema, vamos deixar aqui o link para nosso e-book GRATUITO com diversas atividades para fazer em casa com crianças. Você também pode conferir os demais materiais que estão disponíveis para download clicando aqui.
Referências:
1- Acaesp – acesso em 26/05/2023
Postado por Autismo em Dia em 06/out/2023 - Sem Comentários
Dependendo da sua perspectiva, pode parecer que inclusão de autistas é, sem dúvida, o assunto do momento – principalmente no ambiente escolar. Porém, ainda que seja muito importante abordar esse assunto com os estudantes, é necessário ampliar a reflexão de como tornar real uma sociedade que se preocupa em conviver e aprender com as pessoas neurodivergentes e também deixar essas pessoas mais à vontade para planejarem experimentar novos ambientes.
E como o tema deste ano sobre a conscientização do autismo é “Mais informação, menos preconceito”, esta é uma oportunidade que temos de ampliar o número de pessoas comprometidas em abraçar a causa autista e diversas outras causas que precisem de respeito e visibilidade.
Fonte: Envato/Por nateemee
A seguir, vamos te mostrar algumas ações que aconteceram de verdade e estão servindo de exemplo. Aproveite, abra seu bloco de notas, e pegue as dicas!
Os exemplos que vamos te mostrar podem servir de referência. Mas, partindo do básico para fazer a inclusão acontecer, preparamos uma breve ideia que você pode levar de meta na escola, no trabalho e na comunidade:
Agora, ao longo do texto, vamos te mostrar algumas ideias inovadoras colocadas em prática no Brasil e fora dele. Esses projetos, de fato, foram projetados para as características próprias de quem vive no espectro e para transformar ambientes e promover momentos de diversão e interação.
Fonte: Envato/ AtlasComposer
Em comemoração ao dia 2 de Abril, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o parque catarinense proporcionou diversão e ambiente inclusivo para pessoas autistas. A ação no Parque Astronômico Municipal Albert Einsten promoveu um final de semana com atividades com a temática de astronomia, adaptadas de acordo com idade e particularidades de quem vive no espectro.
Para ver a matéria completa do portal 4oito você é só clicar aqui.
No estádio de futebol do time paranaense Coritiba foi inaugurada uma sala de acomodação sensorial, projeto considerado pioneiro. O espaço é um camarote destinado a receber pessoas que vivem no espectro e seus familiares. Assim, os autistas podem curtir a emoção do futebol, mas sem a explosão sensorial que pode ser desencadeada dentro de um estádio.
O inovador projeto foi inaugurado no final de 2022 e tem deixado torcedores e “rivais” orgulhosos.
Um dos espaços de recreação infantil mais famosos do Brasil, o parque da Turma da Mônica tem sido referência nacional em inclusão de autistas e seus familiares. Afinal, a criança não deve estar desacompanhada e o conforto do adulto também é importante.
E olha só que legal: no Parque da Mônica, a criança autista não paga! Além disso, o acompanhante recebe desconto no ingresso e pode ficar em fila preferencial.
E isso não é tudo. O parque ainda conta com a sala do silêncio e existe a hora do silêncio, que acontece todos os dias na primeira hora de abertura do parque.
E quando a inclusão toma conta de uma cidade inteira? Pois é isso que vem acontecendo na Ilha do Mel, no litoral do Paraná. Ela é considera a primeira Ilha inclusiva para pessoas autistas no Brasil. isto porque mais de 50 estabelecimentos receberam um Selo de Empresa Amiga de Pessoa Autista após empresários e colaboradores passarem por capacitações para aprenderem a lidar com pessoas que vivem no espectro.
Isso aconteceu, principalmente, por conta do projeto “Autistas na Ilha”, encabeçado pela Associação Brasileira de Ilhas Turísticas (Abitur). Segundo o Governo do Paraná, estima-se um aumento de 60% de demanda turística no local por conta do projeto e que, inclusive, os comerciantes já têm notado aumento de público com TEA.
Agora você já tem uma ótima opção de destino de férias com seu filho autista!
O museu, que é uma das principais atrações turísticas de Curitiba, capital do Paraná, inaugurou a Sala de Acomodação Sensorial (SAS). Essa sala é adaptada para acolher não só pessoas que estão no espectro, mas todas as pessoas neurodivergentes. O local, que já oferecia atividades para pessoas com libras e braile, percebeu a importância de ampliar a ação e tornar o ambiente mais inclusivo para pessoas que vivem no espectro autista.
Em abril de 2023, inclusive, o espaço sediou uma oficina de arteterapia no local, destinada para pessoas autistas, em comemoração ao mês do autismo.
Uma grande cidade pode ser, sem dúvida, um ambiente um pouco hostil por conta de muitos fatores, e isso favorece a sobrecarga sensorial. Portanto, a Arquitetura inclusiva é uma forma de tornar os espaços mais acolhedores para todos.
Alguns espaços desse tipo já existem no Brasil. Mas para ampliar um pouco o assunto, você sabia que existe uma praça em Nova York que recebeu uma mega instalação de arte que se misturou com a arquitetura local para ser inclusiva? Isso aconteceu na praça Josie Robertson.
A arquiteta Byrony Roberts foi quem fez a intervenção no local, preparando um ambiente com mobiliários públicos, almofadas macias e tecidos. A profissional também teve a ideia de espalhar pufes no meio da praça. A forma como fizeram a organização das almofadas prepara o ambiente para melhorar questões sensoriais e sociais, com áreas tanto para socializar quanto para brincar. E também, ainda contou com um espaço privado para momentos silenciosos.
Essa praça faz parte de um projeto formado por um coletivo de designers feministas norte americanas, que dá vida ao que elas chamam de “cidade restaurativa”. A arquiteta entrou em contato com terapeutas ocupacionais e organizações que cuidam de pessoas no espectro autista para criar os mobiliários que realmente cumprissem a proposta.
Fonte: Envato/ Por: travnikovstudio
E essa foi a nossa lista sobre locais que realmente estão fazendo a diferença, espalhando a inclusão além do ambiente escolar. Afinal, existem autistas de todas as idades e todos são parte de um ecossistema social diverso e amplo.
Então, aproveite que está por aqui e continue navegando pelo nosso blog. Você também pode conferir os materiais educativos que estão disponíveis para download gratuito clicando aqui.
Referências bibliográficas:
1- Site Coritiba- acesso em 24/04/2023
2- Site Parque da Mônica – acesso em 24/04/2023
3- Site AEN – acesso em 24/04/2023
4- Site g1.globo.com – acesso em 24/04/2023
5- Site FastCompany – acesso em 24/04/2023
Postado por Autismo em Dia em 02/out/2023 - 1 Comentário
Hoje vamos conhecer mais uma história surpreendente! A #proTEAgonista da vez é Meiry, uma mulher de 53 anos que foi diagnosticada com autismo e altas habilidades na adolescência. Ela está cursando a terceira graduação em direito e é vice-presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência. Tem dois filhos, é casada e vive no Vale do Tietê-SP.
Os dois filhos de Meiry também são autistas. O filho mais velho se chama Amauri, tem 32 anos e assim como a mãe é autista de nível 1 de suporte. A filha, Thalyane, tem 29 anos e é autista de nível 2 de suporte. Meiry descobriu que a filha era autista quando a menina tinha 4 anos. Já o filho, só foi diagnosticado na vida adulta.
Quer conhecer mais detalhes sobre a vida da nossa proTEAgonista? Continue a leitura!
Meiry nasceu na cidade de Ibicaraí-BA. A história que ela conta é de uma infância e adolescência dura:
“Eu sofri muita agressão, inclusive física. Era muito focada e boa em matemática, fazia cálculos de cabeça. Mas eu estava no interior da Bahia, no meio de pessoas sem estudo, e ninguém entendia direito como eu fazia aquilo. Então, eu era dita como macumbeira, feiticeira, estranha… Era maltratada. Mas eu também era muito agressiva, revidava. Era machucada mas também machucava as outras crianças.
Aos 14 anos de idade, a minha mãe me entregou para uma família de judeus que morava em São Paulo. Essa família, a principio, também não me queria. Eu era muito pequena e eles me chamavam de “raquítica”, mas depois descobrimos que era seletividade alimentar.
Acontece que eles me viram fazer os serviços domésticos e gostaram de mim. Falaram que eu podia ficar e ia ter casa, comida e roupa lavada. Que comida? Só sobras. Falavam que eu trabalhava na casa deles, mas eu nunca recebi nada pelos meus serviços, mesmo eles tendo muito dinheiro. Segundo eles, eu estava pagando minha estadia e comida.
Eles me levavam para a sinagoga com eles. Eu sou negra. Minha pele é escura e meu cabelo é encaracolado. Chegando lá, eu tinha que ir para a parte de baixo da sinagoga com os outros escravos, ditos empregados, e eles iam para a parte de cima.”
Apesar de só ter tido acesso aos estudos na vida adulta, Meiry cresceu e continuou demonstrando ter uma inteligência acima da média:
“Sempre aprendi as coisas muito fácil. Era só ver alguém fazendo algo que eu logo aprendia. Eu viajava com eles e estava quase aprendendo hebraico. Foi quando o “patrão” disse: “Como pode? Ser inteligente sem estudar?”. E começou a me testar. Me deu diferentes tipos de cálculos complexos e eu acertava todos, alguns só de ver alguém fazer uma vez. Ele ficou incrédulo, e disse: “ela tem algum problema na cabeça.”. Por curiosidade eles me levaram para fazer exames. Passei pela AACD, pela APAE e com 16 anos soube que era autismo e altas habilidades.
Não fiz nenhum tipo de tratamento depois disso, eu trabalhava muito, não tinha tempo. Deixei pra lá e fui vivendo a minha vida. Conheci o pai dos meus filhos, engravidei, e quando tinha mais ou menos 19 anos saí daquela casa. Já estava morando com o pai dos meus filhos quando o Amauri nasceu. 3 anos depois tive a minha filha.
O pai deles não suportava as minhas crises. Eu era agressiva, gritava muito, quebrava as coisas. Eu sentia que tinha que descarregar meu estresse, então o que estava na minha mão eu jogava. Ele falava que eu precisava de algum tratamento, então ele me largou com os meus dois filhos.
Depois disso eu conheci o meu marido, já estamos casados há 14 anos e vivemos super bem, porque hoje eu me entendo melhor, mas sei que preciso de terapia.“
Foto: Arquivo pessoal – Cedida por Meiry
Meiry conta que uma das coisas que inspiraram ela a ingressar na faculdade de direito foi o desejo de lutar pelos direitos dos autistas. Ela chama a atenção para a dificuldade em encontrar tratamentos para autistas adultos, tanto pra ela quanto para os filhos:
“O que me deixa em um lugar de paz é a luta para defender as pessoas autistas e buscar soluções junto ao poder público. Faço isso mesmo com tantas dificuldades e com todos os “não” que me acompanham 25 horas por dia. Afinal, pelo governo eu não tenho terapia, não tenho tratamento, não tenho apoio, não tenho ninguém, nada. Se eu quiser alguma coisa, sou eu por mim mesma.
Quero lutar pelos direitos dos autistas, especialmente os adultos, que não tem nada. Minha filha fazia equoterapia e era ótimo pra ela, mas agora tiraram ela e disseram que a nova regra é que só pode fazer até os 18 anos. Ela precisa muito, é muito inteligente mas é nível 2 e está em regresso. Não encontro tratamento nenhum pra ela. E aí? Ninguém pensa que o autista um dia vai ser adulto?
Por isso eu apelo para que as mães e os pais de crianças autistas pensem sobre isso, porque é a gente que tem que lutar para que um dia as coisas sejam diferentes. Sua criança autista um dia vai ser jovem, vai ser adulta, e não é justo que eles passem pelo que eu passei e ando passando, porque não é fácil.”
Infelizmente, a dificuldade de acesso aos tratamentos para o autismo é uma realidade inegável. Meiry compartilha informações sobre a situação em sua região e pede ajuda:
“Falando do cenário aqui da minha cidade, por exemplo, tem um pouco mais de 80 mil habitantes e não tem NADA para os autistas adultos. E nós acreditamos que seja uma população de mais de 6 mil autistas. Eu tenho um grupo com mais de 184 mães de crianças e adolescentes autistas, e nem para as crianças, que geralmente conseguem mais tratamentos, têm atendimento de verdade. Toda semana eu recebo 5, 6 mensagens de mães pedindo ajuda, perguntando o que fazer pra conseguir terapia para as crianças. Elas até podem ir no ministério público, mas a realidade é que isso não resolve o problema. Precisamos entrar com uma ação coletiva, porque estamos falando de uma comunidade.
Também precisamos fazer um trabalho de conscientização. Estou trabalhando para isso, sou vice-presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência. Mas eu não vou mudar as coisas sozinha. O que muda as coisas de fato são as pessoas e o amor. Peço ajuda, chamem as pessoas para esse movimento. Vou estar com equipe multidisciplinar, vereadores, poder público, com as mães. Vamos criar medidas para melhorar a qualidade de vida dos autistas.”
Foto: Arquivo pessoal – Cedida por Meiry.
Essa foi com certeza uma das histórias mais impactantes contadas aqui no Autismo em Dia. Meiry é mais do que uma mulher com autismo e altas habilidades. Ela é uma pessoa inspiradora que não tem medo de lutar. É uma honra contar a sua história aqui.
Torcemos para que ela inspire cada vez mais pessoas a se juntarem a essa causa tão importante.
Quer entrar em contato com ela para saber como ajudar? Acesse seu Instagram @meiryrochha.
Para continuar lendo histórias inspiradoras de autistas da vida real, visite a nossa categoria de textos #proTEAgonistas e siga o Autismo em Dia nas redes sociais.
Até a próxima! 💙
Postado por Autismo em Dia em 29/set/2023 - Sem Comentários
A roraimense Lívia Oliveira nunca poderia esperar que aquilo que ela escolheu como carreira em algum momento fosse ser algo tão íntrínseco à sua história pessoal. Ela, que é uma psicóloga especialista em autismo (CRP 20 05111), descobriu há pouquíssimo tempo que também é autista.
E se engana quem pensa que sua trajetória profissional tornou essa descoberta mais simples. Lívia sabia que tinha sinais a serem investigados, mas nunca cogitou o autodiagnóstico.
E, tendo descoberto tudo já adulta, foi como se uma grande verdade fosse revelada. Essa história incrível a gente te conta a seguir.
Formada em psicologia há 15 anos, Lívia conta que seu interesse pelo autismo veio bem antes, quando era só pedagoga. Trabalhando na primeira área de formação, Lívia conta que via o autismo como algo misterioso. E isso, de fato, atiçava sua curiosidade.
“Quando eu era pedagoga, eu conheci uma criança autista. Eu achava muito interessante que não era de qualquer forma que eu poderia acessar o mundo dessa criança. Então eu comecei a estudar muito sobre isso”, conta ela, que depois fez psicologia e mais uma especialização em neurociência.
“Depois de uns 7 anos como psicóloga, comecei a perceber que só a parte da psicologia não ia me ajudar. Porque eu queria trabalhar com autistas, mas queria ir além da parte comportamental. Então, comecei a estudar a comunicação não verbal. Logo, comecei a desenvolver mecanismos para que as crianças aprendessem a falar, através do uso de imagens e sons. Isto porque os autistas aprendem por modelos”.
Neste período, Lívia conta que começou a ouvir de suas colegas de profissão que ela se parecia com os próprios pacientes. Ela chegou a ouvir das amigas que deveria fazer uns testes, mas deixou pra lá.
Pouco tempo depois, nasceu o sobrinho de Lívia, que ela conta que percebeu que o menino é autista quando ele ainda tinha pouco mais de um ano. O irmão de Lívia pensava que ela dizia isso só porque gostava demais do assunto e, aparentemente, só falava sobre isso. Porém, logo o diagnóstico foi confirmado e o sobrinho é um autista de nível 3 de suporte.
Já a mãe de Lívia dizia que o menino não era autista, e sim que ele tinha ‘puxado a tia’. E isso, claro, deixou Lívia com uma pulga atrás da orelha.
“Um dia eu perguntei para ela como eu era, então. Ela disse que eu era toda fresca, não gostava disso, não gostava daquilo. E enquanto ela contava, eu comecei a me emocionar, porque era tudo que eu via nos meus clientes.”
Lívia conta que teve muita dificuldade em encontrar alguém que já tivesse experiência com autistas adultos. Até que conheceu uma psicóloga do outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, que também é autista.
“Na primeira vez que conversei com essa mulher, foi como se finalmente eu tivesse encontrado alguém que me entendia. Para falar a verdade, passei dois dias sorrindo. E ela me disse que, possivelmente, eu era uma autista com altas habilidades. Ela fez todos os testes e, hoje em dia, eu já sou laudada“, explica, enquanto mostra, para nós e cheia de orgulho, a carteirinha do diagnóstico presa, inclusive, em um cordão com girassóis.
O girassol, neste caso, é um símbolo universal para deficiências invisíveis.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Lívia Oliveira
Lívia faz uma análise de como ela ter tido o diagnóstico já adulta é consistentemente diferente quando é uma criança que recebe o laudo.
“Existe uma diferença entre o diagnóstico do infantil para o adulto. Quando uma mãe ou pai recebe o diagnóstico de uma criança é quase como se ele recebesse um diagnóstico de incapacidade da criança. Mas quando o autista adulto recebe o diagnóstico, para ele é uma libertação. Isto porque ele passou muito tempo da vida se sentindo inadequado, diferente ou que era estranho. Com o diagnóstico, as culpas de muitas coisas vão embora e você consegue se identificar dentro do espectro.
E hoje, trabalhando com o autismo e vendo que a demanda é alta, percebo que existem muito mais especialistas trabalhando apenas com o infantil. Mas e o adultos?”, explica Lívia, que tem buscado se especializar justamente em algo que fez tanta falta quando ela mais precisou.
Lívia sempre atuou com autistas crianças em Boa Vista, capital de Roraima mas, atualmente, ela conta que faz muito mais atendimentos pela internet e que tem crescido a procura por diagnósticos de adultos. Quando questionada o porque de tantas pessoas, inclusive de outros estados, procurarem por ela, a resposta é simples.
“É porque não tem muitas outras pessoas fazendo isso. E não é que o autismo seja diferente, é que estamos falando de adultos que não foram trabalhados na infância. E aí o que temos que fazer? Ensinar esse adulto tudo que ele não aprendeu na infância”.
Lívia ainda explica que seus diagnósticos têm chegado à vista de médicos de vários estados e, por isso, tem recebido muitos contatos. No dia desta entrevista, Lívia explica que fez o primeiro atendimento às seis horas da manhã.
Não foi só a vida profissional, como psicóloga especialista em autismo, que mudou depois do diagnóstico. Ela conta que, através disso, algumas coisas mudaram na imagem que ela tem de si.
“Hoje eu acho que me respeito mais. Isto porque antes eu me forçava a fazer coisas que eram apenas questões sociais. E eu não me culpo mais por determinadas situações“, conta ela que tem, ainda, transtorno de ansiedade generalizada como uma das comorbidades.
No dia a dia, Lívia vem trabalhando dificuldades que, para outras pessoas, parecem coisas simples. Para exemplificar, é como se tudo que Lívia fizesse tivesse que ser uma linha reta, sem desvios. É por isso que, por exemplo, ela conta ter dificuldades em equilibrar tarefas comuns ao seu negócio como a parte administrativa, ou mesmo tarefas de casa.
Ela cita ainda uma grande dificuldade em viagens. No aeroporto, por exemplo, ela sempre solicita a ajuda das companhias aéreas para não perder o voo devido ao excesso de informações. Em uma de suas viagens, mesmo com a ajuda de uma empresa aérea, Lívia perdeu o voo de conexão por conta do tempo curto. Nisso, ela lembra de ter tido uma crise nervosa.
“Para minha sorte, tinha uma psiquiatra do meu lado que me perguntou se eu era autista. Eu só sabia acenar com a cabeça. Aí ela foi lá e resolveu as coisas no meu lugar. E esse é o tipo de coisa que acontece. Se ocorre algo que quebra a minha rotina, eu já me desorganizo.”
Uma reclamação comum de autistas adultos com grau 1 de suporte, ou seja, que de forma geral têm mais habilidades funcionais, é sobre a invisibilidade na sociedade.
Lívia conta que já foi questionada dos seus motivos de, já adulta, procurar diagnóstico e o que isso mudaria.
“Eu preciso usar mais o laudo oficialmente quando eu vou viajar. Mas as pessoas olham pra mim, essa mulherona bonita aqui, acham que eu não tenho nenhum tipo de problema. Aí tem gente que diz ‘ah, o que essa mulher tá fazendo aí?’. Ocorre muito também quando eu opto pela fila preferencial. Mas eu não discuto. Eu só mostro a minha carteira.”
Mas, de modo geral, Lívia se entende como uma mulher independente, mas não exclui a necessidade de suporte em algumas ocasiões. Por isso, ela já está de malas prontas para se mudar para Juiz de Fora, em Minas Gerais, cidade em que sua filha mora. Ela conta que pretende morar sozinha, mas quer estar preparada para quando precisar. E, junto, vai carregar os novos rumos de sua carreira como psicóloga especialista em autismo.
***
Certamente, a história da Lívia deve inspirar muitas pessoas a procurarem respostas sobre si. Lá no Instagram, ela ainda produz alguns conteúdos para dialogar com a comunidade TEA.
E se você também quer contar a sua história e ser um(a) proTEAgonista, mande uma mensagem pelo nosso Instagram e aproveite também para seguir e ver toda semana novos conteúdos informativos.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima! =)
Postado por Autismo em Dia em 25/set/2023 - Sem Comentários
Criar uma criança envolve muitas coisas: educar, ensinar, alimentar, ser exemplo, dar amor, entreter e muito mais. Agora, imagine quando se é mãe de autista e você precisa encarar todos esses desafios da maternidade sozinha. Essa provavelmente é a história de várias mulheres pelo Brasil, assim como a nossa proTEAgonista de hoje, a Regiane Rodrigues, mãe do Rafael.
Eles, que são moradores de Bragança Paulista, do interior de São Paulo, são mais que mãe e filho. São grandes parceiros de vida. Por isso, te convidamos a acompanhar essa história inspiradora a seguir.
Rafael teve os sinais do autismo percebidos muito cedo, quando o garoto ainda tinha perto de 2 anos e meio. No entanto, Regiane conta que o processo até o diagnóstico não foi fácil.
“Eu jamais esperaria passar por tantas coisas que eu não tinha nem noção do que fazer. E foi, de fato, muito difícil para fechar o diagnóstico. Eram muitos exames, muita burocracia. Mas, quando ele tinha 4 anos e meio, eu consegui fechar o diagnóstico”, conta.
Regiane ainda explica que percebeu cedo os sinais de autismo em Rafael por conta de suas experiências anteriores, já que ela é mãe de dois filhos hoje adultos.
“O primeiro sinal que eu percebi foi a fala. Com 1 ano e meio ele ainda não falava, mas os médicos diziam pra eu esperar até os 2 anos. Com 2 anos, nada dele falar. Mas eu ainda ouvi que tem que criança que demora mesmo. Afinal, ele andou no tempo normal, com 11 meses. Por eu não ter outra criança em casa, os médicos me disseram pra eu matricular ele logo na escola pra ele desenvolver a fala no contato com outras crianças”, explica.
E, como Regiane veio a confirmar, essa foi a melhor coisa que ela fez.
“No primeiro dia de aula, uma professora muito experiente veio me perguntar se eu desconfiava que meu filho era autista”.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Regiane Rodrigues
Regiane conta que sua reação ao que a professora disse envolvia sentimentos mistos.
“Eu, sem dúvida, desconfiava. Mas a gente, como mãe, não quer aceitar num primeiro momento. Isto porque eu lia bastante coisas e eu tinha esperança que fosse apenas um atraso, mesmo. Como, em muitos casos, acontece. E foi nesse momento que os médicos também começaram a desconfiar.
Porém, infelizmente, aqui onde eu moro, tudo é difícil, inclusive fechar um diagnóstico. Daí a demora em ter o laudo”, explica Regiane.
Apesar das dificuldades, Regiane colocou Rafael em diversas terapias ainda antes do diagnóstico. Nesse período, o menino já fazia fono e terapia ocupacional, no que Regiane descreve como o início de uma jornada em que os desafios da maternidade seriam maiores. De manhã era a escola, e de tarde as terapias.
E, enquanto isso, ainda existia o desafio de fazer com que o autismo em Rafael fosse compreendido pela família – no caso, os dois filhos mais velhos de Regiane.
“Os meus outros filhos não entendiam muito. Até eles entenderem foi bem difícil. Por que, para eles, também era uma novidade. E, de uma forma geral, eu era e ainda sou mãe solo e não tinha nem condições financeiras pra ficar levando meu filho nas terapias.
Eu não trabalhava e praticamente parei a minha vida por ele. E não dava pra eu sair pra trabalhar, afinal, pode parecer mentira, mas não são muitas pessoas que gostam de olhar uma criança autista enquanto a mãe sai. Isto porque elas não entendem o assunto. Então, o mundo caiu na minha cabeça.
Eu fiquei perdida e comecei a ir atrás de muitas coisas, dos direitos que ele tinha, até de um passe livre para o ônibus, já que eu não tinha carro. E era isso, eu tinha que me virar sozinha.”
E o que não faltou nesses últimos anos foi oportunidade de Regiane aprender a domar todas as dificuldades. Ela conta que hoje já se sente organizada com todos os desafios da maternidade.
“Hoje, graças a Deus, minha vida é organizada. Mas ainda sou só eu. Não participo muito de grupos de apoio, apesar de eu ter tido uma pessoa que me ajudou muito nesse sentido de procurar os direitos. [vale lembrar que em Bragança Paulista existe o grupo AMADAS, uma das primeiras histórias que contamos aqui] Só que eu sou uma pessoa que sempre gostei de resolver meus próprios problemas.
O que me ajuda, também, é a meia hora que eu passo com uma psicóloga cedida por uma associação daqui enquanto ele vai para a terapia. Mudou muito a minha vida, é um tempo suficiente para desabafar um pouco”.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Regiane Rodrigues
E enquanto a vida vai se ajeitando, Regiane encontra no cotidiano pequenos momentos de orgulho e alegria no desenvolvimento do filho. Uma história que ela destaca é sobre os aniversários. Rafael não gostava de jeito nenhum do momento do Parabéns. Nem o seu nem o dos outros. A esperada hora do parabéns era o momento em que ela tinha que levá-lo embora das festas.
Mas ela foi trabalhando isso devagar e ajudando o filho a ressignificar esse momento. Hoje, quando em seu próprio aniversário Rafael vibra junto esse momento, Regiane se enche de alegria.
Rafael é fruto de um relacionamento que não durou muito na vida de Regiane. Por isso, ela conta que existe uma relação de certa distância com ele, mas que pouco afeta o sentimento de carinho que seu filho tem com o próprio pai.
“Ele tem contato com o pai, que sabe que ele é autista, mas que não entende absolutamente nada do assunto. O pai dele vem ver ele na minha casa. Foi assim que eu estipulei por conta de algumas questões. Eu gostaria que isso até fosse mais frequente, mas infelizmente não é. Por que o Rafael ama demais o pai, mas não entende muito a situação. E eu não quero que ele perca esse amor, porque é um momento que faz ele feliz. Você vê a felicidade nos olhos dele quando o pai chega”.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Regiane Rodrigues
Em meio a tantas questões de adulto, não podemos esquecer que Rafael ainda é apenas uma criança. E Regiane conta com orgulho que o filho é aberto às descobertas, às brincadeiras e às amizades.
“O Rafael não gosta de desenho nem de pintar, mas tem uma habilidade incrível com massinha, faz coisas incríveis. Ele tem, também, o momento de todos os dias em que ele gosta de sair na rua pra brincar com os amigos. Na prática, ele nem brinca com as outras crianças, mas ele gosta de ficar por ali. E os meninos da rua conhecem ele, sabem que ele é autista e respeitam ele. E nessas coisas, tanto as crianças daqui quanto as da escola estão de parabéns. A professora conta que, em alguns momentos, até precisa tirar outras crianças de perto de tanto que elas querem pegar, abraçar.
O Rafael também adora ir ao shopping só pra ir no McDonalds. E, atualmente, ele não faz mais birras nos lugares, é um momento de felicidade tranquila.
E ele adora, também, quando os irmãos vão em casa. Ele ama também a irmã, mas tem um carinho diferenciado no irmão.”
Tal como a história da Regiane, ainda existem muitas outras a serem contadas. E você pode ser a próxima pessoa. Tem alguma história que acredita que valha a pena ser contada envolvendo algum autista? Nos chame pelas redes sociais ou deixe um comentário aqui no site.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima! =)
Postado por Autismo em Dia em 05/set/2023 - Sem Comentários
Hoje vamos conhecer um pouco da história de Henrique Cola Lozano, um autista com mutação no gene DEAF1. Nosso proTEAgonista tem 4 anos, é filho de Juliana Cola Lozano e Pedro Alexandre Martinez Lozano, ambos médicos, e tem um irmão de 7 anos chamado Pedro Cola Lozano.
Quem conversou com a gente foi Juliana, e é através das palavras dela que vamos conhecer melhor o Henrique. Continue a leitura para conhecer mais uma história sobre o autismo na vida real.
Juliana conta que notou que Henrique era uma criança diferente desde muito cedo:
“A amamentação foi mais difícil, eu não percebia muito contato visual durante a amamentação, e eu não só sabia que era esperado, como já tinha tido a prova disso com o meu primeiro filho, que é uma criança neurotípica.
O Henrique era uma criança mais chorosa, mais irritada e teve problemas gastrointestinais desde o início da vida, como refluxo e alergia à proteína do leite. Ele também tinha pouco contato social, sorria pouco e balbuciava pouco.
Até então, muitas dessas características eram atribuídas ao fato dele ter nascido prematuro. Um prematuro tardio, nasceu com 36 semanas, não precisou ficar internado nem nada, mas nasceu um pouco antes da hora.
À medida que ele foi crescendo, eu fui percebendo que ele tinha esses déficits sociais. Nada me tirava da cabeça que ele era autista. Eu conversava sobre isso com o pediatra, mas ele dizia que era coisa da minha cabeça, que por ser uma criança prematura eu precisava ter um pouco mais de paciência.”
Fonte: Arquivo pessoal – Cedido por Juliana.
Os sinais de autismo de Henrique já eram percebidos à muito pela mãe. Conforme foi passando o tempo, eles se tornavam ainda mais claros:
“Os marcos motores dele sempre foram no limite superior da normalidade. Ele sentou tarde, engatinhou tarde, andou tarde… Mas até então nada muito marcante.
Quando ele tinha mais ou menos 1 ano, o pediatra concordou que ele realmente tinha alguns atrasos nos marcos do desenvolvimento, que ele achava que o Henrique poderia ter o Transtorno do Espectro Autista e que recomendava que eu levasse ele ao neuropediatra para uma avaliação. Ele também já fez o encaminhamento para todas as terapias recomendadas para as crianças com TEA.
Hoje ele faz fonoaudiologia e fisioterapia 3 vezes por semana, terapia ocupacional 2 vezes por semana terapia ABA todos os dias, 2 horas por dia. Ele começou a ir para a escola aos dois anos e meio e tem uma acompanhante terapêutica que aplica a ABA na escola.”
Juliana conta que todas as terapeutas que atendem Henrique conversam entre si e trabalham com os mesmos objetivos, buscando o sucesso nas terapias.
Henrique foi atendido por uma neurologista que ainda tinha dúvidas sobre o diagnóstico. Ela solicitou exames, como ressonância de crânio e testes auditivos. Com os resultados indicando que tudo estava normal, ele foi encaminhado para uma geneticista.
“A geneticista me pediu alguns exames, todos com resultados normais. Ela confirmou que o Henrique era autista, mas disse que ele tinha algumas características que indicavam que tinha algo a mais e que deveríamos investigar isso. Então, tinha mais um exame que poderíamos fazer, que, por ser muito caro, infelizmente é pouco acessível para a maioria da população e não é coberto pelos planos de saúde.
O exame faz um estudo do genoma da criança. Ele aponta características genéticas e é bem completo. Fizemos e, de fato, apareceu a mutação no DEAF1. Essa mutação genética configura uma síndrome, chamada de Síndrome de Vulto-Van Silfhout de-Vries.
A Síndrome de Vulto-Van Silfhout de-Vries é ultra rara, nem a minha geneticista conhecia. Ela disse que ia levantar todas as informações sobre e depois a gente se reuniria para falar sobre. Fiquei muito ansiosa, então veio o desespero: “e agora?”. Comecei a pesquisar sobre o assunto, buscar artigos científicos… Não tinha muito material, mas o pouco que tinha, dava um prognóstico muito ruim. Fiquei bem apreensiva, até parei de pesquisar para tentar me tranquilizar e esperar o retorno com a médica.”
Fonte: Arquivo pessoal – Cedido por Juliana.
Recentemente publicamos um texto sobre o Instituto DEAF1, que foi criado por mães de autistas para financiar pesquisas científicas sobre a genética do autismo. Juliana compartilha, então, como entrou em contato com o instituto:
“No retorno com a geneticista, ela me explicou tudo que tinha levantado sobre a síndrome, que ela estava relacionada ao autismo e outras condições. Além disso, ela também me indicou entrar em um grupo do Facebook de algumas mães de autistas que tinham esse mesmo diagnóstico, de dentro e fora do Brasil.
Então, nesse grupo eu conheci a Ana Karine, que é a mãe de um menino com a síndrome. Ela me colocou em um grupo com outras mães brasileiras que tinham filhos com o dignóstico. Na época éramos seis, mais ou menos. À partir desse grupo de mães buscando mais respostas sobre a síndrome, começou a se formar o Intituto DEAF1, que viria a se tornar o primeiro instituto do mundo a investir em pesquisas científicas sobre essa mutação genética relacionada ao autismo.“
Através de incansáveis pesquisas sobre a Síndrome de Vulto-Van Silfhout de-Vries, Juliana conheceu o trabalho de Alysson Renato Muotri, um neurocientista e pesquisador brasileiro. Ele mora nos Estados Unidos e é professor e diretor do laboratório de genética da Universidade da Califórnia em San Diego.
“Ele faz experimentos com estruturas que ele chama de “mini cérebros”, que são conglomerados de neurônios cultivados em uma placa de petri. Então, ele consegue estudar algumas mutações genéticas, e o foco dele é estudar mutações genéticas relacionadas ao autismo.
Certo dia meu marido chegou em casa e disse: “Juliana, você conhece um tal de Alysson Muotri?. Eu disse: “Não fala assim dele! Ele não é “um tal”, ele é “ô” cientista, alguém que eu almejo poder conhecer um dia e dizer: “por favor, me ajuda?”. E ele falou: “Olha, eu estava contando a história do Henrique para um colega anestesista, e ele falou que tinha um amigão de infância que talvez poderia ajudar.” Eu pensei: “não pode ser verdade!”. Mas era verdade. Ele nos colocou em contato com ele e começamos a conversar sobre o caso do Henrique.”
Juliana compartilha que o contato com o neurocientista foi um divisor de águas na história de todas as famílias envolvidas:
O pesquisador disse que a mutação era totalmente passível de estudo e, talvez, até de correção genética, pois isso já foi feito com outros genes. Então abriu-se um leque de esperança, uma luz no fim do túnel. Foi aí que nós, mães, nos unimos ainda mais como instituição e como família. Conseguimos fazer uma vaquinha para financiar o inicio dessa pesquisa nos EUA.
Seria uma pesquisa muito cara. Precisávamos de 100 mil dólares para o primeiro ano e mais 150 mil para o segundo e, a partir do momento que ele conseguisse avançar e mostrar que é possível reverter a mutação genética, a pesquisa pode seguir sendo financiada por indústrias farmacêuticas, órgãos governamentais e até a própria faculdade.“
Fonte: Arquivo pessoal – Cedido por Juliana.
Esse foi o texto sobre o proTEAgonista Henrique e sua família. 💙
Gostou do texto? Então continue navegando pelo nosso blog e nos siga nas redes sociais.
E não deixe de conferir o nosso texto sobre o Instituto DEAF1, que explica com mais detalhes a iniciativa. É só clicar aqui.
E para ajudar o Instituto DEAF1 a continuar financiando pesquisas científicas relacionadas ao autismo, acesse o site do instituto e saiba como contribuir.
Postado por Autismo em Dia em 31/ago/2023 - 3 Comentários
Muitas mães de crianças autistas já passaram por aqui, mas poucas podem contar sobre uma experiência como a da Polli Abade, nossa proTEAgonista da vez. Afinal, a chef de cozinha curitibana é mãe não de um, nem dois, mas três crianças no TEA: o menino Francisco, de 5 anos, e as gêmeas Glória e Catarina, com 4.
Logo, você pode imaginar o tamanho do desafio. Porém, quem vê hoje Polli equilibrando vida pessoal, uma carreira de sucesso e a tripla maternidade, mal pode imaginar que, há não muito tempo, era ela, as crianças e apenas 50 reais no bolso.
Essa é a história da rainha das sopas, como ela mesma se define. E você confere, então, tudo a seguir.
Os três irmãos tiveram o autismo descobertos muito cedo. Primeiro foi Francisco, que não concentrava o olhar. Polli chegou a desconfiar de algo, mas, como ela conta, diziam que ela estava louca. E como o pai do menino também tinha um problema na visão, de início uma suposta herança genética fazia mais sentido como resposta. Porém, com o tempo, o diagnóstico de autismo foi confirmado.
Já com as meninas, primeiro foi com Glória. Mas como a irmã acompanhava sua gêmea nas terapias, logo viu-se que seus comportamentos não eram mero espelho da convivência com outros dois autistas.
A essa altura, Polli conta, “eu já esperava. Não foi nenhuma grande surpresa, nem um susto. Mas eu tive certeza que seria um pouco mais difícil que o normal”.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Polli Abade
Muito se fala sobre a importância da rotina, mas Polli conta que a rotina é, provavelmente, muito mais importante para ela.
“A nossa rotina é fazer tudo igual todos os dias. E a rotina serve mais pra mim, pra eu conseguir organizar os três, do que pra eles. Porque, quando a gente sai da rotina, é bem complicado. Outro dia nós fomos na casa da minha avó e, quando voltamos, foram duas horas de choro porque desregulou tudo. Seria até mais fácil se os três fossem iguais, mas eles são bem diferentes um do outro, cada um com seu jeito.”
E por falar em diferenças, um dos comportamentos autistas pro qual Polli mais chama atenção é a seletividade alimentar de Francisco. E ela define como uma característica “sinistra”, em suas próprias palavras.
“Ele muda de tempos em tempos. Na semana passada, ele estava comendo só mortadela. Comia quase 1 quilo de mortadela por dia. Antes disso, no entanto, teve a fase do pão de queijo, teve a fase da uva Thompson, entre outras”, conta.
Apesar de não ser possível prever como Francisco vai demonstrar tamanha seletividade, Polli faz de tudo para manter todo o resto organizado, como uma rígida hora de dormir, por exemplo.
Como as coisas têm funcionado, isso tem facilitado para Polli uma participação maior de seus filhos na sua vida fora de casa. Já comentamos que ela é uma chef famosa por suas sopas, mas ainda vamos chegar lá.
Fora a paixão pela culinária, Polli ainda administra um salão de beleza em sua casa.
“Agora, já estamos com a rotina meio que no automático. Eu já consigo trabalhar no salão com eles juntos. O Chico, na terapia, vem se desenvolvendo. As meninas estão crescendo e tendo um entendimento maior. É uma fase que eu não considero mais fácil, mas sim uma fase diferente. Porque, meu Deus, que fase! É birra de manhã, de tarde e à noite.”, conta Polli.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Polli Abade
Algo que é visível na trajetória de Polli é que seu compromisso de mãe foi, sem dúvida, impulsionado pelo seu trabalho, e vice-versa. Sua história, que ficou famosa em Curitiba depois de sair em um famoso portal de notícias local, é mais ou menos assim.
Ela, que cuida sozinha dos três, precisava comprar alimentos pros filhos. No entanto, teve um dia em que ela tinha apenas 50 reais. Polli lembrou de seu talento como cozinheira nas vezes em que fez gente que sequer gostava de sopa passar a apreciar o prato. Com os 50 reais, comprou o suficiente para fazer algumas unidades, que venderam rapidamente. Com o lucro, comprou o leite das crianças e novos ingredientes e, desde então, nunca mais parou.
Hoje, a venda de sopas não é mais tão amadora quanto no começo e a Sopas Gloriosa é a empresa que Polli pretende expandir e onde quer, inclusive, gerar oportunidade para mulheres desempregadas e sem profissão.
Polli é consciente da correlação entre a maternidade e o trabalho no contexto da sua vida.
“A maternidade me fez empreendedora. Eu sempre trabalhei fora. Eu trabalhava no salão, engravidei do Chico, mas voltei depois da licença maternidade. Quando ele tinha 8 meses, descobri a gravidez das meninas, que seria uma gestação de risco e eu não pude mais trabalhar. Eu ensinei o Chico a andar deitada no sofá. O restante é a história dos 50 reais”.
Agora, Polli conta que, até o final do ano, tem planos de encerrar as atividades do seu salão para dar lugar à fábrica de sopas. O empreendimento já conta com um projeto profissional feito pelo SEBRAE, mas ainda precisa de um investimento. Polli tem total confiança de que as coisas vão dar certo: “eu acordo 4 horas da manhã todos os dias pra isso”, explica, com orgulho.
E se você tem interesse em ser parceiro da Polli, pode entrar em contato com ela aqui.
Fonte: arquivo pessoal – cedido por Polli Abade
“Eu acho que rola um abandono geral de mães, não só para as mães de autista. Muitas mulheres abrem mão da carreira pra cuidar dos filhos. E, infelizmente nem todas tem a aptidão do empreendedorismo. É muito difícil para uma mãe criar os filhos e ainda organizar essa parte da vida. Ainda mais se ela for solo, aí não tem outra saída. Esta semana mesmo eu recebi uma mensagem de uma mãe que disse que eu a inspiro muito e que ela vai começar a fazer os caldos na cidade dela inspirada nas minhas receitas pra ajudar a pagar as terapias do filho. Eu achei isso sensacional!
Assim como me ajudaram, eu tento fazer a mesma coisa com outras mães que estão por aí. Eu tento ensinar o caminho das pedras. E o grande projeto da Sopas Gloriosa também é isso: glorificar mulheres que precisam ser glorificadas. Mas sei que elas precisam também de apoio terapêutico porque eu sei da importância disso. Às vezes eu acho que vou surtar, vou pirar, aí eu respiro, e passa. E gostaria que as outras mães também passassem a acreditar mais no processo de evolução, sem culpa, ainda que pareça que tudo está dando errado. A culpa não é de vocês e nem de seus filhos”, completa.
***
A história de Polli é, sem dúvida inspiradora. E se você também tem uma história pra contar no universo do autismo, entre em contato pelo nosso Instagram ou Facebook. Por lá, você pode bater um papo com a gente e ter acesso a diversos conteúdos que vão ajudar na sua caminhada.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima! =)
Postado por Autismo em Dia em 25/ago/2023 - 1 Comentário
O que você imagina quando perguntam sobre símbolos do autismo?
Pode ser que venha à mente um quebra-cabeça, um símbolo do infinito, girassóis ou apenas a cor azul. Isto porque, ao longo dos anos, vários símbolos nasceram para representar os autistas e também para promover o acesso e a comunicação em espaços públicos, facilitando a inserção dos autistas na sociedade.
Existem, de fato, algumas discussões em torno desse tema, sobre o que realmente faz sentido. Porém, entender para que eles servem, quando e como são utilizados pode ser essencial para sermos, também, parte da mudança. Não sabemos se a sociedade vai aderir novos símbolos no futuro, mas hoje, em 2023, esta lista é o que há de mais atual.
Fonte: Envato/LightFieldStudios
Criado em 1963 pelo Autism Society, o quebra-cabeça é considerado o símbolo mais antigo. Porém, isto é questionado por alguns autistas, pois entendem que o quebra cabeça passa a ideia de que é complexo entender quem vive no espectro, trazendo mais prejuízo, do que benefícios à causa.
Mas, o tempo tem demonstrado que há uma boa aceitação, apesar das controvérsias. É uma forma que simboliza que cada indivíduo (a peça) é único dentro de um amplo espectro (a imagem formada pelo quebra-cabeça).
Um dos símbolos mais populares, representa toda a diversidade do espectro autista, além de se conectar com o simbolismo do quebra-cabeça. Aqui, as peças não vêm apenas em azul, mas cores diversas que caracterizam as múltiplas experiências e personalidades dentro da comunidade autista. O brilho que a fita carrega, em destaque com as cores, simboliza tanto a esperança quanto o aumento da conscientização sobre o transtorno. A organização sem fins lucrativos Autism Speaks foi quem usou a fita pela primeira vez, em 1999.
O formato da fita, no entanto, não é algo exclusivo do autismo. Ela é reinterpretada em diversas perspectivas na área da saúde, como amarelo para saúde mental ou azul para o câncer de próstata.
Fonte: Envato/vetre
Em vários momentos do ano nos deparamos com a representação do infinito entre os símbolos do autismo, o que tem muito a ver com a aceitação da diversidade neurológica.
O símbolo traz a ideia, então, de que a neurodiversidade é infinita. Ainda, ele significa que o autismo é uma expressão natural do gene humano. Portanto, essa foi a marca escolhida para representar o Dia do Orgulho Autista, que ocorre em 18 de Junho. Quem cravou a data foi a organização norte-americana Aspies for Freedom.
Agora esse próximo símbolo é considerado o menos conhecido, porém ele é sim utilizado tanto aqui, quanto fora do Brasil para representar o transtorno.
Mesmo que aqui no Brasil não seja comum usar. A borboleta para o autismo, carrega a noção da transformação e das mudanças que as pessoas autistas experimentam à medida que avançam as etapas da vida, os seus processos terapêuticos e o uso de suas ferramentas de suporte. Portanto, transformar-se na borboleta não quer dizer ser perfeito, mas abraçar cada nova evolução física e mental.
O girassol como símbolo tem um ar um tanto quanto romântico na explicação. A flor de girassol se destaca pela cor vibrante e por se virar no sentido do sol, e isso representa a conscientização. É cada vez mais comum as pessoas utilizarem o cordão decorado com girassóis para iluminar, dar espaço e clarear a sociedade sobre o espectro autista.
No entanto, sabemos que a luta diária da comunidade autista é árdua, e não necessita ser romantizada, pois ainda precisa de muitos avanços.
Fonte: Envato/EdVal
A sociedade escolheu a cor azul porque a maior parte dos casos de autismo no mundo é em meninos, mesmo que a perspectiva de azul ser uma cor masculina, seja algo questionável hoje em dia. No entanto, foi assim que aconteceu na história do autismo, e essa informação pode ser muito relevante para quem não sabia o motivo da escolha da cor.
Como o conceito se solidificou, hoje utilizamos o azul no mês de conscientização do autismo, que não por acaso se chama Abril Azul. E, ainda, em alguns lugares do mundo incentivam as pessoas usarem essa cor e a ligarem luzes azuis no dia 2 de abril.
Aproveitando que o assunto abordado foi sobre símbolos que atravessaram a história, antes da era digital. À medida que fomos avançando no uso da internet, apareceram os “emojis”. O uso deles no universo autista é bastante cauteloso, por toda uma questão de preocupação em promover acessibilidade, considerando particularidades próprias do espectro. Embora esse tema necessite de uma pauta todinha só para ele, um “emoji” que é muito usado para comunicar conforto e acolhimento pelos nossos leitores, é o coração azul💙.
***
Os símbolos do autismo nascem da vivência coletiva e, principalmente, da necessidade de se ver representado. Símbolos podem até parecer, para alguns, nada mais que um desenho ou um enfeite, mas eles são, principalmente, uma linguagem que busca ser universal. Por trás de um símbolo, tem uma história. E na frente deles, há sempre alguém que vai aprender algo com o que está vendo.
Viu um símbolo desses por aí? Pode ser seu momento de praticar a empatia.Nada como ouvir e se colocar no lugar de quem vive a experiência, não é mesmo? E sabe onde mais você pode ter contato com novas histórias e experiências? Nas redes sociais do Autismo em Dia. Siga a nossa página no Instagram ou no Facebook.
Até a próxima. 💙
Referências Bibliográficas
1- APAE – acesso em 28/04/2023
2- The Place for children with autism – acesso em 28/04/2023
3- Dicionário dos símbolos – acesso em 04/05/2023
4- tjdft – acesso em 04/05/2023
Postado por Autismo em Dia em 18/ago/2023 - Sem Comentários
O processo de diagnóstico de autismo em adulto tem algumas particularidades. Pode ser que você ache que está no espectro do autismo ou conheça alguém em busca de diagnóstico já na fase adulta. Então, este artigo pode ser muito útil para entender alguns caminhos possíveis para quem está suspeitando ser autista.
Afinal, existem diversos motivos para uma pessoa não ser avaliada e diagnosticada mais cedo, que podem ser:
Mas e quando a pessoa desconfia ou pensa estar certa sobre ter algo a ser avaliado?
Conviver com a incerteza sobre ter um transtorno ou não pode não fazer diferença para algumas pessoas. Porém, existem pessoas que começam a avaliar algo e percebem que podem estar no espectro do autismo. Algo que também não é incomum é que pessoas com TEA tenham alguma comorbidade associada. Então, descobrir se fazem parte do espectro, de fato, pode servir como um norte para a pessoa investir em tratamentos corretos e conseguir ter uma qualidade de vida melhor.
O diagnóstico do autismo em adultos vai acontecer depois de uma série de avaliações. Alguns caminhos possíveis para iniciar o processo serão apresentados, mas eles podem acontecer de formas diferentes, pois cada pessoa é única, inclusive nesse processo de iniciar a descoberta.
As características de autismo em adultos vão variar de acordo com o comprometimento funcional que ele apresenta.
Quando é um autista de nível 1, geralmente o indivíduo terá que lidar com questões relacionadas ao mercado de trabalho, às dificuldade para concluir um curso superior, ou para manter um relacionamento amoroso.
Já um autista nível severo, na fase adulta, vai ter comprometimento com a fala, por exemplo, necessitando de um suporte maior para cumprir atividades básicas do dia a dia.
Vamos aos possíveis caminhos?
Fonte: Envato/ Dimaberlin
Pode ser que uma pessoa com autismo comece a perceber os sinais após iniciar a terapia. À medida que vai avançando no processo terapêutico, ao comentar em sessão algumas dificuldades, pode ser levantada a hipótese do autismo. Nesse caso, é comum que o próprio profissional da psicologia faça o encaminhamento para as avaliações necessárias.
Também pode acontecer de uma pessoa ter iniciado um tratamento com psiquiatra e, no decorrer do processo, chegue às características próprias do autismo, descartando algum outro transtorno avaliado inicialmente. Ou, ainda, até somando como uma comorbidade ao autismo. Portanto, é importante que, para ser feita uma avaliação correta, o ideal seria o psiquiatra ser especialista em autismo ou a pessoa ser encaminhada para alguma instituição com acesso a essa especialidade.
Há também a possibilidade de um(a) neurologista iniciar a investigação. Isso acontece principalmente nos casos em que a pessoa tem quase certeza do diagnóstico ou nos casos que já tenham passado por uma avaliação com um(a) neuropsicólogo (a) e, a partir disso, começam a fazer mais testes complementares para fechar o diagnóstico. Com isso, poderá receber o laudo que vai permitir não apenas um tratamento adequado como acesso a uma série de direitos dos autistas.
A busca direta por um(a) neuropsicólogo pode acontecer depois que uma pessoa ler sobre os sinais e já se identificar com alguns. Por isso, muitos pacientes já chegam direto solicitando uma avaliação.
Essa resposta é muito pessoal. Quem suspeitar do transtorno sempre deve primeiro fazer a seguinte reflexão: “que sentido terá um diagnóstico nessa fase da minha vida? Estou em busca de respostas pessoais ou em busca de ajuda?” Caso perceba mais prós do que contras, vale pensar sim em iniciar uma investigação.
No entanto, podemos listar algumas hipóteses dos benefícios do diagnóstico de autismo em um adulto:
Fonte: Envato/ drazenphoto
Caso você tenha descoberto o autismo em sua vida, provavelmente vai desejar aprender mais sobre o assunto. Você também pode se interessar em acessar serviços, locais de apoio e até participar de grupos para se sentir mais inserido e acolhido.
Após fechar o laudo, busque todos os suportes clínicos e sociais que estiverem ao seu alcance. Isso será de grande importância para ajudar no desenvolvimento de traços que você entende que podem estar prejudicando alguma área na sua vida. Lembrando que, para cada pessoa, o tratamento vai ser individualizado, necessitando de focos diferentes. Os caminhos possíveis são:
Em muitos casos, o tratamento vai ser multidisciplinar, o importante vai ser avaliar quais os sinais precisam de atenção, para tornar o processo mais alinhado com cada dificuldade.
Durante todo esse texto falamos bastante do diagnóstico em adultos com sinais leves, ou seja, o autismo de nível 1. Mas pode acontecer também de uma pessoa com autismo Nível 2 ou Nível 3 receber o diagnóstico na fase adulta. Porém o mais comum não é isso acontecer, já que os sinais mais graves ficam mais evidentes e exigem uma tomada de decisão mais urgente.
Se você gostou deste artigo, recomendamos, também, a leitura de sintomas do autismo em adultos.
Siga o Autismo em Dia nas redes sociais para acompanhar todos os assuntos que compartilhamos por lá sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) =)
Referências Bibliográficas:
1- The Spectrum – acesso em 20/06/2023