Vacina e autismo: existe relação?


Postado por Autismo em Dia em 20/jan/2021 - 2 Comentários

Você já ouviu falar na conspiração que relaciona vacina e autismo? Infelizmente, o mito circula pelas redes sociais há muitos anos.

Iremos esclarecer no decorrer deste artigo de onde vem o mito de que vacinas causam autismo e porque isso é comprovadamente uma mentira. Também daremos dicas para tornar o momento mais fácil para o autista, então, continue a leitura e confira!

Fonte: Envato – Foto de Twenty20photos

Índice

De onde vem o mito

Em 1998 um estudo realizado pelo médico britânico Andrew Wakefield teve grande repercussão. Publicado na revista científica The Lancet, o medico alegava que 12 crianças neurotípicas se tornaram autistas após tomar a vacina tríplice viral. Essa é a vacina que protege contra caxumba, rubéola e sarampo.

A explicação do ex-médico era de que o imunizante causava inflamações intestinais nas crianças. Segundo o médico, a inflamação por sua vez desencadeava uma inflamação no cérebro que levava ao autismo. No entanto, vários estudos e pesquisas concluíram, depois do estudo de Andrew Wakefield, que não existe nenhuma correlação entre a tríplice viral e o autismo.

A revista The Lancet, onde o estudo foi publicado, se retratou publicamente em 2010 e retirou o artigo de seus arquivos.1

O estudo fraudulento

Em 2004, veio a público que antes de publicar o estudo em 1998, Andrew Wakefield havia feito um pedido de patente para uma vacina contra sarampo que concorreria com a tríplice viral. O fato logo foi visto como um conflito de interesses.

Além disso, um médico que participou do estudo revelou que Andrew mentiu sobre as crianças terem vestígios do vírus do sarampo. O médico conta que, na verdade, o vírus não foi encontrado em nenhuma das crianças.2

Mas as mentiras de Andrew não pararam por ai. Ele também escondeu que pelo menos cinco das doze crianças que participaram do estudo já tinham traços de autismo antes de tomarem a vacina, conforme publicado pelo jornalista Brian Deer no periódico científico BMJ. 1

Andrew Wakefield perde o direito de praticar a medicina

Foi só em 2010 que o Conselho Geral de Medicina do Reino Unido julgou Wakefield como inapto para o exercício da profissão, devido a seu comportamento irresponsável, antiético e enganoso.

Movimentos antivacina

O movimento antivacina é considerado uma das maiores ameaças a saúde global segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apesar de ter que ganhado força com o estudo de Andrew Wakefield, na verdade, os movimentos antivacinas já existiam há muito tempo. Existem registros de panfletos antivacina que foram amplamente divulgados na época da epidemia de varíola em Montreal, no Canadá, no ano de 1885.

O famoso panfleto que era contrario a vacinação foi escrito pelo doutor Alexander M. Ross, um nome conhecido no movimento antivacina. Assim como as alegações de Andrew foram refutadas por estudos sérios, Alexander também foi desmentido em sua época, já que a vacina era eficaz.

Um fato curioso é que veio a público a informação de que apesar de estar a frente do movimento na época, Alexander M. Ross se vacinou contra varíola durante a epidemia. A descoberta foi publicada por diversos jornalistas na época.

Fonte: Envato – Foto de Seventy Four Images

Estratégias dos movimentos antivacina

Com tanta informação disponível hoje em dia, é difícil acreditar que ainda existam pessoas que acreditem que vacinas causam autismo ou outras complicações, ou que elas sejam uma ameaça para a saúde.

Mas a verdade é que as teorias da conspiração convencem milhões de pessoas por todo o mundo. O discurso é elaborado e tem um tom convincente, usando do discurso de “autoridades” que legitimam os argumentos equivocados.

O problema é que o método cientifico não é conhecido por todos, então, muitos acreditam que é tudo uma grande conspiração para roubar a liberdade de escolha dos indivíduos e que esses “profissionais” foram “silenciados” pelo governo.

Além de utilizar das “autoridades” para tentar validar os discursos conspiracionistas e alegar que as vacinas causam outras complicações ou são ineficazes, existe a estratégia de minimizar a real ameaça das doenças. Isso acontece desde a epidemia de varíola do século 19, quando Ross e seus colegas antivacinas afirmaram que a varíola era apenas uma pequena ameaça para a população, apesar das taxas de mortalidade entre 30% e 40% e da doença ser extremamente contagiosa.

Epidemias de sarampo

Nos últimos anos os casos de sarampo voltaram a aparecer com força em todo o mundo. Em 2019, houve a maior explosão global de casos das últimas décadas.4

O aumento dos casos está diretamente associado aos movimentos antivacina, e segundo José Cássio de Moraes, especialista em imunização e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a maior parte dos pais que não vacinam os filhos são pessoas que têm acesso a informação, sobretudo nas classes A e B.2

Como ajudar um autista na hora da vacinação

Com a vacina para Covid-19 chegando, é natural que muitos pais e cuidadores de autistas se preocupem antecipadamente. Isso porque o momento pode ser bastante desafiador para os autistas e para os familiares.

Seja pela mudança na rotina, pela tensão de estar em um ambiente hospitalar ou pela ansiedade causada pelas agulhadas, o momento é assustador para muitos autistas. Em momentos como esse, é comum que ocorram crises de choro, agitação e até mesmo agressividade. Para lidar com isso, é preciso pensar em algumas estratégias para tornar o momento o mais tranquilo possível.

Prepare o autista com alguma antecedência, mas não tanta.

Sair da rotina é um desafio para muitos dos autistas, por isso, é importante prepara-lo para as ocasiões em que isso irá acontecer. Mas não é interessante exagerar na antecedência, para que o assunto não gere muita ansiedade.

Escolha o momento ideal de conversar com a criança ou adolescente autista sobre a vacinação levando em consideração o horário em que isso irá acontecer e pensando no que irá mudar na rotina daquele dia.

Com mais ou menos um dia de antecedência ou algumas horas antes da vacinação, explique o que irá acontecer detalhadamente. Conte sobre como funciona a injeção e talvez relembre outras situações onde ele foi vacinado. É importante que você explique o que vai ser feito, e reforce que estará cuidando dele o tempo todo.

Explique que a vacina ajuda a evitar que ele fique doente, que é preciso ficar quietinho no momento na injeção, mas será por pouco tempo.

Fonte: Envato – Foto de Dragon Images

Não minta para acalmar o autista

É comum que muitos pais digam aos seus filhos que a vacina não vai doer, esperando que eles fiquem mais calmos. Essa não é uma boa opção, pois, de fato, não ajuda o autista a saber o que esperar no momento da vacinação.

Se você diz para a criança que não vai doer nada, e no momento da vacinação ela sente dor, pode ocorrer uma reação exagerada da criança por achar que tem algo de errado, afinal, até onde ela sabe, não era pra doer nada. Além disso, as mentiras abalam a confiança autista nos responsáveis.

Seja honesto, explicando que pode doer um pouco, e que talvez ela chore, mas que logo irá passar e a vacina é muito importante para ela.

Lidando com o ambiente

É normal que no local existam outras crianças chorando ou gritando, e certamente isso é prejudicial para muitos autistas que têm alta sensibilidade aos sons. É interessante conversar com a criança e dizer que isso poderá acontecer, e então, buscar alternativas que aliviem essa possível sobrecarga sensorial.

Uma alternativa é evitar as salas de espera que tenham muitos estímulos. Converse com o profissional de saúde com antecedência explicando a situação, e verifique se existe a possibilidade de, por exemplo, a injeção ser aplicada no carro. As crianças que andam frequentemente de carro se sentirão mais a vontade no ambiente que já é familiar, além de se beneficiarem da ausência de muitos estímulos.

Se não houver essa possibilidade, seja porque os profissionais de saúde negaram o pedido ou porque a família não tem um veículo, pergunte se existe uma sala menos movimentada ou uma área externa para esperar com mais conforto e tranquilidade.

Acolha com amor e paciência

Mesmo com todas as estratégias para contornar o momento, pode ser que uma crise de choro, nervosismo ou agressividade ocorra. Procure acolher a criança com carinho e paciência.

Brigar não irá ajudar o autista a se acalmar, mas pode sim piorar a situação. É claro que não é tão fácil assim manter a calma nos momentos de crise, e todos somos humanos afinal. No entanto, transmitir tranquilidade será a melhor estratégia para que o autista consiga se acalmar.

Se o comportamento for positivo, reforce com uma recompensa

Se a criança cumpriu com a parte dela do combinado, é interessante recompensa-la com um agrado. Pode ser um brinquedo, um lanche especial ou um passeio em um lugar que ela goste.

Lembre-se que toda criança, autista ou não, pode chorar no momento da injeção, é normal e não é motivo para punição. Reforce que aquele agrado está sendo dado por ela ter sido corajosa, tendo ela chorado ou não.

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Referencias bibliográficas e datas de acesso:

1- Veja Saúde – Acesso em 09/01/2021.

2- BBC News – Acesso em 09/01/2021.

3- CNN Brasil – Acesso em 09/01/2021.

4- Fiocruz – Acesso em 09/01/2021.

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2 respostas para “Vacina e autismo: existe relação?”

  1. Germano disse:

    Na primeira dose minha filha não fico muito bem na segunda dose então dá tríplice viral ela teve em menos de 25in após tomas vacina um pouco muito alto de febre corri para o hospital e eles baixaram a febre dela depois daí ela nunca mais foi a mesma com oito anos ainda não fala faz fono to desde entao

    • Autismo em Dia disse:

      Olá Germano, a vacina não causa autismo. Veja, a febre é um efeito colateral comum das vacinas, e esse quadro febril pode ter evidenciado sinais do transtorno, e a partir dali a descoberta veio à tona.
      Esperamos que sua filha se desenvolva bem =)

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