Um adolescente autista e um pai engajado na causa


Postado por Autismo em Dia em 10/maio/2022 - 4 Comentários

Sejam bem-vindos a mais um #proTEA! O entrevistado da vez é o jornalista Francisco Paiva Jr., que é pai de um adolescente autista. E ele certamente não é novo aqui no Autismo em Dia. Na verdade, Francisco já nos concedeu uma entrevista especial no mês passado para falar sobre o Abril Azul e sobre a Revista Autismo, parceira do Autismo em Dia, da qual ele é cofundador. Neste mesmo texto falamos também sobre a Tismoo.me, rede social dedicada ao autismo que também conta com a liderança de Francisco.

Mas hoje o foco da conversa é o filho de Francisco, um adolescente de 15 anos chamado Giovane. Descobrir que o filho era autista mudou o rumo da vida do pai em vários sentidos, e nós vamos saber vários detalhes sobre a história dessa família no decorrer do texto.

Continue a leitura para saber tudo que Francisco compartilhou sobre a vida dele e do filho.

Índice

Descobrindo o que era autismo

O pai conta que a suspeita de que algo estava diferente surgiu quando o menino tinha 1 ano e 11 meses. Giovani não se comunicava de nenhuma forma: não falava, não olhava nos olhos, não apontava etc. Ou seja, não era só a comunicação verbal que não acontecia, mas também a não verbal. Veja o que Francisco compartilhou sobre esse momento:

“Além da parte da comunicação, ele também não costumava brincar adequadamente com os brinquedos. Se isolava, era muito preso à rotina… Enfim, ele tinha vários sinais muito evidentes de autismo, mas eu não conhecia nada sobre o assunto, então eu não sabia o que era.

Foi através de uma conversa com um primo meu que isso mudou. Eu falei pra ele que acreditava que o problema do Giovani não era só um atraso na fala, mas sim algo relacionado à comunicação em geral, pois ele não me cutuca, não apontava, etc. Foi aí que ele me perguntou se eu já tinha ouvido falar sobre autismo. À partir daí eu mergulhei nesse mundo e entrei nessa jornada de buscar informações sobre o autismo para entender se poderia ser isso e como eu poderia ajudar o meu filho.

O diagnóstico de Giovani

Ao mesmo tempo que Francisco estudava sobre o autismo por conta própria, o menino começou a passar por profissionais. Conforme conta o pai, uma consulta com uma neuropediatra foi marcada na mesma semana em que a suspeita recebeu o nome de autismo. Mas essa primeira avaliação do menino não ocorreu como o pai esperava:

“Fomos em uma neuropediatra do convênio mas ela acabou sendo de certa forma “prejudicada” na avaliação clínica. Isso porque ela era loira, e o Giovani por alguma razão gostava de loiras e ficou interagindo com ela. Ficava tentando pegar no cabelo dela, ficava olhando na direção dela, e querendo ou não isso prejudicou muito a consulta. Afinal, a criança que eu estava dizendo que ele era não condizia com o que ela estava vendo ali no consultório. Eu ouvi o que todo pai que quer negar um diagnóstico gostaria de ouvir: “seu filho não tem nada, tá tudo certo”.  Mas eu sabia que aquele comportamento era um fato isolado e que não estava tudo certo.

Então, eu procurei outro neuropediatra, e aí sim veio a confirmação. E quando eu digo confirmação, não quero dizer diagnóstico, afinal ele era muito novinho ainda. Mas confirmou-se sim que tinha algo de diferente no desenvolvimento dele e que podia ser autismo. Então o médico já encaminhou ele para todas as terapias necessárias, a psicologia com a ABA, a fonoaudiologia… Terapias todos os dias, aquela jornada que muitos pais de autistas já conhecem.

A importância das terapias

Foto: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Francisco Paiva

Conforme o pai relembra, esse mesmo médico disse que Giovani teria o que chamavam de “autismo clássico” na época, o que significa que ele poderia ter problemas mais acentuados na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. Mas o médico também disse que, com a intervenção terapêutica correta, isso poderia mudar, e foi exatamente o que aconteceu. Graças às terapias, Giovani melhorou muito e aprendeu muitas habilidades, o que mudou o cenário e o colocou no nível de suporte 1 do espectro.. Ele frequenta o ensino regular e já está no 1° ano do ensino médio.

Alguns detalhes sobre o garoto

Saber sobre informações sobre o diagnóstico, terapias e grau do autismo é importante para imaginarmos o cenário. Mas é sempre bom olhar mais de perto para características como a personalidade e os gostos pessoais, assim, podemos nos sentir mais próximos do nosso proTEAgonista Giovani . Veja como o pai descreve o garoto:

“O Giovani é uma pessoa muito carinhosa, sempre gostou de abraçar, beijar e demonstrar afeto. Ele é mais ingênuo do que os adolescentes da idade dele, e o isolamento de dois anos por causa da pandemia não foi nada benéfico nesse sentido. Ele também mudou de escola agora, e está enfrentando muitos desafios na questão social. A adolescência por si só já costuma ser um período desafiador para todos. Para ele, ainda mais.

Ele gosta muito de desenhos animados e já teve vários hiperfocos nessa área. Os hiperfocos vão mudando com a idade, de Mickey Mouse para Bob Esponja, e atualmente é muito fã de Ladybug e Cat Noir (do desenho animado “Miraculous”). Ele gosta muito de filmes de ficção, fantasia e ação, como os filmes de super heróis da Marvel, por exemplo. Também é fã da Turma da Mônica há muito tempo, e os gibis foram grandes aliados para ele melhorar a interpretação de texto, que ele tinha mais dificuldade na escola.

E por falar em escola, ele é muito bom com cálculos e raciocínio lógico. Tem uma ótima memória, e nesse sentido, tem uma curiosidade: certa época ele sabia em que dia da semana qualquer data cairia. Era impressionante. Você perguntava em que dia ia cair o natal de 2030, e ele sabia responder rápido e com precisão. Acredito que ele tenha decorado alguns calendários ou descoberto uma forma de fazer a conta de uma forma rápida. Mas como isso exigia que ele precisasse interagir muito, ele parou de responder quando perguntam.

“Não agende a felicidade.”

Foto: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Francisco Paiva

Para o pai, o maior aprendizado adquirido graças ao autismo é não agendar a felicidade. Entenda o que ele quer dizer com isso:

“Minha vida mudou completamente desde o diagnóstico do meu filho. Eu mergulhei no universo do autismo para ajudar ele e, depois de ele estar com tudo encaminhado, eu resolvi ajudar outras pessoas. Junto com o pai de uma menina autista eu fundei a Revista Autismo, que é um projeto do qual me orgulho muito. Escrevi também um livro “chamado “Autismo — Não espere, aja logo!” e agora estou trabalhando no projeto da Tismoo.me.

Com tudo que eu vivi com o meu filho, eu costumo dizer que um grande ensinamento é não agendar a felicidade. O Giovani só foi falar aos 4 anos de idade. E esse era um anseio muito grande, claro, como é para muitos pais. Mas eu via muitos pais deixando de viver experiências, esperando para quando o filho falasse, para quando fosse mais independente… Mas a gente não sabe quando essas coisas vão acontecer, se vão acontecer, se vamos estar aqui… Então gosto de incentivar essas famílias a viverem o hoje, a procurarem a felicidade hoje.

O mesmo vale para os bens materiais. Não dá pra esperar ter aquele carro, ou aquela casa, enfim… Não dá pra esperar algo acontecer para finalmente viver. Nós podemos fazer planos para o futuro, isso é de fato importante. O que não dá, é para viver com os pés em um futuro que a gente nem tem como saber como vai ser e se vai ser. Ser feliz hoje, com o que tenho hoje. Viver intensamente hoje. Pois quando eu agendo a felicidade para amanhã, eu corro o risco de não ser feliz.” 

Tem mais…

Foto: Arquivo Pessoal – Foto cedida por Francisco Paiva

E então, gostou de conhecer essa família? Pois saiba que tem muito mais a conhecer! Francisco mantém um canal no YouTube onde ele compartilha momentos com Giovani e também com a irmã mais nova do garoto, a Samanta, de 13 anos. Clique aqui e inscreva-se no canal para acompanhá-los mais de perto.

Você também pode acessar o nosso texto onde apresentamos a nossa parceira Revista Autismo clicando aqui para saber mais em detalhes. Além disso, pode apoiar esse projeto importante seguindo as redes sociais e, se desejar, assinando a versão impressa da revista, para recebê-la em casa, você paga apenas pelo frete. Todos os links relacionados à Revista Autismo podem ser acessados clicando neste link.

Mas aqui na seção de downloads do Autismo em Dia também disponibilizamos gratuitamente as versões digitais da Revista Autismo, além de diversos materiais relevantes e qualidade, então não deixe de conferir! Nos acompanhe também nas redes sociais, você pode encontrar todas as plataformas que estamos presentes clicando aqui.

Muito obrigado pela leitura e até a próxima! ?

“O Autismo em Dia não se responsabiliza pelo conteúdo, opiniões e comentários dos frequentadores do portal. O Autismo em Dia repudia qualquer forma de manifestação com conteúdo discriminatório ou preconceituoso.”

4 respostas para “Um adolescente autista e um pai engajado na causa”

  1. Erica Regina da Silva Bastos disse:

    Amo os relatos apresentados , amo as identificações do espectro isso me ajudar a me sentir mais forte por saber q tem mais gente que me entende, obrigada. Gostaria de um dia poder falar sobre o Bryan meu neto de oito anos q foi abandonado pelos pais aos 2 anos e 4 meses por não conseguirem aceitar o diagnóstico de TEA nível médio e hj ver a evolução dele .

    • Autismo em Dia disse:

      Olá Erica, como vai? Vamos entrar em contato contigo para agendar uma entrevista!

      Ficamos muito felizes que o blog te ajude a sentir-se acolhida. Esse é o nosso propósito. Um abraço carinhoso.

  2. Marcos Upton disse:

    Que exemplo esse pai nos dá , sou pai de um BB autista com 3 anos e 3 meses , quero também dar o melhor para o meu filho !

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