Google está contratando mais pessoas no espectro do autismo – mas o que isso representa?


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Postado por Autismo em Dia em 17/fev/2022 - 7 Comentários

A presença de autistas no mercado de trabalho sempre foi, sem dúvida, um desafio para contratantes e profissionais. De um lado, uma parcela ainda pequena de autistas com formação técnica ou universitária. Do outro, empresas que ainda estão perdidas, sem saber como, de fato, integrar pessoas com necessidades diferentes. Mas isso está mudando. Casos como o da gigante da tecnologia Google, que lançou recentemente um programa de contratação de pessoas no espectro do autismo, podem servir de exemplo para outras empresas.

Isto porque, quando falamos de uma marca desse porte, a visibilidade pode ser capaz de gerar um movimento global de inclusão. Mas será que o programa da Google pode mesmo mudar o patamar da visibilidade? Quais são os impactos reais?

Autismo no Google

Fonte: Freepik – Foto de Katemangostar

Índice

A Google e o autismo

Em 2021, a marca Google preparou um passo realmente ousado na questão do autismo. Eles juntaram forças com a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, com o intuito de tornar a força de trabalho mais neurodiversa. Ou seja, o posicionamento da empresa é de que, sim, eles querem mais autistas trabalhando com eles. A princípio, o “Programa de Carreira para Autismo do Google Cloud” é voltado para encontrar profissionais que trabalhem com tecnologia de armazenamento (nuvem).

Para coordenar a iniciativa, eles buscaram uma forma técnica e científica de trabalho. A Google escolheu o Neurodiversity Project, que faz parte do curso de medicina da Univesidade de Stanford. Juntos, Google e Stanford pretendem treinar mais de 500 gestores para selecionarem talentos dentro do espectro do autismo. A ideia é que seja uma seleção cada vez mais eficaz e personalizada.

Como é o projeto da Google para contratar autistas

Segundo comunicado da gigante da tecnologia, a Universidade Stanford não vai apenas treinar gerentes e candidatos às vagas. A ideia é que eles também acompanhem e apoiem as pessoas que forem, enfim, contratadas.

No entanto, o processo de seleção da Google não será como os outros. A empresa promete, através do novo programa, mudanças nos modelos de entrevista. De acordo com Robin Enslin, que é presidente de operações globais, a seleção será mais flexível e com tempo extra para a entrevista. Além disso, os candidatos terão acesso às perguntas com antecedência, assim como podem, também optar por fazer a entrevista por escrito.

Para o portal internacional Disability Scoop, Enslin disse, também, que algumas pessoas chegaram a desconfiar que esse modelo de seleção daria uma vantagem aparentemente injusta aos autistas. Porém, Enslin defendeu o seguinte: “É exatamente o contrário: eles eliminam uma desvantagem injusta para que os candidatos tenham uma chance justa e equitativa de competir pelo emprego.”

No site oficial do projeto, o diretor chamou atenção para uma estatística ainda chocante: menos de 30% dos autistas no mundo todo tem algum trabalho ou emprego remunerado. Enslin definiu a informação como “trágica” e fruto de um preconceito sem consciência.

“Esse preconceito muitas vezes marginaliza grandes candidatos. E também significa que as empresas perdem talentos valiosos que podem contribuir e enriquecer o local de trabalho”, disse Enslin à Disability Scoop. “Este programa é apenas um exemplo do compromisso do Google Cloud com a inclusão e é um passo importante para construir uma equipe mais representativa e criar valor para clientes e partes interessadas.”

O impacto do programa da Google no universo do autismo

Os números iniciais da iniciativa impressionam, afinal, qual outra empresa poderia envolver, de uma só vez, mais de 500 pessoas numa mudança de mentalidade voltada para os autistas? Além disso, o apoio de uma grande universidade pode atrelar alguns avanços científicos nesse campo de estudo. De uma forma mais ampla, isso certamente vai impactar milhares de outras empresas que já vêm se interessando pela inclusão.

Inclusive, já mostramos alguns exemplos aqui no blog de empresas brasileiras que participam de programas semelhantes.

LEIA TAMBÉM: aTip – o projeto que quer viabilizar milhares de vagas para autistas trabalharem

No entanto, o que a Google fez é algo que vem dando forma ao que é o autista no mercado de trabalho. O que se vê, na maioria dos casos, é uma oferta cada vez mais ampla nas áreas tecnológicas. Por um lado, isso tem muito a ver com habilidades lógicas e matemáticas que muitos autistas têm. Por outro, podem criar uma falsa impressão de que não existem outras oportunidades escaláveis nas corporações.

A luta social que vem ganhando força à base de muito custo é de não limitar autistas a isto ou aquilo. Assim, também precisamos discutir outras áreas de atuação profissional para pessoas neurodiversas.

A estratégia da Google na visão de um autista

Para o site Changing America, o colunista Sam Farmer, que é autista, explicou que sua experiência escolar fez com que ele entendesse a importância de mudanças metodológicas para autistas.

“Como autista”, conta Sam, “posso atestar que minha pontuação sofreu uma surra.  Foi resultado do tempo de prova que acabava bem antes que eu pudesse terminar. Muitas perguntas de compreensão de leitura ficavam sem resposta. Hoje eu penso que foi tolo da minha parte me recusar a fazer a opção de prova sem prazo. Eu optava pela avaliação nos mesmos termos que meus colegas de classe.

Se eu tivesse feito diferente, não teria sido uma vantagem injusta. Eu rejeitei uma acomodação que já era necessária e paguei um preço por isso“, conclui.

No mesmo artigo, Sam ainda conta que uma de suas professoras entendia sua situação e sempre permanecia com ele por um tempo maior durante as provas, sem se importar com quanto tempo seria necessário. Sobre isso, Sam conta a diferença que fazia.

“Ali, eu pude provar a verdadeira extensão do meu conhecimento. Sua flexibilidade e compreensão significavam muito para mim, sabendo ela que eu trabalhava bem mais devagar do que a maioria. Ela ainda poderia ter imposto as mesmas expectativas que tinha com os outros alunos, mas escolheu me isentar. Senti-me compreendido e valorizado em um momento da minha vida em que, muitas vezes, me sentia marginalizado.”

Igualdade versus Equidade

A exemplo do que Sam contou ao site num tópico que abordava justamente o caso Google e autismo, fica clara a diferença entre igualdade e equidade. Nem sempre colocar à disposição do autista as mesmas oportunidades terá o efeito esperado.

Logo, é preciso que as empresas façam um movimento de promover a equidade, ou seja, a justiça sobre os métodos. A vivência e a sobrevivência de neurodivergentes em um mundo neurotípico não é fácil e, na maioria das vezes, os relatos são de que as experiências cotidianas soam mais severas para quem está no espectro.

A experiência do programa de contratação e formação para autistas no Google é um bom exemplo de como se faz equidade – ao menos na teoria. É uma amostra dos benefícios de tirar autistas da invisibilidade, do subemprego ou do desemprego, fazendo acomodações adequadas. Estas, ausentes na maioria dos casos – ainda que sejam extremamente necessárias.

A Google ainda não divulga quanto do seu efetivo de funcionários está, de fato, no espectro do autismo. Porém, os números estimados para a primeira fase da implantação são potentes.

LEIA TAMBÉM: Autistas no mercado de trabalho – dicas para os empregadores

O poder da visibilidade – outro gigante da tecnologia chama atenção para o TEA

Falando em Google, tecnologia e autismo, é impossível não lembrar de Elon Musk. O empresário foi eleito a personalidade do ano de 2021 pela revista Time. Em paralelo a todas as criações incríveis do dono da Tesla estão destacadas suas recentes declarações na televisão de que Musk tem a síndrome de Asperger.

Ainda que Asperger seja um termo cada vez mais em desuso e incorporado ao conceito de autismo, não dá para negar o quanto isso gera de visibilidade para a causa. Nem sempre do jeito mais correto. Afinal, sua posição de gênio colabora com o conceito que muitos têm de que autistas são excêntricos e muito acima da média.

No entanto, sua declaração fez as buscas pelo termo “Asperger” dispararem na semana em que o programa foi ao ar. Ajuda, também, ter sido feita num dos shows de maior audiência nos Estados Unidos. Logo, podemos supor que, em algum momento, esse interesse pelo assunto levou usuários da internet ao autismo.

O fato ainda inspirou artigos sobre os impactos da declaração de Elon Musk no mundo dos negócios. Veja, por exemplo, este artigo da CNN. Trouxe a opinião de diversos nomes envolvidos na indústria da tecnologia sobre as inovações que ocorreram nos últimos 5 anos graças à neurodiversidade.

“Talvez o foco possa mudar! De ‘o que está errado’ com indivíduos no TEA para ‘como podemos consertar o sistema’. Para acomodar todos os dons e suas abordagens exclusivas nos nossos ambientes“. Foi o que disse a terapeuta e professora universitária Amy Griffith à reportagem.

Autismo em alta

Os fatos que citamos acima só reforçam o quanto o autismo é um assunto atual e que ainda será muito falado nos próximos anos. Por isso, nada melhor do que estar bem informado e acompanhar fontes confiáveis, como Autismo em Dia. Nossos artigos são sempre feitos por especialistas no assunto e pensados para atender as sua necessidades.

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Até a próxima!

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7 respostas para “Google está contratando mais pessoas no espectro do autismo – mas o que isso representa?”

  1. Eudaldo Joventino Pozzeti Ramos disse:

    Ótima reportagem, pensando no meu filho q tem autismo nível 1 conforme diagnosticado pelo psicólogo que o acompanha.
    Vi nesta reportagem uma oportunidade real no âmbito profissional para o meu filho, pois o garoto tem muita facilidade para área de exatas e tecnologia.

  2. Silvana Rufino disse:

    meu filho faz geografia e tem 21 anos.Procuro diagnóstico desde os 11 anos, porém depois de tantas buscas por profissionais.Fuu atrás de um grande médico particular e com experiência Dr Clay Brites que infelizmente faleceu esse ano.Enfim o autismo é nível 1 e tda.O que pega é o social.Entretanto é ótimo em gramática e geografia.Mas da conta da tecnologia, mesmo não sendo o forte dele.Finalizando ele tem capacidade de trabalhar em escritório, administração etc..Só que só oferecem sub empregos ignorando a habilidade dele.,ou seja generalizam e não dão oportunidade p ele .Isso precisa mudar .Eles precisam seguir e viver com um trabalho de acordo com seu grau de escolaridade e capacidade

  3. LISIA MARIA HORTA KOSSMEHL disse:

    Meus 2 filhos são autistas. Como faço para tentar conseguir um vaga no Google. Eles são autista nível 1.

    • Autismo em dia disse:

      Olá, Lisia. Um caminho seria acompanhar as vagas deles através do Linkedin. Você também pode fazer o perfil profissional dos seus filhos na plataforma, assim eles podem fazer conexão com a empresa pelo Linkedin. Espero que ajude. 💙

  4. Miriam de Lucas de souza disse:

    Queria saber como faço p encontrar uma vaga p meu filho q tem autismo?

    • Juliana Canavese disse:

      Olá, Miriam. Precisa ir fazendo cadastros dele em sites de empresas e de agências. Um abraço!

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