Os desafios da maternidade autista: conheça Regiane, do interior de São Paulo


Desafios da maternidade autismo

Postado por Autismo em Dia em 25/set/2023 - Sem Comentários

Criar uma criança envolve muitas coisas: educar, ensinar, alimentar, ser exemplo, dar amor, entreter e muito mais. Agora, imagine quando se é mãe de autista e você precisa encarar todos esses desafios da maternidade sozinha. Essa provavelmente é a história de várias mulheres pelo Brasil, assim como a nossa proTEAgonista de hoje, a Regiane Rodrigues, mãe do Rafael.

Eles, que são moradores de Bragança Paulista, do interior de São Paulo, são mais que mãe e filho. São grandes parceiros de vida. Por isso, te convidamos a acompanhar essa história inspiradora a seguir.

Índice

O diagnóstico de autismo como um dos desafios da maternidade

Rafael teve os sinais do autismo percebidos muito cedo, quando o garoto ainda tinha perto de 2 anos e meio. No entanto, Regiane conta que o processo até o diagnóstico não foi fácil.

“Eu jamais esperaria passar por tantas coisas que eu não tinha nem noção do que fazer. E foi, de fato, muito difícil para fechar o diagnóstico. Eram muitos exames, muita burocracia. Mas, quando ele tinha 4 anos e meio, eu consegui fechar o diagnóstico”, conta.

Regiane ainda explica que percebeu cedo os sinais de autismo em Rafael por conta de suas experiências anteriores, já que ela é mãe de dois filhos hoje adultos.

“O primeiro sinal que eu percebi foi a fala. Com 1 ano e meio ele ainda não falava, mas os médicos diziam pra eu esperar até os 2 anos. Com 2 anos, nada dele falar. Mas eu ainda ouvi que tem que criança que demora mesmo. Afinal, ele andou no tempo normal, com 11 meses. Por eu não ter outra criança em casa, os médicos me disseram pra eu matricular ele logo na escola pra ele desenvolver a fala no contato com outras crianças”, explica.

E, como Regiane veio a confirmar, essa foi a melhor coisa que ela fez.

“No primeiro dia de aula, uma professora muito experiente veio me perguntar se eu desconfiava que meu filho era autista”.

desafios da maternidade

Fonte: arquivo pessoal – cedido por Regiane Rodrigues

Aceitando e entendendo o autismo

Regiane conta que sua reação ao que a professora disse envolvia sentimentos mistos.

“Eu, sem dúvida, desconfiava. Mas a gente, como mãe, não quer aceitar num primeiro momento. Isto porque eu lia bastante coisas e eu tinha esperança que fosse apenas um atraso, mesmo. Como, em muitos casos, acontece. E foi nesse momento que os médicos também começaram a desconfiar.

Porém, infelizmente, aqui onde eu moro, tudo é difícil, inclusive fechar um diagnóstico. Daí a demora em ter o laudo”, explica Regiane.

A fase mais difícil

Apesar das dificuldades, Regiane colocou Rafael em diversas terapias ainda antes do diagnóstico. Nesse período, o menino já fazia fono e terapia ocupacional, no que Regiane descreve como o início de uma jornada em que os desafios da maternidade seriam maiores. De manhã era a escola, e de tarde as terapias.

E, enquanto isso, ainda existia o desafio de fazer com que o autismo em Rafael fosse compreendido pela família – no caso, os dois filhos mais velhos de Regiane.

“Os meus outros filhos não entendiam muito. Até eles entenderem foi bem difícil. Por que, para eles, também era uma novidade. E, de uma forma geral, eu era e ainda sou mãe solo e não tinha nem condições financeiras pra ficar levando meu filho nas terapias.

Eu não trabalhava e praticamente parei a minha vida por ele. E não dava pra eu sair pra trabalhar, afinal, pode parecer mentira, mas não são muitas pessoas que gostam de olhar uma criança autista enquanto a mãe sai. Isto porque elas não entendem o assunto. Então, o mundo caiu na minha cabeça.

Eu fiquei perdida e comecei a ir atrás de muitas coisas, dos direitos que ele tinha, até de um passe livre para o ônibus, já que eu não tinha carro. E era isso, eu tinha que me virar sozinha.”

Os desafios da maternidade ficaram mais fácil com a vida organizada

E o que não faltou nesses últimos anos foi oportunidade de Regiane aprender a domar todas as dificuldades. Ela conta que hoje já se sente organizada com todos os desafios da maternidade.

“Hoje, graças a Deus, minha vida é organizada. Mas ainda sou só eu. Não participo muito de grupos de apoio, apesar de eu ter tido uma pessoa que me ajudou muito nesse sentido de procurar os direitos. [vale lembrar que em Bragança Paulista existe o grupo AMADAS, uma das primeiras histórias que contamos aqui] Só que eu sou uma pessoa que sempre gostei de resolver meus próprios problemas.

O que me ajuda, também, é a meia hora que eu passo com uma psicóloga cedida por uma associação daqui enquanto ele vai para a terapia. Mudou muito a minha vida, é um tempo suficiente para desabafar um pouco”.

Autismo em dia

Fonte: arquivo pessoal – cedido por Regiane Rodrigues

Pequenos momentos que aquecem o coração de uma mãe

E enquanto a vida vai se ajeitando, Regiane encontra no cotidiano pequenos momentos de orgulho e alegria no desenvolvimento do filho. Uma história que ela destaca é sobre os aniversários. Rafael não gostava de jeito nenhum do momento do Parabéns. Nem o seu nem o dos outros. A esperada hora do parabéns era o momento em que ela tinha que levá-lo embora das festas.

Mas ela foi trabalhando isso devagar e ajudando o filho a ressignificar esse momento. Hoje, quando em seu próprio aniversário Rafael vibra junto esse momento, Regiane se enche de alegria.

A relação com o pai

Rafael é fruto de um relacionamento que não durou muito na vida de Regiane. Por isso, ela conta que existe uma relação de certa distância com ele, mas que pouco afeta o sentimento de carinho que seu filho tem com o próprio pai.

“Ele tem contato com o pai, que sabe que ele é autista, mas que não entende absolutamente nada do assunto. O pai dele vem ver ele na minha casa. Foi assim que eu estipulei por conta de algumas questões. Eu gostaria que isso até fosse mais frequente, mas infelizmente não é. Por que o Rafael ama demais o pai, mas não entende muito a situação. E eu não quero que ele perca esse amor, porque é um momento que  faz ele feliz. Você vê a felicidade nos olhos dele quando o pai chega”.

História real de autista

Fonte: arquivo pessoal – cedido por Regiane Rodrigues

Apenas uma criança

Em meio a tantas questões de adulto, não podemos esquecer que Rafael ainda é apenas uma criança. E Regiane conta com orgulho que o filho é aberto às descobertas, às brincadeiras e às amizades.

“O Rafael não gosta de desenho nem de pintar, mas tem uma habilidade incrível com massinha, faz coisas incríveis. Ele tem, também, o momento de todos os dias em que ele gosta de sair na rua pra brincar com os amigos. Na prática, ele nem brinca com as outras crianças, mas ele gosta de ficar por ali. E os meninos da rua conhecem ele, sabem que ele é autista e respeitam ele. E nessas coisas, tanto as crianças daqui quanto as da escola estão de parabéns. A professora conta que, em alguns momentos, até precisa tirar outras crianças de perto de tanto que elas querem pegar, abraçar.

O Rafael também adora ir ao shopping só pra ir no McDonalds. E, atualmente, ele não faz mais birras nos lugares, é um momento de felicidade tranquila.

E ele adora, também, quando os irmãos vão em casa. Ele ama também a irmã, mas tem um carinho diferenciado no irmão.”

ProTEAgonistas – sua história pode inspirar outras pessoas

Tal como a história da Regiane, ainda existem muitas outras a serem contadas. E você pode ser a próxima pessoa. Tem alguma história que acredita que valha a pena ser contada envolvendo algum autista? Nos chame pelas redes sociais ou deixe um comentário aqui no site.

Muito obrigado pela leitura e até a próxima! =)

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