Autismo é genético? Essa família com 5 autistas prova que sim!


Postado por Autismo em Dia em 23/mar/2022 - 20 Comentários

Primeiramente, precisamos esclarecer que o autismo não é exclusivamente genético. Afinal, existem diversos fatores ambientais relacionados ao autismo que não têm relação com a genética.

Ainda assim, o autismo que se manifesta por fator genético é muito comum. Inclusive, nós já contamos diversas histórias que mostram essa realidade, e hoje vamos contar mais uma delas.

Mas o caso de hoje é, no mínimo, bem diferente! Conversamos com Talita, uma mulher de 30 anos que se descobriu autista bem depois do diagnóstico do filho, Henry, de 7 anos. Além disso, a filha mais nova dela, Lívia, 6 anos, também possui diversas características e está em fase de investigação.

E não para por aí: ela tem um sobrinho de 10 anos, chamado Arthur, que também possui o diagnóstico de autismo, e o irmão mais novo desse sobrinho, o Heitor, de 5 anos, possui muitas características e está em fase de investigação.

Bem, agora que já falamos o básico sobre cada um dos nossos #proTEAgonistas da vez, vamos nos aprofundar na história dessa família e descobrir como essas descobertas começaram. Continue a leitura e saiba tudo!

Índice

Como tudo começou

Talita conta que o primeiro a ser diagnosticado na família foi Henry. Ela recorda que os primeiros sinais foram percebidos desde o primeiro ano de vida do filho, pois ele tinha comportamentos como crises de choro excessivo. O menino também costumava enfileirar os brinquedos e tinha um interesse especial em girar as rodas dos carrinhos repetidamente.

A mãe chegou a falar com a pediatra de Henry sobre esses comportamentos. Veja o que ela conta sobre essa época:

“Como ele era muito pequeno, a pediatra e uma psicóloga com quem ele passou, falaram basicamente o mesmo: que era coisa da idade, e até mesmo que era apenas birra ou manha.

Aos dois anos, nós matriculamos ele na escolinha. No entanto, cerca de dois dias depois a professora já nos chamou para dizer que ele estava se escondendo embaixo da carteira e que provavelmente não estava preparado para ir pra escola ainda. Ela disse também que, como ele tinha a irmã em casa com poucos meses, ele poderia estar tendo dificuldades de ficar na escola por saudades da irmã, e aconselhou que retirássemos ele da escola. Fizemos isso, mas com o passar do tempo, os comportamentos como crises de choro e excesso de mastigação só iam aumentando.”

O diagnóstico

Talita segue compartilhando suas memórias sobre como chegaram ao diagnóstico de Henry e nos conta os detalhes disso:

No ano seguinte, matriculamos ele na escola de novo. Cerca de um mês depois, fui chamada pela escola novamente. Dessa vez, ele estava com uma nova professora, que me chamou para uma conversa com ela e também com a diretora. Elas me disseram, então, que o Henry tinha um comportamento muito diferente do das outras crianças. Disseram que iriam encaminhar ele para um centro especializado para tentar descobrir qual era a causa para essas diferenças. A essa altura eu já tinha pesquisado os sintomas dele e encontrado o autismo, e como muitas coisas batiam, eu já disse para elas que eu desconfiava que ele pudesse ter esse diagnóstico.

De fato, ele passou por diversos profissionais desse centro, como psicopedagoga, psicólogos, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional, que por fim, encaminhou ele ao psiquiatra e também ao neuropediatra. Após alguns exames realizados para descartar outras possibilidades, ele recebeu o diagnóstico de autismo, e o laudo dele saiu quando ele tinha 4 anos.”

Autismo é genético? Quando uma coisa leva a outra

autismo é genético

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Talita

Com o diagnóstico de Henry fechado e já familiarizados com as características do autismo, a família notou que Arthur, primo de Henry, tinha comportamentos muito característicos do TEA. 

“No caso do Arthur, não haviam crises de choro. Mas outros comportamentos como dificuldades em compreender algumas situações sociais, dentre outros sinais. Uma coisa que chamava atenção no caso dele é que ele sempre foi muito inteligente, e na escola os professores sempre diziam que ele tinha um QI acima do comum. Ele tinha desenvolvido uma estereotipia com a boca, e por essa razão a mãe dele passou a levá-lo à psicóloga. Então, a profissional levantou a hipótese do autismo com base nas características que ela notou. Ele foi encaminhado para outros profissionais e logo foi diagnosticado também.”

O que veio em seguida

Como já sabemos, o diagnóstico de Henry e Arthur era só o começo de tudo. Dessa vez, a suspeita veio em dobro: Lívia, a filha mais nova de Talita, e seu primo Heitor, também estavam demonstrando sinais de autismo. Veja o que Talita conta sobre isso:

“Na Lívia e no Heitor, o primeiro sinal de alerta foi a questão das crises de choro, irritabilidade e agressividade. Os dois eram muito nervosos, tinham dificuldades de compreensão e crises de ansiedade. Mas eles ainda estão na fase de diagnóstico, percebemos os profissionais mais resistentes, talvez pela idade deles.”

Como foi lidar com essas descobertas

Sabemos que, para muitos pais e familiares, lidar com um diagnóstico de autismo traz uma avalanche de anseios. Naturalmente, muitos podem pensar que, com tantos casos na família, isso foi ainda mais difícil de enfrentar. No entanto, para Talita, não foi bem assim. Ela conta que não passou pela fase comumente chamada de “luto”, nem mesmo no primeiro diagnóstico, e que, na verdade, nunca entendeu muito bem a razão para outros pais passarem por isso.

“Acredito que o fato de eu já estar pesquisando sobre o autismo há um bom tempo e já imaginar que o Henry seria diagnosticado fez com que isso não fosse uma surpresa. Sempre tive dificuldades para entender a razão de muitos pais sofrerem tanto, pois eu não passei por isso. Eu já estava ciente sobre as diferenças do meu filho, então, na minha forma de encarar as coisas, nada mudava com o diagnóstico, certamente não no sentido negativo da coisa.

Outra coisa que pode ter colaborado para nós levarmos os diagnósticos de uma forma leve é o fato de a gente já ter bastante vivência com pessoas com deficiências ou questões neurológicas. Tenho uma prima que tem paralisia cerebral, por exemplo, e temos também familiares com epilepsia. Quanto a quando descobri o autismo em mim, também não mudou muita coisa, pra falar a verdade. Trouxe respostas, é claro, mas não foi difícil lidar com o diagnóstico.”

O diagnóstico de Talita

autismo é genético

Fonte: Arquivo pessoal cedido por Talita

Foi com base na observação do comportamento de Lívia que surgiu a suspeita de que Talita também fizesse parte do espectro autista. 

Minha mãe e minha irmã observavam os comportamentos da minha filha e me viam nela. Elas sempre diziam: “Você era assim quando criança.”, “Você fazia exatamente isso”… Fomos então observando comportamentos que realmente eram característicos do autismo, então resolvi investigar.

Passei a fazer psicoterapia e fui também para o psiquiatra investigar. Ele fez diversas avaliações e, com base nos resultados, descartou outras possibilidades e identificou que eu era sim autista. No meu caso, como não se tinha muito conhecimento sobre o autismo, nunca houve suspeita. Eu fui mascarando certas características ao longo da vida. O próprio psiquiatra ressaltou que identificou sinais de mascaramento do autismo em mim.”

O diagnóstico trouxe respostas?

Talita foi a ultima da família a ter seus sinais de autismo notados e investigados. Ainda que o diagnóstico tenha sido tardio, ela reconhece que esse foi um marco importante em sua história. Muito se explicou sobre as vezes em que ela se sentiu diferente, sendo algumas coisas bastante específicas, conforme ela descreve:

“O que mais me proporcionou respostas, para começar, foi a questão da minha dificuldade de compreensão sobre as outras pessoas. Por exemplo, para mim, sempre foi muito difícil de entender quando alguém não pensava como eu a respeito de alguma coisa. Na minha mente, como a minha maneira de pensar fazia total sentido, as outras pessoas tinham que pensar como eu, tinham que concordar comigo. Eu não conseguia entender o fato de existirem modos de pensar diferentes do meu. Na verdade, ainda tenho dificuldades quanto a isso, mas a gente vai trabalhando essas coisas.

Outro exemplo é a minha dificuldade em entender as atitudes das outras pessoas que não fazem sentido para mim. Também sempre foi difícil entender como as pessoas expressam os sentimentos. Eu me pegava pensando: “se essa pessoa está feliz, por que ela está chorando?”, “por que ela chora tanto?” “por que chora de raiva?”… Tenho muita dificuldade de entender e expressar minhas emoções. Sei o quão frustrante pode ser para as pessoas me darem presentes, por exemplo. Isso porque eu não consigo demonstrar alegria ou gratidão, por mais que eu sinta, eu não demonstro isso da mesma forma que os outros. Sei que muitos viam isso como algo negativo, até mesmo arrogante, e eu mesma ficava frustrada com meu próprio jeito às vezes. Mas hoje eu já entendo que isso é uma característica do autismo, e não algo que tenha a ver com a minha personalidade.”

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Essa foi a história de Talita, Henry, Lívia, Arthur e Heitor. Você gostou de conhecê-los? Nós adoramos compartilhar mais uma história única com nossos leitores!

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20 respostas para “Autismo é genético? Essa família com 5 autistas prova que sim!”

  1. Andressa Camargo disse:

    Eu sou parte dessa história, amo minha família e tenho muito orgulho da minha irmã, meus sobrinhos e meus filhos! Somos uma grande família e muito unidos ? Amor não falta❣️ Aprendo com cada um ?????

  2. Clélia disse:

    Matéria perfeita

  3. Eduardo Vieira de lima disse:

    Linda matéria, Deus abençoe.

  4. Paulo Pacheco disse:

    Tenho 72 anos e estou cuidando de uma neta com 22 anos, diagnosticada com TEA há menos de um ano ela é um doce de menina, não dá trabalho, a maior foficuldade é conversar com ela . Antes do seu diagnóstico eu não sabia nada sobre o autismo, estou lendo “tudo que encontro pela frente” sobre o tema e gostei muito da matéria, estou aprendendo a cada dia, mas, precisamos de ajuda.

    • Autismo em Dia disse:

      Que legal tê-lo por aqui Paulo, esperamos que nossos conteúdos possam ser um ponto de apoio para vocês. Um abraço!

  5. Paulo Pacheco disse:

    Tenho 72 anos e estou cuidando de uma neta com 22 anos, diagnosticada com TEA há menos de um ano ela é um doce de menina, não dá trabalho, a maior dificuldade é conversar com ela . Antes do seu diagnóstico eu não sabia nada sobre o autismo, estou lendo “tudo que encontro pela frente” sobre o tema e gostei muito da matéria, estou aprendendo a cada dia, mas, precisamos de ajuda.

  6. Lenita disse:

    Uma história como essa é libertadora, existem tantas famílias nesse mesma condição e lidam com isso como um “ tabu” não refletem e nem investigam e passam a vida esperando uma melhora onde nem entenderam e nem aceitaram uma condição. Nada vai mudar com o diagnóstico, só vamos encontrar as respostas e nos amar e respeitar ainda mais. Obrigada por compartilhar também história de vida.

    • Autismo em Dia disse:

      ? Olá, Lenita. Obrigada por comentar, as vezes o diagnóstico vem mesmo somente pra confirmar o que já sabíamos, e com ele, as pessoas podem receber as terapias adequadas, nesse quesito acredito que faça total diferença na vida das pessoas com TEA. Por isso é muito importante a informação e as pessoas continuarem indo em busca de respostas e de tratamento adequado. Continue acompanhando a gente, um abraço!?

  7. marlene silva disse:

    Também, na minha familia estamos com 5 pessoas com tea e autismo, todos da mesma família de irmãos e um primo, ainda estamos estudando qual sua origem, mais estamos procurando lidar com a situação e estudando e levando aos psicólogos.

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Marlene. Muito bom que estejam buscando a ajuda especializada. Continuem acompanhando a gente por aqui, um abraço!?

  8. Meire Eleni disse:

    Adorei. Mto amor envolvido, Descobertas e aprendizado.

  9. Jamys Lancaster Melo Da Costa disse:

    Obrigado por nos manter informado sobre esses relatos de famílias que descobriram o Autismo, quanto mais conhecimentos mas conseguimos entender as melhores formas de lhe dar com a situações de famílias.

  10. Adelia disse:

    tenho 2 sobrinhos autistas mesma mãe mesmo pai.

  11. Michelle disse:

    meu sobrinho é autista, é o primeiro caso com diagnóstico confirmado! o pai dele é meu irmão e temos outro sobrinho que também identificamos sinais de autismo, cujo pai dele é irmão do meu esposo! Eu tenho a curiosidade em saber se é possível identificar geneticamente se eu é meu esposo podemos vir a ter filhos com autismo também, uma vez que há casos em nossas famílias! Ter um filho com autismo, com toda certeza não seria um problema, assim como não é para as famílias que possuem crianças com TEA, mas com certeza nos deixaria mais atentos e conscientes, caso aconteça conosco!

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Michelle! O autismo frequentemente surge por origem genética, então existe a possibilidade. De qualquer forma, existem exames genéticos capazes de mapear melhor essas probabilidades. Para isso, é interessante buscar um médico geneticista.
      Um abraço.

  12. Marilia disse:

    olá me chamo Marilia, tenho 3 filhos ,eles tem algumas características de autismo, a minha mais velha vai passar com psicólogo, eu também tenho algumas dessas características, não sei me expressar, tenho toque, não entendo piadas, muitas coisas q podem ser sintomas .

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Marilia. Indicamos procurar um neurologista especializado em autismo para uma avaliação. O possível diagnóstico pode ser muito importante para vocês.
      Um abraço! 💙

  13. Sérgio Mecking Gonçalves da Silva disse:

    Porque a ocorrência de TEA, em filhos de militares da Marinha é muito mais elevada do que nas outras forças armadas? Teria alguma relação com a elevada incidência de depressão e consequências inerentes, entre essa população castrense? Há alguma pesquisa da maior incidência de alopécia na Marinha do q nas outras forças militares?

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