A psicóloga especialista em autismo que também é autista – conheça a história!


Psicóloga especialista em autismo

Postado por Autismo em Dia em 29/set/2023 - 10 Comentários

A roraimense Lívia Oliveira nunca poderia esperar que aquilo que ela escolheu como carreira em algum momento fosse ser algo tão íntrínseco à sua história pessoal. Ela, que é uma psicóloga especialista em autismo (CRP 20 05111), descobriu há pouquíssimo tempo que também é autista.

E se engana quem pensa que sua trajetória profissional tornou essa descoberta mais simples. Lívia sabia que tinha sinais a serem investigados, mas nunca cogitou o autodiagnóstico.

E, tendo descoberto tudo já adulta, foi como se uma grande verdade fosse revelada. Essa história incrível a gente te conta a seguir.

Índice

Como uma psicóloga especialista em autismo demorou tanto a descobrir que era autista?

Formada em psicologia há 15 anos, Lívia conta que seu interesse pelo autismo veio bem antes, quando era só pedagoga. Trabalhando na primeira área de formação, Lívia conta que via o autismo como algo misterioso. E isso, de fato, atiçava sua curiosidade.

“Quando eu era pedagoga, eu conheci uma criança autista. Eu achava muito interessante que não era de qualquer forma que eu poderia acessar o mundo dessa criança. Então eu comecei a estudar muito sobre isso”, conta ela, que depois fez psicologia e mais uma especialização em neurociência.

“Depois de uns 7 anos como psicóloga, comecei a perceber que só a parte da psicologia não ia me ajudar. Porque eu queria trabalhar com autistas, mas queria ir além da parte comportamental. Então, comecei a estudar a comunicação não verbal. Logo, comecei a desenvolver mecanismos para que as crianças aprendessem a falar, através do uso de imagens e sons. Isto porque os autistas aprendem por modelos”.

A descoberta do autismo

Neste período, Lívia conta que começou a ouvir de suas colegas de profissão que ela se parecia com os próprios pacientes. Ela chegou a ouvir das amigas que deveria fazer uns testes, mas deixou pra lá.

Pouco tempo depois, nasceu o sobrinho de Lívia, que ela conta que percebeu que o menino é autista quando ele ainda tinha pouco mais de um ano. O irmão de Lívia pensava que ela dizia isso só porque gostava demais do assunto e, aparentemente, só falava sobre isso. Porém, logo o diagnóstico foi confirmado e o sobrinho é um autista de nível 3 de suporte.

Já a mãe de Lívia dizia que o menino não era autista, e sim que ele tinha ‘puxado a tia’. E isso, claro, deixou Lívia com uma pulga atrás da orelha.

“Um dia eu perguntei para ela como eu era, então. Ela disse que eu era toda fresca, não gostava disso, não gostava daquilo. E enquanto ela contava, eu comecei a me emocionar, porque era tudo que eu via nos meus clientes.”

O encontro com outra psicóloga

Lívia conta que teve muita dificuldade em encontrar alguém que já tivesse experiência com autistas adultos. Até que conheceu uma psicóloga do outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, que também é autista.

“Na primeira vez que conversei com essa mulher, foi como se finalmente eu tivesse encontrado alguém que me entendia. Para falar a verdade, passei dois dias sorrindo. E ela me disse que, possivelmente, eu era uma autista com altas habilidades. Ela fez todos os testes e, hoje em dia, eu já sou laudada“, explica, enquanto mostra, para nós e cheia de orgulho, a carteirinha do diagnóstico presa, inclusive, em um cordão com girassóis.

O girassol, neste caso, é um símbolo universal para deficiências invisíveis.

Psicóloga especialista em autismo Livia oliveira

Fonte: arquivo pessoal – cedido por Lívia Oliveira

A nova vida de uma psicóloga especialista em autismo

Lívia faz uma análise de como ela ter tido o diagnóstico já adulta é consistentemente diferente quando é uma criança que recebe o laudo.

“Existe uma diferença entre o diagnóstico do infantil para o adulto. Quando uma mãe ou pai recebe o diagnóstico de uma criança é quase como se ele recebesse um diagnóstico de incapacidade da criança. Mas quando o autista adulto recebe o diagnóstico, para ele é uma libertação. Isto porque ele passou muito tempo da vida se sentindo inadequado, diferente ou que era estranho. Com o diagnóstico, as culpas de muitas coisas vão embora e você consegue se identificar dentro do espectro.

E hoje, trabalhando com o autismo e vendo que a demanda é alta, percebo que existem muito mais especialistas trabalhando apenas com o infantil. Mas e o adultos?”, explica Lívia, que tem buscado se especializar justamente em algo que fez tanta falta quando ela mais precisou.

A grande demanda por diagnósticos adultos

Lívia sempre atuou com autistas crianças em Boa Vista, capital de Roraima mas, atualmente, ela conta que faz muito mais atendimentos pela internet e que tem crescido a procura por diagnósticos de adultos. Quando questionada o porque de tantas pessoas, inclusive de outros estados, procurarem por ela, a resposta é simples.

“É porque não tem muitas outras pessoas fazendo isso. E não é que o autismo seja diferente, é que estamos falando de adultos que não foram trabalhados na infância. E aí o que temos que fazer? Ensinar esse adulto tudo que ele não aprendeu na infância”.

Lívia ainda explica que seus diagnósticos têm chegado à vista de médicos de vários estados e, por isso, tem recebido muitos contatos. No dia desta entrevista, Lívia explica que fez o primeiro atendimento às seis horas da manhã.

Enquanto isso, na vida pessoal…

Não foi só a vida profissional, como psicóloga especialista em autismo, que mudou depois do diagnóstico. Ela conta que, através disso, algumas coisas mudaram na imagem que ela tem de si.

“Hoje eu acho que me respeito mais. Isto porque antes eu me forçava a fazer coisas que eram apenas questões sociais. E eu não me culpo mais por determinadas situações, conta ela que tem, ainda, transtorno de ansiedade generalizada como uma das comorbidades.

No dia a dia, Lívia vem trabalhando dificuldades que, para outras pessoas, parecem coisas simples. Para exemplificar, é como se tudo que Lívia fizesse tivesse que ser uma linha reta, sem desvios. É por isso que, por exemplo, ela conta ter dificuldades em equilibrar tarefas comuns ao seu negócio como a parte administrativa, ou mesmo tarefas de casa.

Ela cita ainda uma grande dificuldade em viagens. No aeroporto, por exemplo, ela sempre solicita a ajuda das companhias aéreas para não perder o voo devido ao excesso de informações. Em uma de suas viagens, mesmo com a ajuda de uma empresa aérea, Lívia perdeu o voo de conexão por conta do tempo curto. Nisso, ela lembra de ter tido uma crise nervosa.

“Para minha sorte, tinha uma psiquiatra do meu lado que me perguntou se eu era autista. Eu só sabia acenar com a cabeça. Aí ela foi lá e resolveu as coisas no meu lugar. E esse é o tipo de coisa que acontece. Se ocorre algo que quebra a minha rotina, eu já me desorganizo.”

O uso do laudo na vida adulta

Uma reclamação comum de autistas adultos com grau 1 de suporte, ou seja, que de forma geral têm mais habilidades funcionais, é sobre a invisibilidade na sociedade.

Lívia conta que já foi questionada dos seus motivos de, já adulta, procurar diagnóstico e o que isso mudaria.

“Eu preciso usar mais o laudo oficialmente quando eu vou viajar. Mas as pessoas olham pra mim, essa mulherona bonita aqui, acham que eu não tenho nenhum tipo de problema. Aí tem gente que diz ‘ah, o que essa mulher tá fazendo aí?’. Ocorre muito também quando eu opto pela fila preferencial. Mas eu não discuto. Eu só mostro a minha carteira.”

Mas, de modo geral, Lívia se entende como uma mulher independente, mas não exclui a necessidade de suporte em algumas ocasiões. Por isso, ela já está de malas prontas para se mudar para Juiz de Fora, em Minas Gerais, cidade em que sua filha mora. Ela conta que pretende morar sozinha, mas quer estar preparada para quando precisar. E, junto, vai carregar os novos rumos de sua carreira como psicóloga especialista em autismo.

***

Certamente, a história da Lívia deve inspirar muitas pessoas a procurarem respostas sobre si. Lá no Instagram, ela ainda produz alguns conteúdos para dialogar com a comunidade TEA. 

E se você também quer contar a sua história e ser um(a) proTEAgonista, mande uma mensagem pelo nosso Instagram e aproveite também para seguir e ver toda semana novos conteúdos informativos.

Muito obrigado pela leitura e até a próxima! =)

 

 

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10 respostas para “A psicóloga especialista em autismo que também é autista – conheça a história!”

  1. Regiane Maria Menezes disse:

    Oi
    Por favor , entre em contato comigo. Os profissionais daqui fala que meu marido não é autista. E o pouco que estudei , tudo indica que ele é.
    Te a difícil nossa relação.
    Me ajude!
    Abraço!
    Regiane 25991951488
    Tem como fazer uma consulta on-line?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Regiane. Indicamos você fazer contato direto com a profissional do texto. Um abraço!

  2. Rafael Zatta disse:

    Gostaria de agendar uma consulta com a Dra para minha esposa, estamos em MG, temos uma filha autista e a mãe tem muitas características, como perderíamos agendar uma consulta online?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Rafael. Teria que fazer contato direto com ela através dos dados que estão no texto. 💙

  3. Lionete Fernandes disse:

    Achei muito interessante a história da Lívia. Sou estudante de psicologia, andei pensando muito sobre eu ter alguns traços do autismo, e me encorajei em procurar ajuda, p eu ter certeza.

    • Autismo em Dia disse:

      Oi Lionete,que bom que o texto foi útil e está indo atrás de ajuda. Estamos por aqui! 💙

  4. Leonivan Carvalho Silva disse:

    Estou aqui debulhada em lágrimas, porque nunca me vi tanto em uma pessoa como me vi na Dr. Lívia.
    Tenho 51 anos e ainda ñ tenho diagnóstico de autismo ( mas estou buscando). Nunca alguém me disse que eu poderia ser autista, até porque as pessoas do meu convívio sabem menos do que eu sobre o assunto.
    Sempre me senti estranha, diferente demais, só agora estou começando a entender o porquê.

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Leonivan. Por um lado, tirando as lágrimas, que bom que o texto a ajudou a clarear um pouco algumas coisas sobre si mesma. Busque uma avaliação com especialista para ter a resposta sobre seu diagnóstico. Venha nos contar, estaremos por aqui! Um abraço 💙

  5. Fábio Fernando Lopes disse:

    Meu nome é Fábio.
    moro em São Paulo capital, e gostaria de marcar uma consulta com a senhora, teria como?

    • Autismo em Dia disse:

      Olá, Fábio. O recomendado é fazer contato diretamente com ela pelas redes sociais dela. Um abraço 💙

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