Livros sobre autismo: obras imperdíveis de ficção e não ficção para entender o tema

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Postado por Autismo em Dia em 29/jul/2020 - 12 Comentários

A vida dos autistas tem sido cada vez mais incluída nas camadas sociais. Eles estão nas universidades, no mercado de trabalho, na mídia, na política, nas escolas e em vários outros lugares. Por isso, a nossa dica de hoje é uma lista de livros sobre o autismo recentes e interessantes.

Essas obras literárias, ajudam a trazer à tona diferentes realidades e pontos de vista. Para o autista, também é muito importante se ver representado nas artes. Quem nunca ficou feliz ao ver, seja num filme, numa peça de teatro, numa revista, uma personalidade que traduzisse seus sentimentos e sonhos mais íntimos?

Mas se você é daqueles que buscam obras mais técnicas e científicas, também temos dicas de grandes autores que vêm se atualizando e publicando o que há de mais correto e novo quando o assunto é autismo.

Então acompanhe com a gente essa lista imperdível de livros sobre autismo.

Para se divertir: livros sobre autismo na infância, na adolescência e na vida adulta

A literatura jovem-adulta, que atende ao público que vai dos 18 aos 30 anos, assim como a infantil, é uma das vertentes que mais tem crescido em representatividades. Ou seja, tem sido responsável por traduzir as maiores tendências comportamentais. Assim, no meio disso, tem crescido o interesse de muitos autores em retratar o autismo. Seja como for, é claro que não se pode utilizar o que está na ficção como um exemplo absoluto do que acontece na vida real. Entretanto, isso contribui muito para tirar os autistas da invisibilidade.

São livros que tratam de temas como talentos matemáticos, depressão, mercado de trabalho, isolamento, inadequação, entre outros assuntos. Confira a nossa lista:

Em algum lugar nas estrelas, de Clare Vanderpool

A autora norteamerica Clare Vanderpool é apaixonada pelas histórias do interior dos Estados Unidos. Neste livro, ela conta a história de um pré-adolescente chamado Jack Baker que no final da Segunda Guerra Mundial fica órfão de mãe, mas não recebe tanta atenção do pai, que é do exército. O rapaz, então, é enviado para um colégio interno militar na região do Maine.

Lá ele vive o auge de sua solidão. Mas só até conhecer um garoto enigmático chamado Early Auden. Early é um menino precoce, que passa seus dias em busca de desvendar todos os números do Pi (aparentemente, um número infinito). Por outro lado, Early sofre uma dificuldade enorme em se relacionar com os outros alunos e de lidar com seus sentimentos. Vive uma vida extremamente regrada, dentro dos seus próprios termos (por exemplo, existem os dias certos na semana para ouvir os discos que ele gosta).

Quando chegam as férias do final do ano, enquanto todos os alunos voltam para as suas casas, Jack e Early ficam na escola. Assim, os dois decidem fugir pelo rio Apalache numa aventura que, segundo Early, tem a ver com encontrar o último número de Pi e seguir um urso lendário.

Por que ler? O premiado livro traz à tona a síndrome de Savant, que é, eventualmente, traduzida como a síndrome da genialidade. Essa é uma síndrome que, ao contrário do que popularmente se acredita, atinge um número pequeno de autistas. E se você está se perguntando se o caso do livro de fato poderia acontecer, de fato é verdade. Na vida real, o britânico Daniel Tammet também ficou conhecido por decorar mais de 21 mil dígitos do número Pi. ¹

Em Algum Lugar Nas Estrelas, de Clare Vanderpool e tradução de Débora Isidoro. 288 páginas. Editora Darkside.

Eleanor Oliphant está muito bem, de Gail Honeyman

A personagem do também premiado livro da escocesa Gail Honeyman é uma mulher prestes a completar 30 anos, estabilizada no mercado de trabalho. Para ela, sair todos os dias e cumprir suas tarefas administrativas e depois voltar para casa é completamente ideal. Acontece que ela é extremamente sincera, até quando seria melhor não ser, tem pouco traquejo social e prefere passar os momentos de folga sozinha em casa, na companhia de uma planta e uma garrafa de vodka. Isso, infelizmente, faz com que frequentemente ela seja motivo de piada no ambiente corporativo.

Embora seja acostumada a não ter que lidar com pessoas mais que o necessário, sua vida muda quando uma inesperada amizade com um novo funcionário vira uma série de desventuras. Num dia comum, eles acabam salvando a vida de um senhor na rua e disso nasce uma estranha amizade. Eleanor terá de lidar com os próprios traumas e limitações para fazer com que esse repentino encontro de almas não seja em vão.

Por que ler? O livro traz uma rara abordagem do que é o autismo em adultos, mas sem se aproveitar de clichês. É, sobretudo, um relato que é tanto engraçado quanto dramático, focado questões do cotidiano pelos quais pessoas em geral – e não apenas autistas – precisam passar.

Eleanor Oliphant Está Muito Bem, de Gail Honeyman e tradução de Edmundo Barreiros. 332 páginas. Editora Fábrica 231.

A verdade segundo Ginny Moon, de Benjamin Ludwig

Se você está procurando livros sobre autismo na adolescência, por exemplo, acaba de chegar no Brasil “A Verdade Segundo Ginny Moon”, voltado ao público adolescente. Ginny Moon é uma garota amada por seus colegas de escola e também por seus pais adotivos, que estão totalmente conscientes de que a garota tem o transtorno. Todos vem fazendo de tudo para que Ginny se sinta incluída nas atividades.

Porém, talvez todo mundo esteja um pouco errado sobre o que de fato ela quer. Em segredo, ela descobriu, pela internet, quem é sua mãe biológica e está determinada a encontrar a mulher, afinal, isso é tudo que importa para ela. Dessa forma, na jornada para encontrar o que acredita ser, de fato, o seu lugar no mundo, Ginny estará disposta a se arriscar em situações perigosas.

Porque ler? Esse é um dos poucos livros sobre autismo que coloca o adolescente como protagonista. É uma história com que as pessoas dessa faixa etária podem se identificar e, quem sabe, a partir das ideias de Ginny Moon, encontrar um ponto em comum na hora de dialogar com os pais.

A Verdade Segundo Ginny Moon, de Benjamin Ludwig e tradução de Débora Isidoro. 336 páginas. Editora Verus.

A diferença invisível, de Mademoiselle Caroline e Julie Dachez

Diferente dos outros livros sobre autismo citados até aqui, este é de origem francesa e em formato de história em quadrinhos. A personagem principal é a Marguerite, uma jovem mulher de 27 anos que tem uma vida normal: namora, trabalha e sai com os amigos. Mas ela se sente totalmente deslocada em diversas situações e não entende o motivo.

Assim começa sua jornada para descobrir o que vem acontecendo desde que ela se entende por gente. Quando enfim recebe o diagnóstico de autismo, sua vida muda para melhor. Não porque ela fique feliz em ser autista, mas porque isso destrava, então, um novo momento na vida de autoconhecimento.

Porque ler? Além de ser bem curta, ideal para quem não tem tanta afinidade com histórias longas, traz a perspectiva de quem é tardiamente diagnosticado com autismo. Aquelas pessoas que passaram anos desconfiando de que havia algo diferente, mas jamais desconfiaram que podia ser o TEA. E se você acha que por ser uma história em quadrinhos essa é uma trama sem profundidade, te damos dois motivos extras. 1: a HQ tem prefácio de especialistas nas áreas de psicologia e psiquiatria. 2: o livro é baseado numa ideia de Fabienne Vaslet, que é mãe não de uma, mas duas crianças autistas. ²

A Diferença Invisível, de Mademoiselle Caroline e Julie Dachez, com tradução de Renata Silveira. 192 páginas. Editora Nemo.

Outros livros sobre autismo para conhecer:

• Quando não há palavras, de Julie Buxbaum – sobre uma menina popular que, depois de perder o pai, encontra num garoto autista uma amizade do tipo que ninguém mais consegue oferecer.
• Rainhas Geek, de Jen Wilde – conta o que aconteceu durante uma convenção para fãs de cultura pop na vida de três amigas. Uma delas é autista e está prestes a reavaliar sua obsessão por rotina e estabilidade quando surge uma oportunidade incrível.
• O menino que desenhava monstros, de Keith Donohue – um menino de 10 anos, com Asperger, que começa acreditar na existência de monstros depois de um trauma. Quando algumas evidências de que talvez o garoto não esteja mentindo aparecem, a vida dos pais dele vira de cabeça para baixo.
• Passarinha, de Kathryn Erskine – Uma menina autista cria o hiperfoco em dicionários após uma tragédia atingir a família. Isso é o ponto de partida para a garota ajudar o pai a se reconstruir.

Livros sobre autismo: técnicos, históricos e científicos

As nossas dicas de livros sobre autismo agora vão para aqueles que preferem livros mais técnicos, que abordem os assuntos do ponto de vista analítico e com base em ciência, história e muita pesquisa. São livros que tratam desde questões históricas sobre o autismo até pesquisas robustas feitas por especialistas.

Confira:

Não espere, aja logo, de Paiva Junior

Esse é um dos livros mais buscados por mães e pais de crianças autistas. Escrito pelo jornalista Francisco Paiva Junior (editor-chefe da Revista Autismo), o livro foi feito a partir da observação do autor do que aconteceu na vida de seu filho desde o diagnóstico de autismo.

É um livro que, segundo o autor, busca incentivar os pais a suspeitarem do autismo a partir do primeiro sinal. Assim como procurar ajuda médica para confirmar – ou não – o diagnóstico. O texto é feito de pai para pai [ou mãe], livre de termos técnicos demais ou exageradamente científico.

Por que ler? Porque é um relato puro e simples dos primeiros sinais do autismo em crianças, sem deixar de lado a questão emocional da ligação familiar. Além disso, O livro tem a chancela do neuropediatra José Salomão Schwartzman e do neurocientista internacional Alysson Muotri. Ambos aprovaram o texto de Paiva Junior e escreveram o prefácio e a contracapa da obra.

Paiva Junior já colaborou com alguns textos aqui no blog Autismo em Dia. Confira.

Não Espere, Aja Logo, de Paiva Junior. 136 páginas. Editora M. Books.

Anjo Desgarrado, de Denise Bondan

A poeta gaúcha Denise Bondan teve um filho autista, o Leonardo. O rapaz tinha um grau severo e, por conta do seu comprometimento intelectual, sempre dependeu da mãe para as tarefas mais simples do cotidiano. No livro, Denise conta histórias emocionantes e engraçadas que passou ao lado do filho.

Motivada por histórias que ainda não tinham sido contadas no primeiro livro, Denise deu continuidade ao relato em “Anjo Desgarrado: memórias da mãe de um autista”. Ambos os livros não poupam o leitor dos momentos dramáticos, mas certamente também presenteia com histórias divertidas vividas em família pela autora e o rapaz.

Por que ler? Anjo desgarrado é um livro intenso, belo e visceral. Como se trata de uma história real, o leitor conhece o autismo severo de uma perspectiva íntima e realista, que só uma família de um autista pouco funcional poderia narrar. A obra também celebra as pequenas conquistas do dia a dia e nos convida a refletir sobre gratidão e o valor das coisas simples. Apesar de tratar de um tema delicado, o que pode arrancar algumas lágrimas, a leitura é leve e divertida, e por isso também garante boas gargalhadas.

Anjo Desgarrado – Bastidores de uma vida abençoada, de Denise Bondan. 256 páginas. Editora Empório do Livro.

Anjo Desgarrado – Memórias da mãe de um autista, de Denise Bondan. 200 páginas. Editora Litteris.

As crianças de Asperger, Edith Sheffer

Um dos livros mais polêmicos dessa lista, “As crianças de Asperger”, da historiadora Edith Sheffer, se debruça então sobre o que acontecia com as crianças autistas durante o regime nazista. Na época, os médicos Hans Asperger – de onde se originou o termo ‘asperger’, que entrou em desuso – e Leo Kanner faziam as primeiras pesquisas no mundo sobre crianças com déficits de interação social.

O grande problema era que essas crianças estavam ameaçadas pelas ideias do nazismo, que pregavam a pureza da raça. E aquelas que eram rotuladas como intratáveis foram enviadas para os centros de extermínio de crianças (spiegelgrund). Contudo, o mesmo médico que acabou entrando para a história ao definir um dos aspectos do transtorno do espectro do autismo em escala mundial, também foi cúmplice da morte de milhares de crianças.

Vale lembrar que o termo “Asperger” também foi retirado da última edição do DSM-5 –Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Por que ler? Esta pesquisa histórica é rica em detalhes e tem o objetivo de discutir, embora sem tom acusatório, as questões sociais e políticas que podem acabar motivando os diagnósticos (ou a falta deles). Primordialmente, é uma obra que se apresenta totalmente a favor da neurodiversidade em todos os tipos de comunidade.

As Crianças de Asperger, de Edith Scheffer e tradução de Alessandra Bonrruquer. 322 páginas. Editora Record.

Mundo singular: entenda o autismo, de Ana Beatriz Silva, Mayra Gaiato e Leandro Reveles

Este livro parte de estudos científicos para trazer explicação de diversos conceitos relacionados ao autismo. É um dos livros sobre autismo mais procurados, já que uma das autoras é a psicóloga especializada em autismo infantil Mayra Gaiato, apresentadora de um popular canal no YouTube sobre o assunto.

Entre os assuntos abordados estão: visão de mundo, os desafios vividos, tratamentos, vida escolar, vida familiar, as diferentes variações da condição autista, entre outros. Além disso, o livro conta casos reais que podem inspirar muitas famílias a ter um novo olhar sobre o TEA.

Porque ler? Além de Mayra Gaiato e Leandro Reveles, o livro é de coautoria de Ana Beatriz Barbosa Silva, autora de uma série de livros sobre problemas da mente que vendeu mais de 1 milhão de exemplares no Brasil. Os livros dessa série incluem “Mentes Perigosas”, “Mentes Ansiosas”, “Mentes Inquietas”, entre outros.

Mundo Singular: Entenda o Autismo, vários autores. 288 páginas. Editora Fontanar.

Outros livros de não ficção sobre autismo para conhecer:

• Outra Sintonia: a história do autismo, de John Donovan e Caren Zucker – uma vasta pesquisa sobre tudo que envolveu o autismo desde o primeiro caso conhecido, em 1930.
• O Cérebro Autista: pensando através do espectro, de Temple Grandin e Richard Panek – para conhecer as maiores descobertas científicas sobre o transtorno do espectro autista, através da voz de dois dos maiores pesquisadores do assunto.
• Autismo: compreender e agir em família, de Sally Rogers, Geraldine Dawson e Laurie Vismara – é, primordialmente, um livro sobre o papel dos pais no desenvolvimento da criança autista.
• O Reizinho Autista, de Mayra Gaiato e Gustavo Teixeira – um guia para compreender e lidar com os comportamentos mais difíceis de um autista.

Conhecer o autismo em suas muitas formas é, definitivamente, muito importante. Assim, as nossas dicas vão levar até você muito conhecimento e diversão. Com certeza existe uma indicação perfeita para você ou para presentear alguém.

Então, se você leu algum livro que a gente não listou, aproveita e comenta aqui em baixo a sua dica. Boa leitura e até a próxima!

 

Referências bibliográficas e a data de acesso

1. UFRGS – 12/07/2020

2. Ouest France – 12/07/2020